quinta-feira, maio 12, 2005

08/05/05 (de noite)

08/05/05 (de noite) sinto falta do meu girassol. Ele nunca foi meu, mas eu assim o considerava. Ele foi relâmpago... rápido... quando eu vi, já era... ele iluminou minha vida de forma tão intensa e tão confusa e passou tão rapidamente, tão rapidamente que... ele ainda faz minha respiração ficar suspensa. Ele trouxe consigo a tempestade. Tudo está encharcado aqui. O céu não está mais iluminado. O céu parece desabar sobre mim. E eu estou sozinha e não tenho pra onde ir porque onde quer que eu vá, carrego a lembrança dele comigo. Meu girassol... meu girassol... revolveu meus dias e meu mundo de tal forma que ainda estou sem norte, sem rumo, sem prumo, sem chão. Não sobrou nada. Nada. Acho que não sobrou mais amor aqui pra ninguém. Estou árida, desértica. A chuva me inunda, mas aqui dentro, nada. Ele deveria ter durado mais do que as palavras, mais do que o tempo, mais do que os ossos, mais do que a língua a carne as estrelas e a areia. Mas acabou. Acabou comigo. Literalmente. Deu um tiro na minha nuca. Meu girassol deve andar por aí com pétalas sujas do meu sangue, mas ele nunca se dará conta. Ele acha que é puro e limpo como a água da chuva caindo do céu. Eu sei que meu sangue está ali, escarlate como a mentira de que ficaríamos juntos até o fim do fim. E eu quem mentiu, não foi?! No fim, sou só eu. Só eu sozinha. No fim, só eu menti?! Como as pessoas podem levar suas vidas adiante assim, dessa forma? Sujas de sangue, maculadas pelas mentiras que contaram na maior desfaçatez? Ah, meu girassol, eu teria sido sua até o fim do fim, mas você nunca me deu a oportunidade de mostrar isso. E agora o que eu faço com isso tudo que me explode a cabeça e queima a língua e os dedos e me revolve o coração? Não há nome pra isso. Não há nada. Acho que nunca te conheci. Mas sinto sua falta. Sinto falta de me sentir assim tão feliz e iluminada, como uma pétala, como um jardim. Você era meu girassol e eu corria ao seu redor, você era meu. Eu quis que você fosse meu, mas você nunca me conheceu e nunca se mostrou pra mim. E agora você anda por aí exibindo o meu sangue como um colar de pérolas negras. E eu fico aqui submersa pelas lembranças em sépia. Eu realmente te amei. Agora é o vazio me incomodando e a falta de nomes pra dar ao que sinto que é tão concreto quanto a náusea, só que mais forte. Estou tão terrivelmente anestesiada. E é como se eu caísse num abismo, um precipício que nunca finda. E não há ninguém pra me estender a mão. A queda A náusea A chuva O tempo que não pára A chuva que não pára A queda que não pára Será que morro logo? Será que ainda espero um pouco? É como estar com um pára-quedas sem cordão que eu pus já sabendo disso. Não há culpados. Eu sou culpada. Eu sou culpada pela minha vida. Eu quis nascer. Eu quis me apaixonar. Eu quis ter um girassol. Mea culpa, mea maxima culpa. I’m so fucked up... É bem estranho olhar pra frente e saber que não haverá ninguém lá. E por que haveria? Sinto frio e são só 21 h num domingo de maio...
Essa é uma daquelas noites em que eu realmente gostaria de me cortar. Queria cortar os pulsos não, só fazer uns cortes nos braços e nas pernas, sei lá.