cineminha com licença
Acabei de voltar do cinema. Fui ver “os infiltrados”. Gostei pra caralho do filme, mas me senti extremamente incomodada com ele. O filme é bem violento e todo mundo – menos o cara mais antipático – morre. Personagens pra lá de machistas com suas piadinhas sexistas. Mas o filme é bom. E a companhia foi ótima: o menino do beijo-com-licença. Eu que chamei. Por que, meus senhores? Porque eu quis. Porque eu pensei que seria bom manter um vínculo com ele. Porque ele é divertido mesmo depois de um dia cansativo no trabalho. E ele aceitou. Não, dessa vez não teve beijo nem com e nem sem licença, meus senhores. A gente só conversou e viu o filme. Sinceramente, eu teria ficado com ele direito, quer dizer, mais direito do que naquele fatídico dia, mas ele não deu nenhuma indicação e eu, sinceramente, não ando animada pra fazer grandes esforços não, aliás, não tô querendo fazer nem os pequenos esforços. Convidá-lo pra ir ao cinema foi só uma coisa pra gente manter contato mesmo. Eu não tinha intenção de agarrá-lo ou coisa assim, mas me deixaria ter sido agarrada. E ele adora cinema. Eu também. Então por que não ter mais um amigo pra ir ao cinema já que quase sempre vou sozinha mesmo? E eu gosto de companhias masculinas. Embora seja quase sempre pra eu me sentir como “quase um cara”. Engraçado isso, mas eu não me sinto mais feminina quando estou com meus amigos, sinto-me, na verdade, quase um cara como eles. Talvez seja por total falta de tensão sexual da parte deles pra mim. Talvez seja o contrário também. Como poderia eu ser amiga de um cara que me fizesse subir pelas paredes de tesão?! Claro que acho meus amigos lindos e fofos e blá-blá-blá, mas é só a título de constatação estética, como eu faço com os grandes felinos, por exemplo, como tigres que acho lindos mas não quero ter um em casa e nem sequer passar a mão. Será que eu sou mesmo é fora de órbita?
Cá estou eu oscilando novamente, girando em torno do meu eixo, pressupondo-se que tenho um...
Cá estou eu com meus botões...
E tudo parece menos alegre agora do que há um dia atrás.
E a sensação que me assalta é de que eu sou a última das mulheres mesmo porque eu não sou muito como as mulheres costumam ser.
Não sei exatamente, além das questões fisiológicas óbvias, o que me faz ser mulher, ou melhor, o que me faz não ser uma mulher como as outras...
Estou ouvindo um cd que o meu amigo-do-trabalho-que-grava-cd’s-pra-mim gravou. É o volume III do songbook do Dorival Caymmi. Eu já ouvi os dois primeiros dias atrás e, no ritmo em que meu sono anda, ouvirei os dois últimos ainda esta noite. Mas não era isso o que eu queria ouvir. Queria ouvir outra coisa, mas me deixaria muito triste: Maysa. Faz tempo que não escuto nenhuma música da Maysa porque ainda não me sinto em condições suficientemente boas pra isso.
Sabe, meus senhores, por que eu chamei o com-licença pra ir ao cinema? Porque eu me identifico com ele. Eu vi nele o meu reflexo. Ele, como eu, só se interessa por quem não dá a mínima pra ele. Por isso acho que devemos ser amigos, porque a gente se parece e talvez possamos ser bons em dar colinho um pra o outro, em dar tapinhas nas costas e dizer um pra o outro que o problema é do mundo, que os outros é que estão errados. Porque eu, meus senhores, afasto os caras que por acaso gostem de mim. Eu fiz isso com todos os três. Não, meus senhores, nessa conta não entra o ex-número-dois porque ele nunca gostou de mim de verdade e ele se afastou voluntariamente de mim deixando um rastro de destruição. Estou falando dos outros dois que foram meus namorados e do que mandou as rosas e nunca teve uma segunda chance por minha parte. Esse então, nossa!, esse foi campeão de afastamentos por minha parte. Não sei como ele conseguiu me suportar por tanto tempo. Não sei mesmo. Nem por quê e nem pra quê. E acho ruim pensar nele agora porque, enfim, já era. Não posso forçar nem ele e nem a mim mesma a tentar uma coisa que por minha causa está fadada ao fracasso total. Enquanto eu não me resolver, não poderei sequer cogitar a possibilidade de encontrar um outro cara que goste de mim. Não posso. Só posso continuar tropeçando naqueles que, como o com-licença, serão bons amigos e isso na melhor das hipóteses.
Tenho problemas sérios. Muitos deles. Em doses cavalares.
Ando obcecada com meus tornozelos. Como são finos! Tirando as manequins de uma loja no Brasília Shopping, nunca vi tornozelos finos como os meus. Isso me deixa triste. Não é só porque eles são finos, mas porque são tão desproporcionais ao resto do meu corpo, bem como o são minhas pernas e – meu maior trauma – meus pés enorrrrrmes. Eu já quis amputá-los, separá-los do meu corpo. Não sei porque a genética me sacaneou tanto... Ninguém na família tem esses malditos tornozelos finíssimos acompanhados de pés tão grandes.
Acho que nunca mais ficarei nua na frente de ninguém. Ninguém merece tal visão. Ninguém!
“...é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar...”
De que vale se gostar de alguém?
Pra que chorar assim tão sem motivo? Ou pior, por que chorar por algo que não me cabe nas mãos? Deveria haver algum remédio que adormecesse a Dor e o Desejo. Seria um remédio pra se tomar a vida inteira, mas e daí? A Dor também vai me durar a vida inteira até que tudo em mim fique dormente.
Whatever.
Desliguei o som.
E vou dormir.