quarta-feira, agosto 24, 2005

para o menino dentro do espelho

sabe aquela dinâmica em que a gente se deixa cair e a pessoa que está atrás de nós nos segura? pois é, me lembrei dela lendo seu texto. odeio as dinâmicas de modo geral, mas essa é simplesmente uma afronta!!! desde quando, na vida real, tem alguém pra segurar quem se deixa cair só pra testar se esse alguém vai segurar? eu já deixei uma amiga cair numa brincadeirinha dessa. eu só aviso uma vez "não vou segurar não", mas acho que esse é o preço da sinceridade: ninguém nunca acredita. paradoxos insolúveis... infelizmente, sou muito boa nisso...
não gostei da foto. talvez porque me seja extremamente recorrente. talvez porque eu simplesmente odeie sapatos sociais. por que as pessoas não pulam descalças dos prédios? os homens costumam se jogar mais de prédios que mulheres. mulheres costumam apelar pra overdose de barbitúricos.
não se jogue ainda, dê um passo pra trás. preciso saber a cor dos seus cabelos quando você caminha embebido na velocidade do azul do céu de agosto. preciso ver isso um dia, mas não numa foto de jornal sensacionalista.
será que esse é um motivo válido?
existe qualquer motivo válido pra enfileirar um dia após o outro neste mundo?

me lembrei de tantas coisas hoje andando no ônibus que pego pra ir da BCE à L2... tantos fragmentos de vida, da minha vida e de gente que só vi de relance, como o motorista da lotação - aquele del rey caindo aos pedaços - que ficou todo o percurso inutilmente tentando pôr seu retrovisor quebrado no lugar certo; as tardes nas praias catarinenses que de tão claras dóem; o perfume de uma garota num banco da frente me dando náuseas de tão vulgar; os olhos da minha afilhada; as páginas enrugadas do Lavoura Arcaica; meus amigos rindo e preenchendo minha casa pequena de alegrias; o gosto de sorvete de pistache; as noites em posição fetal mal dormidas e mal vividas; palavrão recém aprendido na adolescência; ônibus lotado de manhã bem cedinho; feijoada com pagode ao vivo. tanta coisa tanta coisa tanta coisa que senti meu peito explodindo porque parece que eu já vivi muita coisa, mas a verdade é que isso é um nada no mundo, um nadinha no que está pra vir, especialmente se esse por vir vier nos braços da Inexorável amanhã.
é tanta coisa que eu preciso esquecer e não esqueço... e tanta coisa que eu queria lembrar e me foge... não dá pra me dar um meio termo não? não, meus senhores, mais uma coisa pra culpar a loteria da genética...