domingo, agosto 28, 2005

vinte e oito de agosto

Num determinado momento de um determinado sonho desta noite, minha mãe me colocava no colo e dizia "minha filha, minha filhinha querida" e então o sonho prosseguia. Até no sonho isso pareceu tão irreal, tão falso... É, acordei pensando nisso e estou ruminando isso até agora. É que é muito difícil lidar com rejeições, com essas de natureza materna, pior ainda. Nunca assimilei direito o fato de ter tido uma progenitora, uma mulher que me pariu e proveu subsistência, mas nunca foi minha mãe no sentido de ser amorosa e superprotetora como eu acho que as mães deveriam ser. A imagem mental que tenho do que deveria ser a maternidade é negativa: construiu-se a partir da minha vivência com minha mãe, não por associação a ela e suas qualidades, mas justamente por negação daquilo que ela foi, que ainda é. Noutras palavras, a idéia de maternidade que eu tenho contrapõe-se com a minha vivência junto à minha mãe, que nunca foi amorosa e nem tampouco superprotetora, mas, ao contrário, foi autoritária, injusta, negligente e cruel. Minha mãe não me educou bem. Felizmente essas cosias não são irreversíveis... nada que o convívio com outras pessoas, pessoas boas, não possa curar... eu espero.
Mas ainda me incomoda muito o fato de sentir necessidade desse tipo específico de afeto, o maternal. E eu vi Dark Water e fiquei me identificando com a personagem que ficava tendo os flashbacks com a mãe doidona. Sabe, quando se é criança, é como acontece com cachorros, por exemplo, você bate neles e eles não te mordem, eles ganem e olham pra você pedindo o seu carinho, pedindo pela sua mão fazendo festinha atrás da orelha. Eu era assim quando criança também, por isso hoje eu mordo sem motivos aparentes. Difícil admitir que essas pendências talvez não sejam consertadas nunca. Mas a vida não pode parar por isso. A vida prossegue.
Eu prossigo, mesmo sem saber mesmo por quê.
Estava pensando que talvez se alguém me afirmasse que a vida é só isso aqui mesmo, o que tem sido desde sempre pra mim, talvez eu conseguisse relaxar mais, talvez parasse de sentir tanta angústia. Mas o foda é que estou sempre pressentindo reviravoltas, tragédias, catástrofes, ou esperando pelo Bem Absoluto, pelas respostas a todas as perguntas: a Verdade, pelo Amor, pela Felicidade. E não sei onde fica a porra do meu botão stop. Queria parar de esperar pelas coisas, pelas boas, por menores que sejam, e pelas más, por maiores e mais frequentes que sejam. Mas como?
Não sei.
Sei que, apesar dos pesares, apesar de tudo, hoje eu não estou me sentindo triste. Não que eu esteja soltando fogos de artifício ou coisa assim, mas estou bem. Quer dizer, estou tristinha porque o Ferrero Rocher acabou, mas acho que sobreviverei a isso... Acho que terei que me contentar só com o sorvete de banana caramelizada.
E o que eu espero dessa vida agora? Que ela me seja tranquila, mas não demais, só o suficiente pra que eu não me esqueça quem sou e de onde vim. E que permita que meus domingos sejam assim, cheios de preguiça, cheios de música e com um cineminha no final da tarde.
Não vou mentir dizendo que não sinto falta de afeto de outras naturezas, menos fraternas e mais mundanos, digamos, mas isso é o tipo da coisa que não pode ser comprado no supermercado perto aqui de casa, então... Então é o sorvete, o chocolate e o cinema.