quarta-feira, outubro 19, 2005

eu penso em ir embora todos os dias, mas como me separar de mim?
como deixar pra trás tudo o que tão intensamente me desagrada?
como?
então fico
inteira e aos pedaços
sem querer olhar pra trás
com medo de olhar pra frente
permaneço aqui e espero por algo bom no fim do dia, mas nem sempre tenho nada de bom
às vezes espero e espero e espero e espero e, quando me canso, acabo indo ao cinema...
talvez eu vá ao cinema hoje
eu e o resto de mim
eu e o que não tem nome
eu e a fome do que não pode ser nem nunca será
eu sozinha.

espero pelo pô-do-sol para sair
maldito horário de verão
maldito seja!
atrasa minha saída
antecipa o fim dos meus sonhos sofríveis
maldito seja!
espero então o pôr-do-sol
já passa das 19h e ainda não é noite
como alguém pode achar que isso é bom?
bom pra quê?
bom pra quem?
não importa
eu não importo
o que é uma verônica diante do Estado?
NADA
NADA
NADA
esperarei, pois que o céu do dia perca esse azul em favor do negro da noite
e sairei eu também para onde minhas obrigações me enviam
e caminharei sozinha
assim como caminham minhas amigas e meus amigos
e eu prefiro acreditar que é pura ingenuidade achar que alguém que tem amigos não está só
tal otimismo não pode ser outra coisa senão pura ingenuidade
não pode ser outra coisa
pois bem, meu senhores, eu tenho amigas e amigos e sei-me só
não o tempo inteiro
e nem de forma tão opressora ou deprimente todo o tempo
mas, não se iludam: ninguém está livre da solidão, não importa o número de pessoas ao seu redor, ou, tanto pior, às vezes justamente pelo número de pessoas ao seu redor a solidão é maior e mais avassaladora
mas agora eu espero apenas pelo véu da noite
e me calo









*Thaíse: não uso licenças poéticas, o erro é o erro mesmo. é entediante retocar o que deveria simplesmente pular pelos meus dedos pra fora de mim.