chega de saudade
Não gosto de sentir saudade
Não quero sentir
O problema da falta é que estou acostumada com ela
Meu corpo está acostumado a querer e não ter
Meu espírito está acostumado a sofrer
O surpreendente, a novidade, é ser feliz, estar bem
A Dor, essa eu conheço desde desde
Conheço e não gosto dela
Por que eu, na posse das minhas faculdades mentais, preferiria sofrer, escolheria sofrer, tendo a possibilidade concreta e palpável de ficar tranqüila, bem, feliz e contente???
Ele brinca de me machucar
Está me despetalando aos poucos
Depois talvez não me reconheça
Eu, nua de minhas pétalas, nua de mim, quem seria?
A distância só me estimula ao esquecimento e ao desprendimento, nada mais
O amor que eu sinto pelo meu irmão ou pelos meus amigos no exterior, há quem há tempos não vejo, não muda. O amor fraterno não muda com esses contratempos.
Achei que era chegada a hora de deixar desabrochar o Amor que tenho dentro de mim. Como sempre, estou enganada. Não quero sofrer por escolha própria, nem fechar os olhos pra achar que serei pega de surpresa quando escuto os passos da Tristeza em alto e bom som se aproximando de mim. Quero imaginar que posso amar livremente alguém que quer ser amado por inteiro, com toda a intensidade.
Quero mergulhar de roupa e tudo no mar, não numa miragem no deserto.
Não quero ter que recear, embora eu saiba que ninguém nunca poderá me dar garantias burocráticas de sentimentos porque sentimentos não são materialmente quantificáveis.
Mas como é que eu vou pular tendo a dúvida hedionda de que talvez serei cuspida de volta sem a menor cerimônia?
Meus senhores, o caso é simples: eu quero comprometimento. Quero alguém que eu sinta que posso contar porque eu preciso sentir que tenho algumas certezas. Não quero ter que sentir saudade maior do que a que eu já sinto, forjando situações. Não quero forjar nada. Quero poder deixar fluir enquanto está acontecendo algo porque se eu criar represas agora, talvez a água não saiba mais ser rio quando se soltar.
Achei que meu grande desafio fosse conseguir ter um relacionamento com alguém que eu realmente gosto e que acho que vale a pena. Achei que esse era o grande desafio... construir algo, construir tudo. Mas o Belo e o Bom parecem sempre me escapar por entre os dedos...
Talvez eu realmente tenha sido escolhida pra ser mais uma criaturinha ordinária, sem nada de realmente maravilhoso na vida... sou só mais um número nas estatísticas... Eu sou um inseto o frio nos pés a barriga roncando a lágrima engolida à força um gemido que ninguém escuta a queimadura de cigarro o leite azedo e o pão seco e duro Eu sou a farsa a faca cega cortando tendões a noite sem lua o cheiro dos velhos o vento o medo o não.
O problema, meus senhores, é que a Dor eu já conheço e com Ela já estou acostumada...
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