sábado, setembro 03, 2005

trilha sonora

Hoje eu olhei nos olhos do Menino Dentro do Espelho. Ele tem olhos lindos de não sei que cor. Olhos que não me refletem. Olhos de menino que olha e vê. Vê. Não faço idéia do que viu, mas me olhava.
É sempre difícil olhar as pessoas nos olhos, falar com elas olhando nos olhos. Acho que por isso não gosto de conversar com as pessoas nos ônibus e/ou filas, mas gosto de conversar pela internet...
Fiquei com vontade de apertar as bochechas dele, o Menino das mãos pequenas como as de um menino. O Menino dos olhos expressivos cor de tanta coisa.
Meus olhos são castanhos.
Às vezes me sinto como uma pintura do Magritte: c’est n’est pas Verônica.
Gostei muito de ter conversado com o Menino, apesar dos olhos nos olhos que me deixa nervosa. Eu precisava de uma conversa assim, de horas. Precisava ouvir e falar sobre coisas bobas e sobre coisas pessoais, leves, bonitas, tristes, doloridas. É sempre bom ouvir um pouco da vida das pessoas. Não sei que tipo de mecanismos nos movem às vezes, mas é bom que sempre haja algo de inexplicável nos bastidores da vida, do mundo.

Menininho, quem vive a vida com o coração está sempre tão mais vulnerável.


Nessa manhã eu falei muito, na outra, pouco, mas é como eu te disse, sou péssima com medidas, com quantidade. Quanto mais eu persigo o bom senso e o meio termo, mais sou pêndulo oscilando entre o excesso e a carência...
Sabe, fiquei pensando no que você disse sobre eu não parecer tão solitária... O problema da Solidão é que ela nos acompanha sempre. E eu costumo preferir ficar a sós com ela de uma vez. É como eu disse, nada pior do que estar cercada de gente e sentir-se terrivelmente só. Às vezes isso é mais intenso, às vezes mais sutil. Mas a Solidão anda comigo aonde quer que eu vá. Nem sempre isso é um problema porque há momentos em que a minha solidão dialoga com a solidão dos outros. Talvez isso seja como na sua Teoria da Bolha. Mas há alguns momentos, faíscas, um centésimo de segundo, em que você abraça alguém e aí não está mais só. Eu sinto isso às vezes. É raro, mas acontece. Algumas pessoas têm presenças tão intensas que a minha solidão é ofuscada. É uma sensação estranha que simplesmente me toma de assalto, me surpreende. Não dá pra pôr em palavras.
Frase que o Menino já conhece: “melhor deixar isso de lado, melhor não mexer com isso não”.
A carreira de loser me deixou estática. Nenhum passo em qualquer direção.
O que me inspira? O que me move? Quase nada. Antes eu sonhava com mundos diferentes desse, agora tenho pesadelos com meu trabalho... Antes eu acreditava em amores imortais, agora olho a vida de soslaio. E agora eu me sento e espero pacientemente que o Destino faça as escolhas por mim. Cansei de ter iniciativas e dar com a cara na parede. Chega uma hora em que a gente cansa, sabe? Por isso eu estou simplificando minha vida: agora eu confio no que pode ser comprado: sorvete, chocolate e entradas pra o cinema. Amor é necessário, mas quanto? Qual é o preço que se paga por ele, afinal de contas... Infelizmente não tenho mais limite e nem crédito e Amor é o tipo da coisa que nem meu seguro e nem meu convênio médico cobrem, assim como quaisquero outras lesões auto-infligidas. Aliás, Amor deveria entrar na cobertura de todo seguro e de qualquer plano de saúde.
Enfim... Obrigada pelas horas.
Ah, não sei se você, Menino, conhece e/ou gosta, mas eu estou ouvindo The Sundays. Tem também Cocteau Twins que é fofíssimo e Cranes. São bandas com meninas nos vocais. E as musiquinhas parecem uma trilha sonora de sonho. A música consegue ser tão forte...

*Egon Schiele - Girl and Death (self portrait with Walli) 1915