quinta-feira, setembro 01, 2005

primeiro de setembro

Pingo pingo pingo.
O sangue vermelho no chão.
O sangue vermelho na pele.
O sangue vermelho.
Meu nariz sangrou duas vezes hoje.
Na segunda vez o sangue espirrou pra longe.
Não gosto do gosto do sangue fazendo seu percurso garganta abaixo.
Não gosto do sangue.
Gosto do vermelho que sai diferente em cada parte do corpo.
O sangue do nariz é um vermelho intenso, mas ralo.
Não gosto de ver o meu sangue derramado.

...

Eu sei agora o que quero da vida: cafuné. Descobri enquanto era afagada desajeitadamente na kingdom hoje de tarde. Eu estava com tanto sono... E o menino afagou meu cabelo azul-esverdeado enquanto lia o final dos X-men em um universo qualquer que de nada me interessa. Então eu tive essa iluminação: é isso! é isso o que eu quero da vida: cafuné!!! Mas não exatamente aquele cafuné dado sem motivos, quase mecânico, não, não, meus senhores, eu quero um cafuné que seja só meu, feito exclusivamente pra mim, com o motivo singelo e preciso de fazer carinho não nos meus cabelos desgrenhados mas – preparem-se pois isto soará ultramegasuperhiper piegas – na minha alma, ou o que a valha, já que ainda não decidi se possuo ou não tal artefato ideológico. Enfim, eu quero alguém que me ponha no colo, e que por me amar, me faça cafuné sem cerimônias, sem embaraço, com todos os sentimentos do mundo, sem dizer nada. Eu já os avisei, meus senhores, que eu sempre quero muitas coisas.

...

Pois bem, meu senhores, acho que coisas acontecem no mundo pra dentro do espelho pois o menino de lá parece um tanto quanto incomodado comigo. Por quê? Oras, sei lá! Quem entende os homens?! Só sei que ele tem sido lacônico. Que se há de fazer?
Deve ser culpa minha. Eu nunca fui muito boa com semi-conhecidos. Firmar laços de amizade com o imaterial nunca foi meu forte, tirando minha amiguinha invisível da infância. Eu só sei lidar com o concreto, com o palpável. O resto é resto, incerto e entediante. E eu sou isso mesmo: constante na inconstância, tentando evitar a fadiga e o câncer de pele. Me preocupando com a possibilidade de um meteoro tirar a Terra de seu eixo, mas sem prestar muita atenção ao velho sujo deitado na rodoviária.

...

Eu não olho nos olhos de mendigos, e nem das pessoas que se sentam ao meu lado nos ônibus. Preferiria que elas simplesmente não estivessem ali. Mentir pra quê? Eu não gosto de mendigos. Também não gosto de hippies. Preferiria que algo acontecesse pra que eles deixassem de ser moradores de rua. Não, nada de extermínio, tenho horror a violência!, eu só gostaria que essas pessoas pudessem ter oportunidades pra mudar e sair dessa vida da rua, da sujeira, das esmolas. Odeio esmolas. Não dou esmolas.
Sim, gostaria que essas pessoas tivessem acesso a muitas coisas, mas nunca a mim, não gosto de desconhecidos. Não quero falar com desconhecidos. Já me bastam os amigos de amigos. Acho que as pessoas devem ter uma razão pra falar umas com as outras, e não apenas a necessidade de falar e falar e falar. Tem gente que não consegue fazer uma porra de viagem de ônibus calado. Pegar fila de banco então...
Eu prefiro o silêncio e o anonimato.
Mas acho bacana conhecer pessoas pela internet. Já conheci pessoas bem legais pela internet. Porque a internet mantém a distância segura, elimina o olho no olho e eu gosto disso. Depois sim, tudo bem, quando já se conversou bastante, aí é legal se conhecer pessoalmente. Eu gostaria de ter mais amig@s “virtuais”. Mas acho que não sou muito boa nisso também. Tanto pior quando a mão de fingidora-poeta/poeta-fingidora me pesa e eu acabo escrevendo coisas que nem eu sei o que querem dizer, mas isso não me incomoda porque gosto de não entender algumas coisas que podem muito bem ser apenas sentidas. Somos sempre tão positivistas, não? E eu prossigo inconstante...