algoz

Talvez eu seja uma das pessoas que não se levantará amanhã. Talvez eu seja uma das pessoas que será ceifada ainda mergulhada no sono.
E se eu me levantar, talvez eu seja uma das pessoas que não verá o pôr-do-sol. Milhões de pessoas no mundo inteiro morrerão antes do pôr-do-sol de amanhã.
Por que não eu?
Um dia eu também serei um número engrossando as estatísticas. O que me garante que amanhã não será o meu dia?
E me entristece às lagrimas, não o que eu deixarei de viver, mas o que já não vivi... tudo o que eu queria ter dito e não disse. O que eu queria ter feito, e não fiz. O gesto que eu poderia ter feito, mas por medo, vergonha ou timidez, contive. O que passou, no passado está, nunca mais voltará.
A Morte, a Consoladora Final, a Libertadora, quando vier vai me levar banhada em lágrimas, estejam certos, meu senhores, porque eu deixei muita coisa virar pó sob meus pés, virar cinza, virar nada.
E, se houver um Juiz, ele não perdoará isso: ter deixado de viver por medo, vergonha ou timidez. Porque esse é um crime hediondo contra a vida, inafiançável.
E se minha alma for posta na balança, pesará mais que a pluma, porque sou culpada de não ter vivido o que podia.
E se o amanhã não chegar pra mim, levo comigo tudo o que poderia ter sido e não foi. Somente isto levarei comigo: meu pecado capital: não ter vivido o quanto pude.
De nada adiantam as lágrimas agora, de nada valem lágrimas diante do inevitável. E se choro, é por mim, que embora viva, não vivo.
Há coisa mais triste do que meramente sobreviver?
*esta é O Algoz, mais uma da série Murderous Desire.
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