Vida Breve...
Tô de boa apesar da falta de grana na conta e não, meus senhores, não troquei de emprego ainda... Também não fui pedida em casamento pelo Denzel Washington, não ganhei uma herança milionária de um parente longínquo e desconhecido, nem sequer fui paquerada pelos pedreiros da obra perto do trabalho.
Quem é que pode explicar este tipo de fenômeno? Talvez a mesma criatura iluminada que explique a tristeza profunda que brota na nossa alma sem razão aparente, mas que fere diariamente, e, sendo invisível à nossa sensibilidade tosca, vai nos envenenando sem deixar vestígios de início e sem esperança de fim... Ah, A Melancolia... eita que esta me causou graves danos... Mas deixa ela pra lá por enquanto, deixa ela dar uma cochilada e me deixa correr o mais longe possível, brincando com dentes-de-leão...
Quem me dera poder correr agora, no meio desta noite fresca e com lua a ¾ pelas ruas deste Plano Piloto! Quem me dera... Fico em casa agora, mas não claustrofóbica.
Estou quieta. Estou me sentindo quieta, acalentada por mim mesma, como se eu pudesse, enfim, me ninar. Eu mereço este sossego, este cafuné. Mereço deitar bem espichada numa rede colorida e me balançar até dormir bem gostoso. No meio da tarde dos meus sonhos. Bem no meio do mundo. Eu comigo mesma. Verônica. E se é pra causar espanto pra qualquer pessoa que seja, que eu espante então. E que essa pessoa possa ver, depois do susto, que nada havia de mais ali, só eu comigo no colo, balançando na rede com as cores do pôr-do-sol.
Meus senhores, hei de me esquecer do que eu não quis pra mim, hei de reter só o que me existe de Bom. Hei de ficar aqui quietinha, sem ter mão de homem nenhum que me acaricie sem que esta seja mão de amigo. Perto de mim, agora quero mesmo só minhas amigas e amigos, e minha família.
Os problemas de ontem permanecem os mesmos hoje, nada é resolvido da noite pra o dia, meus senhores, mas os amanheceres são lindos e não podem ser outra coisa senão sinal de recomeço, de persistência na labuta.
O que impede o céu de desabar amanhã sobre a terra?
O que garante que o dia amanheça amanhã?
Não sei e nem preciso saber, basta a mim acreditar que o dia amanhecerá em todas as suas cores, resplandecente como hoje e ontem, estando o céu preso no ar pra cima de nossas cabeças-de-mamão, e a terra firme aqui embaixo dos nossos pés. Acho que descobri que tenho Fé. Sim, tenho Fé! Não, meus senhores, não em deuses, que esses fomos nós mesmos que criamos, tenho Fé é no Mundo, na Vida, na Beleza da Vida no Mundo, neste nosso caótico, injusto, e breve e vasto Mundo. Eu e vocês vamos morrer, meus senhores, e isto é o que possibilita a existência do Amor e da Beleza neste Mundo. Eu e vocês vamos morrer, meus senhores, e o fato de desejarmos ardentemente que isto não aconteça, é que nos move diariamente desde o momento em que abrimos nossos remelentos olhos até o momento em que deitamos fatigados pelas desgraças desta Vida e deste Mundo. Eu tenho Fé em mim e em vocês, meus senhores, porque isto é o que é real pra mim agora, exatamente agora neste mesmo instante em que digito isto que acabei de pensar. E não é realmente Belo poder pensar e depois expressar isto em caracteres que outros irão ver e, na melhor das hipóteses, não deitar por terra?
Eu e vocês vamos morrer todos, assim como os que virão depois de nós, cada qual a seu tempo. E, se diferente fosse, que valor teria esta Vida nossa sofrida, mal-vivida, desperdiçada com intolerâncias e violência contra nós mesmos e contra todas as outras criaturas? Se fôssemos imortais, qual seria o gosto da chuva que nos pega de surpresa voltando pra casa e molha só bastante pra nos fazer praguejar contra ela e sua futura gripe? Como seria beijar o primeiro amor? Como seria cometer erros idiotas várias vezes por pura preguiça? De que valeria os sorrisos efêmeros das crianças e seus abraços sinceros? Se pudéssemos ter sempre e pra sempre tudo o que é efêmero e imprevisível, que merda de Vida seria... que bosta de eternidade!
Um tédio só!
E é só porque eu sei que não sei quando vou morrer que eu gosto hoje, agora, agorinha mesmo, de estar viva digitando este texto que nem sei se alguém vai ter paciência de ler...
Muito boa noite, meus senhores!
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