vinte e sete de abril
O dia está lindo. Posso vê-lo logo ali, fora destas paredes.
Enquanto caminhava da BCE pra o ceubinho, eu sentia a beleza avassaladora do céu perto de maio dessa manhã quente porém agradável. Senti-me mal por isso, por toda esta abundância de céu, de azul, de vida. Senti as grades do trabalho forçado/forçoso, me seqüestrando do gozo do dia para, enfim, confinar-me aqui onde agora me encontro. Queria cabular o trabalho como cabulara aulas muitos anos atrás...
As crianças estão calmas, lendo um gibi em voz baixa – na medida do possível – pra depois fazerem uma “leitura dramática” do mesmo.
Elas não são de todo mal, são crianças. O problema é meu, é a minha rabugice, minha vontade de ter esta tarde livre, de poder desfrutar da companhia das pessoas apenas por assim o desejar, e não pela força da obrigação. Ou, antes, gostaria de poder passar sozinha o dia, quem sabe, terminando de ler o livro que tão boa companhia tem-se mostrado, ou ainda costurando um pouco, lendo e-mails com piadas velhas das quais eu sempre rio sozinha, indo pagar contas no banco, vendo um filme divertido e tolo, enfim, gostaria de passar comigo mesma esta tarde.
Não, meus senhores!, nada de atividades ao ar livre! Considero o dia ainda mais belo quando desfruto dele pelas molduras das minhas janelas. As minhas janelas, não estas à esquerda da cadeira que aqui ocupo.
Esta é minha segunda turma da tarde. Alguns alunos agitados demais e dispersivos demais. Estão deitados “relaxando”, mas esta paz é deveras efêmera... Que pena!...
Gibi de novo. Infelizmente não dá pra fazer isso com as duas próximas turmas porque elas são da 1a série e vários alunos ainda não foram alfabetizados. Aproveito esta nova calma pra voltar a escrever.
Acabou de me ocorrer que ninguém me liga. Este é um pensamento recorrente nestas tardes cansativas... Trago o celular comigo tanto por precisar controlar o tempo das atividades com as crianças, quanto pela ardente esperança de receber um telefonema. Mas o celular virou mero relógio!... ninguém me liga... Dias atrás uma amiga me ligou e não pude falar direito com ela por conta do terrível barulho dentro e fora da sala. Mas foi bom tê-la ouvido, saber que, do nada, alguém pensou em mim a ponto de me telefonar. Isso foi tudo. Amanhã, passando pelo camelódromo do conjunto nacional–conic, hei de comprar um dos reloginhos baratos e de plástico/aspecto infantil que eu costumava usar. Passarei a deixar o relógio–celular na bolsa, no armário ou, melhor ainda, esquecido em casa. Ninguém me liga e meus créditos nunca conseguem durar o bastante pra que eu incomode todas as pessoas que eu adoro. Definitivamente comprarei um relógio.
Queria ter um Mr. Darcy na minha vida... e nem precisava ser rico, só ser interessante e interessado nos meus belos olhos. Cério que o único Mr. Darcy que participará de minha vida é o cacto de crochê que ganhei e ao qual assim batizei... e, até mesmo ele já tem um par à sua altura: Miss Elizabeth Bennet, outro cacto adorável de crochê. Só assim eles não morrem.Os cactos são, depois das orquídeas, as plantas que mais admiro. Me identifiquei com eles desde que dei por sua existência. Não é novidade, reafirmo, pois: sou um cacto. Sou um cacto feito só, sem par.
1 Comments:
Meu domingo será outro depois desta leitura. E vou te ligar sim!
Beijos
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