quinta-feira, fevereiro 02, 2006

divagando de novo...

domingo fiquei o dia inteiro com meu pai.
já estava me sentindo meio triste antes de ir, chegando lá então... ele está magro e não quer comer nada. continuando assim vai acabar de volta ao hospital, pra tomar soro na veia.
ele queria assistir a um dos programas dominicais que eu absolutamente abomino: domingo da gente... só meu pai estando doente pra eu ficar ali com ele vendo aquele programa...
mas o fato é que eu estava me sentindo tão desamparada que comecei a chorar, assim, do nada. o cara falando com aquela voz horrorosa, aquele sotaque medonho, e eu chorando. meu pai estava num dos cochilos.
ele cochila bastante, coisa de 2, 3 minutos, fica acordado por alguns instantes e aí cochila de novo. o dia inteiro assim.
levei revistas pra ele ver, folhear, mas ele não se interessou muito.
tentei conversar, mas ele rrespondia só de vez em quando e mesmo assim bastante pouco.
hoje de tarde eu estava arrumando uns papéis e achei uma oração de Santa Terezinha e resolvi arriscar. pedi pela saúde dele. a minha agüenta mais um tempo... estou tentando fazer o que o médico me disse, só não marquei a bendita endoscopia ainda, mas faço isso amanhã.

senti muita falta de um abraço hoje. senti falta de ter alguém pra me abraçar. lembrei que eu sou uma idiota com TOC e tentei virar os pensamentos noutra direção, mas tem pensamentos que ficam ali empacados na cabeça, gritando "me dê atenção! olhe pra mim! olhe pra mim!" e fica difícil ignorar ou fazer outra coisa.
mas a argola no canto direito do lábio inferior serve pra eu me lembrar das minhas obrigações para comigo mesma. e, no momento, melhor ficar com essa vontade de ter um afago, um dengo porque isso passa com uma certa facilidade se for comparada aos danos, aos estragos que minha inconstância trazem pra mim e pra outros.
enquanto eu não superar certos obstáculos que eu mesma ergui em torno de mim, nem pensar em escalar os muros alheios.
fico "menos pior" sozinha. sou mais inofensiva assim. eu e minha camisa de força no lábio inferior.

acho que sou uma pessoa horrível. ruim mesmo.
talvez seja só a menstruação, meu sangue fugindo do meu corpo, espesso e escuro como nunca vi. não parece sangue, parece minha alma.
será que ainda vivo o bastante pra acordar amanhã?
será que amanhã conseguirei olhar no espelho e, finalmente, me reconhecer?
talvez seja só a falta de dinheiro, coisa que não consigo reter, como meu sangue que sai passeando por aí.
deve ser a falta de amor, deve ser mesmo a ausência total de amor, amor à vida, às pessoas, aos animais, às plantas, ao milkshake de ovomaltine do bob's, à agua na garrafa esperando ser bebida, aos conflitos internos querendo ser exorcisados, aos dias chuvosos, e aos dias ensolarados. me falta amor.
o amor talvez nunca tenha estado aqui comigo, em mim.

será que existem segundas chances pra quem nem percebeu a chegada/saída da primeira?

sinto frio nos pés e não quero fazer absolutamente nada a respeito.

não sei por que me dou ao luxo de ficar assim...
o proletariado não conhece a melancolia. o proletariado sofre calado. o proletariado chora se o brasil perde a copa. o proletariado lambe a cria. o proletariado pensa no arroz com feijão de amanhã.
o proletariado nem sabe como é feliz...