domingo cinza...
São três da tarde e está frio. Estou comendo chocolícia e tomando suco de banana+morango desde que acordei. Preciso fazer MUITAS coisas que não poderei fazer outro dia, tinha que já estar fazendo desde cedo, mas estou triste e está frio e não tenho vontade de fazer nada...
Queria poder não precisar fazer nada, já estar de férias, me deitar e ficar ouvindo o rádio sem saber que estou negligenciando o que deve ser feito. Mas entre tudo o que eu sei que devo fazer, não há nada que eu realmente queira fazer. Pra ser sincera, eu gostaria mesmo é de poder conversar com alguém, o meu alguém, o cara que me faz chorar quase todas as noites... impressionante como o meu querer vai se forjando em lágrimas até morrer afogado.
Ontem foi uma dessas noites, em que eu chorei muito, muito mesmo. Já estava cansada das andanças do dia, pesquisando preços de móveis, e acabei ficando tão exausta que desmarquei tudo o que havia combinado de fazer... Como castigo pra mim mesma, fiquei em casa e fui entendo que não posso fingir que não vejo as coisas, que não as percebo. Falo isso por causa do meu certo alguém. Ele não é especial como eu imaginava, é um cara como outro qualquer que pensa e reage exatamente como os outros. E, o que fazer além de chorar? Ele não está e nem nunca estará comigo. Por mais que eu queira, ele não está e nem estará comigo e eu não posso forçar mais a amizade. Tolice insistir numa coisa totalmente sem futuro... Sonhar acordada não é o bastante. E aí eu choro.
Mas uma amiga mandou mensagem me chamando pra sair, já passava das 23h e eu estava cansada, triste de dar dó e não querendo ver ninguém, e liguei só pra dizer que não ia. Ela estava pertinho daqui de casa já e quando ela me perguntou porque eu não iria, comecei a chorar. Eu disse que não abriria se ela passasse aqui, que queria ficar sozinha, que não sairia pra canto nenhum. Mas ela passou, entrou e me convenceu a sair e foi bom ter saído. Mas a sensação desse vazio, dessas certezas duras, não é dissolvida por música e gentes. E eu olhava ao redor e ele não estava lá, claro!, como estaria? E, ainda que a vida nos pusesse na mesma festa, seria só uma angústia a mais...
Mas foi útil ter saído, me fez bem ao ego. Sei lá porque cargas d’água, ontem caras falaram comigo, uns até legais, mas infelizmente eu não estava com a menor intenção de dar mais que cinco minutos de atenção pra nenhum desconhecido. Depois de séculos sem dançar forró com ninguém, eu dancei forró com um monte de caras! Preciso fazer isso mais vezes, me fez sentir bem. Lógico que tem sempre algum xarope, desses que dizem que são médicos e que passaram no concurso da anvisa e que acham que, por isso, já têm a foda da noite garantida. Eu bem que gostaria de me interessar mais pelo que os caras têm do que pelo que eles são, assim tudo seria mais simples. Eu saberia exatamente onde e o que procurar. Saberia como me comportar, o que dizer, até como sorrir das piadas sem-graça. E, obviamente, me daria muito melhor. Mas, meus deuses, se é pra achar um macho provedor que eu existo, por que diabos estou estudando e trabalhando? Por que eu leio? Por que eu penso em coisas “inúteis”? Os homens nunca levam em consideração esse tipo de coisa, não é mesmo, meus senhores? Nunca param pra pensar se eu ralo pra caralho, se estudo, se penso em coisas que não dizem respeito ao universo novela das oito... Nada disso conta quando o objetivo é rejeitar o diferente. Não importam as minhas qualidades, não importam, meus senhores, os homens têm um objetivo comum que me exclui. E não importa como eu me vista, não importa se não tenho piercings, se não uso nada agressivo, nada importa. Eu estou fora. Eu reajo ao senso comum e isso é péssimo pra alguém tão tradicional como eu. Eu sou um ponto de interrogação ambulante, que ofende as pessoas porque eu me questiono, e, assim, questiono todo mundo que não se sente firme de suas convicções...
Como é que eu posso ser assim, tão esquisita e tão convencional, tão careta, ao mesmo tempo? Eu deveria ser só uma coisa ou outra, né? Moradora de rua ou burguesinha, punk ou beata. Um extremo ou outro, não essa coisa híbrida... Os homens não compreendem o paradoxo. Não concebem coisas diametralmente opostas que convivem juntas.
Me lembrei de uma aula de análise da informação em que discutíamos o senso comum e aí chegamos à conclusão de que mentira é aquilo que foge ao senso comum. Pensando assim, eu sou uma mentira. Não importam as mudanças externas que eu faça, eu sou o que não deveria... e, por isso, nem meu certo alguém nem outro alguém qualquer vai me aceitar porque eu faço parte do inaceitável.
Pensar é uma coisa muito perigosa. E, ao mesmo tempo que me faz ver um pouco mais adiante, me aprisiona porque me impede de fazer o que todo mundo que não pensa faz. É como viver numa área em quarentena essa coisa de pensar... Talvez eu não devesse pensar nunca. Assim me bastaria concluir que alguém não gosta de mim porque é gay. Mas, pensando, eu vejo que ele não pode gostar de mim porque isso está além dele, além da faixa de visão que ele possui. Ele não me entende e não me aceita não importa o quanto tenha conversado comigo. E ele nunca acreditou em mim quando eu disse que gostava dele. Ele é só mais um... pensa como os outros. E reage como todos os outros diante de questionamentos porque quem não se questiona, não admite ser nunca questionado por outros, especialmente um outro como eu...
Meus deuses, será que algum dia eu vou conhecer um cara que não seja mais um limitado como os outros? Onde estão os homens que pensam, que sentem, que amam, que se questionam???
Por que as pessoas vêem as coisas de forma tão distorcida?
Por que eu desperto impressões tão equivocadas nos homens?
Mea culpa...
Será?
Whatever...
Pra vocês sentirem o drama, meus senhores (ouvindo Maria Bethânia):
- lavar louça;
- lavar banheiro;
- passar pano na casa;
- pôr roupa pra lavar;
- dobrar as roupas limpas e guardar direito;
- jogar fora todos os textos que guardei durante todos os muitos anos de unb;
- separar tudo o que vou doar, roupas, sapatos, pinduricalhos, etc;
- estudar pra prova de amanhã de análise da informação;
- costurar a bolsa que a Thaíse encomendou;
- guardar direito os tecidos novos que comprei;
- costurar a bolsa n. 1 da lista de presentes;
- estudar estatística aplicada;
- pôr os cd’s novos em ordem; (está tudo em ordem alfabética, então terei que mexer em muitos pra encaixar Elis, Maria Bethânia, Tim Maia e Sade...)
- pôr os livros novos em ordem; (felizmente são os pocket books que são poucos e leves).
Acho que, por hoje, era isso o que eu tinha que fazer, mas já sei que não farei quase nada nessa lista porque prefiro ficar aqui escrevendo e me mortificando por ser assim tão... aff...
2 Comments:
Samba de uma nota só esse blog, hein? Apaixona, quebra a cara, reclama da vida, que é injustiçada, que os homens só vêem os tais piercings, que não aparece o príncipe encantado. Na outra semana apaixona, quebra a cara, reclama da vida, que é injustiçada, que os homens só vêem os tais piercings, que não aparece o príncipe encantado, e assim vai.
Domingo cinza foi o meu, que perdi lendo seu blog.
_ No momento todos os nossos atendentes estão ocupados. Aguarde um minuto...
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