segunda-feira, maio 29, 2006

oásis

Eu merecia, merecia algo de bom no final do meu triste dia. Merecia os lábios de Um Certo Alguém colados aos meus, língua, pele, suor entrelaçado. Eu merecia algo de bom. Mas Alguém não quis, achou por bem me ignorar, compactuar com meu silêncio mortificante. E eu sofri. Sofro ainda, mas não quero este sofrimento. Ele não me pertence, não deveria estar aqui já que os lábios dele também não estão. Agora eu resolvi que só vestirei luto, só sofrerei diante de causas justas, de amores vividos, de experiências concretas, de perdas, separações, enfim, coisas reais, que acontecem de fato. Chega de sofrer por algo que nunca existiu senão dentro da minha cabeçona de mamão. Chega. Estou farta desse sofrimento platônico que me revira as vísceras, que me corrói, que me castiga física e afetivamente sendo que nunca foi nada mais que uma idéia.
É duro, é difícil, mas eu gosto de Alguém que não gosta de mim. Preciso aceitar e superar isso. Pois bem, comecei meu processo de “cura” hoje mesmo. Transcendendo... Me concentrando na oportunidade de lábios mais anteriormente desejados. Foda-se ele, maldito Alguém que me tortura sem nem querer, foda-se esse gostar inútil. Eu precisava de um carinho, e eu o tive. Fez bem pra meu ego, pra meu coração partido, foi como emplastro sabiá. Foda-se o que sinto e não quer calar, meu desejo pelo Outro é grande também, visceral também, e mais antigo, muito mais antigo. E se não posso tê-lo também do jeito que quero, então o terei como as oportunidades permitirem. Talvez ele seja a grande conquista, meu obstáculo superado, meu muro escalado. Poderia ser. E quanto a Alguém, bem, eu gosto dele, como poderia desejar-lhe mal? Eu só quero o bem dele, embora fique magoadíssima que o bem dele não possa coincidir com o meu, ser convergente, se encontrar com o meu bem... Alguém que se cuide e seja feliz, ainda que longe dos meus carinhos. Eu quero ser feliz também, muito feliz, e se a oportunidade passar por perto, agarrarei seus cabelos. Ela que se descuide pra ver só.Ah, meus senhores, metade de mim está eufórica, a outra metade, querendo encher a cara ouvindo Maysa cantando Ne Me Quittes Pas... As duas metades vão se estapear durante muito tempo ainda, ainda que algum acontecimento faça uma delas prevalecer sobre a outra. Quisera eu poder escolher um determinado acontecimento pra favorecer o lado eufórico porque, vamos e convenhamos, meus senhores, eu bem que merecia uma trégua, um descanso de, no mínimo, uma década. Eu merecia viver um oásis, viver algo bom que durasse tempo o suficiente pra que eu me esquecesse como é ser triste...