dia branco
O telefone tocou por volta das 3h15 da manhã e me tirou de um sonho labiríntico com Ele. Acordei sobressaltada, suada e confusa e era Ele do outro lado e por trás de sua voz, outras vozes, pessoas caminhando e conversando. Ele estava numa parada qualquer antes de São Paulo. Na verdade eu não pude dizer quase nada porque Ele só disse que gostava muito de mim e que estava passando mal e desligou. Eu desliguei o telefone, ainda confusa e dormi novamente quase que instantaneamente.
Desde que acordei, eu é que estou passando mal... no celular Dele aquela maldita voz pré-programada e fria me avisa da impossibilidade de completar a chamada. Ele não ligou hoje. Já passa das 18h e nem sinal Dele. Comi compulsivamente o dia inteiro e o mal-estar não me larga, não desgruda de mim. Queria saber apenas se Ele chegou bem, se está bem. Mas nem sei onde Ele está! Eu não sei como Ele está!
Estou preocupada com Ele e queria ter podido falar mais com Ele ao telefone... Queria que Ele me ligasse de novo pra dar notícias e Ele não liga e eu espero que seja porque tudo está bem e Ele está apenas ocupado demais pra ligar.
Não, eu não vou sair de casa porque espero que Ele me ligue, seja a hora que for.
Não há nada que eu queira realmente ver na rua hoje.
Estou nauseada.
O que pode haver pra mim lá fora?
O rádio ligado é uma tentativa de não me concentrar demais em péssimas idéias. Não a respeito Dele, porque Ele tem que estar bem. A meu respeito, a respeito do que me move, de quem sou eu, afinal.
Jogo paciência spider. Uma tentativa de pensar um pouco menos nos olhos Dele...
Tentei ler. Inútil. Inútil.
Não quero chorar.
Não quero sair.
Não quero dormir.
Parece que estou numa vigília, acompanhando minha preocupação.
Ah, meus senhores... Estou numa tristeza de dar pena, isso sim.
Adivinha a música que acabou de começar?
“Solidão é lava que cobre tudo,Amargura em minha bocaSorri seus dentes de chumbo.Solidão, palavra cavada no coraçãoResignado e mudoNo compasso da desilusão.”
Agora está tocando outra do Paulinho que eu gosto muito, mas ele é quem canta, não a Marisa Monte, “Coração Leviano”.
Continuo, então, na minha espera. Eu bem que deveria ter comprado mesmo a máquina de costura ontem, talvez costurando eu não lembrasse tanto... Preciso realmente achar algo produtivo pra fazer com o meu tempo que, agora, está sobrando.
O dia passou nublado, mas não acho que foi feio. A chuva é necessária e até gosto de ver a janela sendo lavada pela chuva. Não sei porque pensei nisso agora, mas esse céu de nuvens pesadas é realmente fantástico: tanta leveza e peso no mesmo céu esbranquiçado pelas nuvens que são lindas porque voam, se desfazem e se refazem eternamente até que acabam. Será que as nuvens acabam? Será que essas são as que sempre existiram ou são novinhas em folha?
São quase 19h e ainda estou de pijama.
Espero por uma ligação que talvez não aconteça.
Apenas espero e isso me deixa triste e queima minhas entranhas.
Um dia branco e triste pra mim que espero.
Enquanto as nuvens flutuam, eu rastejo nos meus medos.
Nunca fui boa pessoa. O Mundo também não é.
Vai ser um looongo final de semana...
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home