"today I sing the blues" ou "asa de mariposa"
Agora passa um pouco das 20h. Já estou em casa de pijama. Eu estava decidida a sair pra beber com uns amigos e depois ir pra uma festa. Não irei a lugar algum. Não tenho vontade. Na verdade eu tenho vontade de sair, mas é tão óbvio que seria melhor sair com Ele perto de mim, que prefiro evitar a fadiga de me entristecer pelo caminho e não aproveitar a noite. Pouparei meus amigos da minha cara de ausente, de saudade estampada nas fuças. Gosto muitíssimo dos meus amigos, mas agora, nessa fase da minha vida, sinto que preciso me concentrar Nele e não é porque Ele me cobre isso, é porque é algo que eu realmente gosto de fazer, que eu quero continuar fazendo. Quero estar junto de outras pessoas, mas pra Ele a minha atenção tem uma intensidade e um foco diferenciado. Ele está tão presente na minha vida, nos meus dias, nos meus pensamentos que... ah, sei lá.
Enquanto eu andava, desviava das nuvens de insetos, mariposas eu acho, porque esta é a época delas, delas enchendo os postes e se lançando contra quem passa pelo seu território de luz e água nas poças. Odeio insetos, especialmente os que atravessam o meu caminho. Odeio.
Enquanto as malditas mariposas zuniam batendo as asas em mim eu pensava Nele. Não sei onde Ele está agora. Coisas saíram errado e Ele não viajou cedo como queria: seu cartão bancário sumiu. Nos vimos hoje rapidamente e senti que Ele me tratou como se a culpa fosse minha. Quem me dera ter poderes pra interferir assim na vida das pessoas... Eu não queria que nada O tivesse atrapalhado. Não é que eu não queira que Ele viaje, ao contrário, espero mesmo que a viagem seja boa, mas eu queria era ir com Ele, estar com Ele noutros lugares, respirando outros ares... Mas não tenho dinheiro e acho que Ele realmente prefere estar a sós ou, tanto pior, com outras pessoas que não eu. Acho que isso é normal, apesar de me doer.
Enquanto caminhava pra casa fiquei muito tempo parada do outro lado da avenida em frente à minha casa. Ouvia os barulhos da cidade, as asas das mariposas que eu odeio e meu coração tentando abafar, tentando se conter. Agora estou ouvindo Elis. Queria ouvir Maysa, mas nesses momentos é totalmente contra-indicado porque não quero chorar. Essa dorzinha, meio pressentimento, meio insegurança, meio medo do tempo e do espaço, meio paranóia, meio saudade, meio desespero, meio desejo... e eu no meio disso tudo? Eu, nada. Só me resta esperar. Não sei porque essa viagem me dói tanto, mas ao mesmo tempo sei e preferiria ignorar. Acho que Desespero está ali me olhando pelo espelho e já empunha seu anel: o ritual de autocomiseração está prestes a começar. Monólogo e solilóquio se intercalando aqui neste apartamento pequeno e desarrumado chamado cérebro.
Enquanto caminhava no conic vi um amigo e fui falar com ele. Ele estava com uma cara tão cansada... Disse que estava vindo do enterro de uma amiga, uma mina da sua rua. Fiquei tão triste por ela, uma adolescente que eu nem conheci. Ele não precisou me dizer que tinha sido um acidente de carro: véspera de feriado prolongado é assim... e nessa faixa etária, essa é a morte mais comum. Pensei na menina animadíssima pela viagem e aí pensei Nele. Não pude não pensar que Ele vai estar na estrada também e eu temo. Espero que seja só paranóia esse frio na barriga, essa vontade de chorar... Eu só queria poder estar com Ele...
No entanto, fico em casa. Vou comer mais bolo, engordar mais um pouco, talvez chorar um pouco.
O sono já vem vindo, o que é um consolo. O sono e eu: só nós dois a sós.
Será que isso não é apenas arrependimento? Sim, arrependimento por não ter dito antes o que me bate no peito junto com esse sangue anêmico? Não dá pra ficar esperando ocasiões pra esse tipo de coisa e, como eu já escrevi antes, as coisas não têm uma data de fabricação e validade, elas são o que são e não importa se pra algumas demora mais ou menos pra acontecer... Sim, lamento não ter dito o que eu queria antes porque se eu dissesse hoje, que Ele vai viajar, hoje soaria como algo do tipo “não me deixe só”. Mas eu sou péssima, péssima com o Tempo... meu timing é uma merda e eu sempre adio o que não deveria adiar, o que deveria fazer agora.
Tenho medo, muito medo, isso é verdade, o resto, não sei.
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