sexta-feira, julho 15, 2005

10/07/05

Adivinha quem mandou uma mensagem cretina no meu celular pedindo desculpas? “um cara imbecil,q percebeu q precisava se desculpar c vc,q por orgulho besta fez q vc me detestasse e espera q um dia vc releve a imaturidade dele.” Quem disse fator M, acertou. Coisinha peculiar não? Logo ontem, justo ontem em que eu até esboçava um bom-humor suficiente até pra ir ao supermercado e transitar entre pessoas, chegar em casa e cozinhar, logo ontem o cara resolve que chegou o momento de se desculpar. Claro que não poderia ser algo à minha altura, tinha que ser algo à altura dele: mensagem pelo celular. Ai, meus deuses!, com todos os problemas que eu já tenho me sufocando, ainda tenho que lidar com esse tipo de coisa... Eu joguei pedra, joguei uma que acertou no saco do cabeludo, só pode!
Mas eu disse a ele que o papel de bruxa me caiu bem e que não desculpo porra nenhuma. Até parece que seis meses de escrotidão serão esquecidos e perdoados por conta de uma mensagem estúpida. Foda-se! Que continue se sentindo culpado. Brasília inteira me olhou como uma filha da puta, escrota, destruidora de corações por um tempão. Eu quero mais é que ele chafurde na culpa, que se afogue na culpa. Não sou cristã, não dou a outra face e nem tão pouco perdôo 7x70. Já relevei coisas demais até o ano passado e olha o que sobrou pra mim: o papel de vilã diante dos olhos dos meus próprios amigos, ou melhor, daqueles que eu considerava meus amigos. Se essa merda de estória teve um ponto positivo foi me mostrar que nem todos que eu considerava muito, têm a mesma consideração por mim porque acreditam no chorão, no drama queen do fator M que alardeia aos quatro ventos a sua versão de uma estória que nunca deveria nem ter existido, mas que é mais complexa do que ele diz. Pois esses que acreditaram não são e nem nunca foram meus amigos. Tanto melhor. Seremos apenas “conhecidos”. Não tenho a intenção de tratar ninguém mal, nem mesmo esse infantilóide. Mas eu quero sair tranqüila, sem que ninguém me aborde falando dele, de como ele está triste, de como sofre por minha causa, blá, blá, blá. Foda-se!, não quero nem saber. Eu já tenho muitos problemas e não consigo lidar com o que diz respeito única e exclusivamente a mim, vou dar conta dos problemas de pessoas que fizeram questão me riscar de suas vidas?! Mas seria muito engraçado mesmo! A esse papel eu não me presto. Pelo menos agora ele vai ter motivos mias verdadeiros pra dizer por aí que eu sou uma megera. Quanto à mim, já tenho a fama mesmo, deitarei na cama. Não perdôo, não quero conversa, não quero cumprimentar, não quero nada além de distância dessa criatura que só me deu trabalho.
Por que a gente não pode apagar algumas pessoas da nossa vida? Por que essas memórias imbecis têm que perdurar? Por que a gente não pode simplesmente esquecer que essas pessoas existem e simplesmente desenvolver uma cegueira pra elas? Bem, se os homens interessantes desenvolveram essa cegueira seletiva por mim, por que eu não posso desenvolver esse mecanismo com essas pessoas desagradáveis, infantis e fofoqueiras?
Bem, meus amigos e “conhecidos” que pensem o que bem quiserem a meu respeito, esse daí tá riscado do meu convívio e eu tô pouco me fudendo se sofre, se respira ou se morreu de tédio. Minha vida já exige de mim esforços grandes pra continuar seguindo com esse fluxo triste e patético de um dia depois do outro, não posso eu mesma pôr mais uma dificuldade na minha vida, não posso eu mesma fazer de conta que sou uma pessoa benevolente, “evoluída” e abraçar a quem detesto só pra figurar no rol dos nobres de coração. Foda-se a nobreza! Fodam-se os nobres de coração! Eu sou humana!, sou vil, mesquinha, vingativa e desejo o mal de todos os que me fizeram mal. Não vou, obviamente, empregar minhas parcas e débeis forças tramando planos mirabolantes pra me vingar, nem vou perder minha saliva e meu latim revelando seja lá o que for, vou simplesmente me manter na minha, no meu círculo, vivendo essa vidinha estúpida e sem sentido até me cansar disso tudo, de ter que viver num mundo de brutos, estúpidos, insensíveis, falsos, hipócritas, sem amor. Mas que esses que eu detesto não contem comigo pra nada porque eu não estiro um dedo pra ajudar. Espero que essas pessoas se mantenham sempre assim, distantes. Acho que isso não é pedir muito. Quero distância e isso eu posso impor porque só depende mesmo de mim.

Será que agora o contrato de exclusividade que parecia existir na cabeça esquizofrênica do fator M foi rasgado, ou será que não terei nunca mais sossego nessa merda de cidade pra dispor do meu corpo com quem eu bem entender? acho que só saberei disso com o tempo mesmo. Que merda. Se bem que, existe nessa merda de cidade algum homem que pense? Que realmente pense? Que entenda que as mulheres são seres autônomos, livres, que têm libido, que desejam para além do amor, que podem dispor de seus corpos livremente? Acho que não. Essa mentalidade provinciana e arcaica, machistinha de merda, misógina, ainda está arraigada demais nos homens dessa cidade, desse país, senão dessa porra de mundo. E olha que eu nem sou uma liberal radical, ainda acredito na monogamia, na fidelidade voluntária, nos relacionamentos duradouros. Acho que é realmente uma questão de fé acreditar nessas coisas tão imateriais. Acho que é tão esquisito isso! Eu não acredito em deuses mas acredito no Amor, talvez o mais perverso – porque mais humano – entre todas as coisas imateriais...
Eu deveria focalizar minhas forças, minha vontade, e amar os livros, amar as noites e os dias que estão aqui pra eu ver, pra eu sentir.
Amar a um homem é a coisa mais inútil que uma mulher como eu poderia desejar pois que os homens não são educados pra amar mulheres como eu. Os homens são educados pra amar Barbies, Cinderelas, Belas Adormecidas, Brancas de Neve, Isauras, Julietas, donzelas gentis e submissas, sempre se curvando aos desígnios do Destino, do Mundo e, por fim, de seus príncipes encantados que farão delas esposas, mães, objetos de culto, senhoras de santidade, de candura venerável.
Eu não quero ser esposa nem mãe de ninguém! Eu quero ser Verônica, quero ser livre! Eu quero ser vista e respeitada como um ser humano, uma pessoa, um indivíduo, não como um ventre, como uma progenitora em potencial.
Como querer que um homem se liberte do peso da nossa cultura pra pensar livremente e amar livremente um espírito tempestuoso, heterogêneo, como o meu?
Meus senhores, eu não posso me fazer de ingênua e idiota e pensar que há muitos homens capazes de pensar com suas próprias cabeças, capazes de aceitar verdadeiramente a liberdade individual, capazes de terem tal desprendimento com relação aos pudores e valores com os quais cresceram, ao ponto de largar esses casulos da educação familiar patriarcal e misógina e abraçar um ideal de igualdade entre homens e mulheres. Por mais que eu queira acreditar nessa utopia, meus sentidos, minha estória de vida me impede de me trair a mim mesma e perder mais tempo considerando a hipótese de que todos têm alguém feito só pra si. Isso não existe. É uma mentira romântica que condena as pessoas à frustração eterna, ao inferno em vida de saber que estamos aquém de todas as possibilidades de realização desse amor perfeito, dessa felicidade incomensurável que é o encontro de almas gêmeas. Eu estou condenada a viver com essa falta porque estou nadando contra a corrente do mundo que apregoa a existência de um ser que me completará, que me amará como eu o amarei. Ninguém vai me amar. Também não amarei ninguém. E eu odeio essa idéia escrota de metades que se completam. Eu não quero me sentir mais debilitada do que já sou considerando que sou um ser completo. Eu sou um ser completo e não quero nenhum ser incompleto no meu encalço: quero um homem completinho, com todos os acessórios de fábrica.
Nossa, mas que idéia mais terrivelmente opressora essa de que somos metades... Talvez seja por isso que os casamentos duram tão pouco depois do advento do divórcio... Quando as pessoas se dão conta de que isso é uma grande mentira e que ninguém é metade, e que ninguém tem que empreender essa tarefa hercúlea de preencher os vazios de outra pessoa... Nossa, chega fiquei triste agora. Tenho pena dessas pessoas. Mas tenho pena de mim também. Talvez eu tenha descoberto isso cedo demais... Talvez eu devesse descobrir isso só lá mais na frente porque assim eu teria mais esperanças na vida, mais vontade de permanecer nesse mundo estranho um pouco mais. Por enquanto eu quero permanecer aqui só o tempo suficiente pra não deixar nenhuma pendência de ordem material pra que outras pessoas tenham que pagar pelos meus erros. Mas isso é uma outra estória e vai ficar pra outro dia. Preciso me levantar daqui e fazer alguma outra coisa além de pensar nas minhas misérias. Acho que vou ler um livro.