29/06/05
tem todo esse barulho lá fora me impedindo de dormir
gente gritando e fazendo alarde
ou será só na minha cabeça?
aqui toca “uma batida diferente”
ou será só na minha cabeça?
olho ao meu redor
estou sem óculos e não vejo um palmo à frente do meu nariz
sou míope e astigmática – se é que tal palavra existe –
vai, Verônica, vai ser míope na vida
estou sozinha
estou sozinha no mundo e não enxergo um palmo diante do meu nariz
então invento
eu crio um mundo ao meu redor que eu posso ver nitidamente
só na minha cabeça
acho que minha cabeça é grande
eu gosto de ter cabelo curto
como será que estarei daqui a trinta anos?
pode até ser que eu esteja viva
provavelmente, sobreviverei na memória de algumas pessoas, até mesmo na do Lima que tem péssima memória
talvez eu faça algumas pessoas chorar...
quando eu morrer
será que solidão ainda mata?
tão triste morrer assim, sozinha, numa noite boa de inverno, ouvindo barulho lá de fora
todo mundo morre só, ainda que acompanhado
mas eu não gostaria de morrer numa noite como a de hoje
porque eu me sinto só,
hoje eu sei que estou só,
sei até porque estou só, assim largada ao deus-dará e ele nunca dá nada, mas cobra caro...
espero sobreviver a esta noite
espero sobreviver à vida
será que o que quero é pedir demais?
– pedir a quem, Verônica?
– ao Tempo, ao Destino, à Fortuna, à Vida?!
o que estou pedindo?
quem ouve as preces de uma ateísta?
a quem eu rogo? A quem? A quem?
sim, meus senhores, estamos sós neste mundo, soltos, ao léu nessa vida
e só o Amor justifica toda essa merda
tomara que sim
talvez só na minha cabeçona
não, o Amor é bom, é sim!
amar o mundo é estar vivo
amar as noites, os desertos, até os animais
amar as crianças, os sorrisos, o sorvete
amar abraçar pessoas que amamos
amar as flores
amar
o Amor justifica essa merda de vida?
talvez só na minha cabeça.
...
Imagine a seguinte situação: tem uma banda que você gosta bastante mas não tem grana pra comprar o cd, então você pede pra um amigo piratear pra você. Depois de alguma enrola, ele finalmente te dá o cd e você vibra. Depois de um tempo, uma amiga sua pede o seu cd pirata emprestado e você empresta porque ela é sua amiga, claro. Depois de muitas e muitas semanas, sabe-se lá porque motivo, razão ou circunstância, ela não está mais falando direito com você, tudo bem, afinal as pessoas têm direito de se afastar e/ou se aproximar de quem bem entenderem, é uma questão básica de liberdade individual.
Numa das suas últimas tentativas, depois de mandar várias mensagens que sua amiga simplesmente não respondeu, ela manda uma dizendo que está numas de “dar um tempo de tudo”. Seja lá o que, diabos, isso signifique, podemos ler apenas como “não estou mais interessada na sua amizade, mas também não estou a fim de dar maiores explicações”. Ok, ok, tudo pela liberdade individual.
Depois de mais semanas, o único vínculo sobrevivente dessa amizade parece ser o bendito do cd que você gosta pra caramba e que mal vê a hora de estar nas suas mãos pra poder matar a saudade da sua banda.
Alguns meses depois, faz tanto tempo que você nem lembra se foram dois ou três meses longe do cd, mas, finalmente!, a amiga diz que deixou na loja dos seus amigos como você vinha pedindo há tempos.
Então, numa tarde de quarta-feira, depois de mais um dia trash no trabalho que está cada dia mais trash, depois de reunir todas as suas forças para tentar mais uma vez “o convívio em sociedade” porque, sejamos francos, a maré não está nada boa pra o seu lado, você resolve ir buscar o bendito do seu cd. Chegando lá na loja, você até tenta se distrair com os amigos, dá umas risadas e começa a se sentir “menos pior” por causa dos n motivos que você tem pra se sentir uma droga. Aí você pergunta pra o pessoal cadê o seu cd da sua querida banda que sua amiga, que eles conhecem bastante bem, disse que havia deixado lá. A resposta: “ué, sua amiga não deixou nenhum cd aqui pra você. Quem deixou cd aqui foi aquela outra menina, mas foi pra o fator M.” Aí você pensa no fator M, aquela pessoa que havia dito pra essa sua mesma amiga que não queria que você nem dissesse “oi” pra ele há uns seis meses atrás e que, desde então, você tem evitado sequer lembrar porque foi um cara tão medíocre na sua vida que você simplesmente preferiria deletar terminantemente, porque por mais imbecil e bisonha que seja, é a sua vida (e aí você fica mais puta porque isso acaba revelando que você é carente a ponto de ter se envolvido com uma figura que não tem maturidade nem pra dizer na sua cara que não quer mais falar contigo, seja lá porque, mas parece que isso já está virando um fato recorrente na sua vida: as pessoas simplesmente ficam com essa vontade de não mais falar contigo e ponto final). E aí você pensa nessa pessoa segurando o seu cd, ouvindo o seu cd, que por mais pirateado, barato, lixão que seja, é seu. Você não podendo acreditar no que acaba de ouvir (porque quer acreditar mesmo que se trate de uma piada de péssimo gosto), liga pra sua amiga que diz que a outra menina foi sim deixar um cd pra o fator M e levou o seu junto sim, mas o seu estava num envelope e o dele estava num porta-cd com o nome dele escrito. Agora eu te pergunto: como é que seus amigos iriam adivinhar que o seu cd era pra você se não havia nenhuma identificação que te ligava a ele?! Outra perguntinha básica: qual a real necessidade de mandar o seu cd junto com o cd de uma pessoa que sua amiga sabe que você detesta?!
E depois ainda reclamam porque você é uma mal-humorada escrota que fica dando patada nos outros... Como, me diga, como manter a calma numa hora dessas? Como manter a cordialidade com as pessoas depois dessa?
Agora, o que, diabos, moveu essa sua amiga a vacilar tão enormemente, isso é um mistério e deve continuar a sê-lo porque, se eu fosse você, largaria de mão a porra do cd e a amiga. Já era, cidadão, já era.
primeiro de julho
eu estou aqui no metrô
meu pensamento vai longe
meu desejo está te procurando
minha memória está sento dissecada porque cada registro da sua presença vai preencher uma lacuna no quebra-cabeças do meu corpo esquálido
o céu da tarde
esse céu com esse azul...
hoje é primeiro de julho
queria que fosse o primeiro dia do resto da minha vida
o dia está bonito pra caralho
chega a ser opressor
chega a doer
e o céu nesse tom quente de azul me lembra o seu riso
o calor dessa tarde bonita
me lembra você
“me deixas louca”, a Elis canta pra você
eu suspiro por você
e tudo isso tem o desespero inútil dos amores que nunca se concretizarão
não importam os motivos,
só importa a sua ausência
e a falta se faz mais presente em mim do que...
a vida pode doer tanto num dia tão bonito, Preto...
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