sexta-feira, julho 15, 2005

24/06/05

são 06h30, mais ou menos
tá frio pra caralho
o dia amanheceu
o sol já despontou
a lua continua no céu
acho bonito isso da lua continuar no céu apesar do sol,
serenamente
como quem dá de ombros
toda envolta no delicado azul dessa manhã fria...
na rua, os termômetros marcam 6h37 ▫ 13 Co
eu tô de boa agora, ainda não cheguei no odioso trabalho
não consigo me imaginar fazendo isso por mais vinte anos...
não consigo me imaginar fazendo nada pelos próximos vinte anos

...

e agora, Preto?
minha estória ia andando, andando assim meio cabisbaixa, meio de banda, mas vinha quietinha, sem nem fitar pessoa que fosse.
um dia encontrou de esbarrar com uma outra estória, a sua, Preto, que vinha assim bem de queixo pra cima, mirando o céu, se bronzeando no sol de maio, como bem mesmo tinha que ser e foi assim que se passou porque sua estória é de luta e orgulho, bonita, brilhando feito nem sei o quê de tão linda e preta, como a sua pele mesmo se dá por conhecer pra pessoa qualquer que nem força precisa pra ver que é grande a beleza sua, menino preto.
então chegou que minha estoriazinha tímida tropeçou na sua e caso foi que, Preto, continuando sem nem dar por nada, sua estória passou e nem fez caso de mim que, estoriazinha leve, no chão fiquei.
eu fiquei com esta estória sentada ali onde caímos mesmo, sem entender direito o que aconteceu naquela hora e naquele mesmo momento. nem sabia, nem sabia minha estória, mas você ficou ali também naquela cena perdida em nós, mas caso é que você, José, passou.
e agora minha estória está, coitada, que é só atrapalhação, sem saber que se levante ou que fique ali mesmo prostrada feito fruta recém caída porque não colhida não foi não.
minha estória caiu com a leveza da fruta madura que não se colheu, ninguém, ninguém não colheu não, e o que sucedeu foi de sua estória altiva passar pela minha e, tão frondoso é você, menino preto, preto como jabuticaba madurinha sorrindo no pé, e foi assim tão bonito de ver você passando, preto, que minha estória tombou ao chão.
e agora, Preto, que será da minha estória? você ficou ali com ela, nela mesmo que sente isso pesado dentro lá daquele peito, mas você nem parou não.
acho que isso de ir e ficar é difícil porque a estória continua indo, caminhando, mesmo sem que se dê conta do quanto foi que ficou ali dela mesma paradinha num pedaço de chão numa estrada que está lá pra trás da memória da gente.
e caso é que talvez minha estória nunca veja mais sua estória nas bandas de aqui, onde ela está enganchada numa florzinha dente-de-leão, mas que se há de fazer, meu preto? Que se há de fazer, Preto?