domingo, julho 24, 2005

11/07/05

Meus amigos acham que eu vou me matar. Eles leram meu blog e agora acham que eu vou me matar. Não sei porque as pessoas se preocupam tanto com o fato de eu pensar em suicídio. Ainda estou aqui, não é? Dia após dia eu ainda estou aqui, e, no entanto, tenho idéias suicidas desde que eu era muito pequena pra entender o que diabos significava a palavra suicídio. Penso em me matar sim, contudo, meus senhores, alguém aí poderia me dizer quais as garantias que a vida oferece de que qualquer um de nós não vai morrer com certeza nas próximas horas, nos próximos dias? Não há garantias! Não há garantias! Todos vamos morrer, é só uma questão de tempo. O irmão da minha tia morreu porque teve uma convulsão na cozinha e, ao cair, teve uma fratura craniana. O que ele fazia na cozinha? Não, ele não estava cortando os pulsos ou tomando raticida, ele estava tomando um copo de leite. A porra de um copo de leite! Então não fiquem esperando pelo meu suicídio, vão viver suas vidas! Vão viver porque pode ser que vocês morram antes de mim, fazendo algo banal ou então vitimados pela violência crescente das cidades. Quem é que poderá saber? Quem? E, talvez na maior e pior ironia da Vida, ela me mate antes de mim. Eu não duvidaria disso. Quero deixar bem claro que isso não significa, meus senhores, que agora meus amigos devam se preocupar em me manter em vigilância preventiva. Não mereço nenhuma atenção especial já que sobrevivi até o dia de hoje. Não estou estocando barbitúricos; não tenho armas de fogo e nem tampouco penso em me jogar pela janela porque, meus senhores, moro na porra do primeiro andar. Também não é necessário tirar facas e objetos cortantes do meu alcance porque tenho horror a sangue e não suportaria cortar os pulsos e as coxas. Parem de pensar, meus senhores, que estou a um passo de me jogar na frente de algum carro porque não posso suportar a idéia de que ao invés de morrer eu ficaria tetraplégica porque eu acredito que há coisas muito piores do que a morte, na verdade eu acredito que a morte, em alguns casos, pode ser a melhor coisa a acontecer. Parem de pensar que estou a um passo do suicídio, não estou. Não posso morrer agora. Mas, como eu já disse, que garantias tenho eu de que não morrerei naturalmente nas próximas horas como qualquer pessoa viva, como qualquer um de vós?
Se a própria Vida não se encarregar de encurtar meu tempo nesta terra, amanhã eu estarei aqui digitando outro texto. Não sei porque as pessoas agora se alarmam. Sempre pensei em suicídio e, durante uma boa parte da minha vida, isso foi o meu assunto foco. Agora é um assunto que vai e vem, mas que eu não executo por uma série de fatores práticos que ultrapassam a minha consciência da tristeza que isso poderia causar em algumas poucas pessoas. Pode lhes parecer frio da minha parte, meus senhores, mas este é meu pensamento: ninguém deve manter-se vivo por medo de ferir outrem porque ninguém pode viver com o peso de ser a base da vida de outra pessoa. Eu não quero ser nunca o pilar da existência de outros, e nem nunca quero me prender a este mundo, que já tem tão pouco a me dizer, por causa de sentimentos alheios. Por frio que se lhes pareça, meus senhores, quando eu achar que chegou minha hora, minha hora terá chegado e ninguém, ninguém, por mais amor que eu sinta por todos os que amo, ninguém neste mundo segurará minha mão.
No mais, enquanto ainda há pendências aqui neste mundo, permaneço. E, no momento, eu estou pensando mais é em ir pra alguma festa e dançar muito e ficar bêbada porque eu gosto de ficar levemente bêbada (sem caipirinhas, vexames e vômito, por favor!), gosto de me perder em sensações boas de leveza e esquecimento, sonhar acordada que estou flutuando sob uma música boa de dançar. Quero fechar os olhos e dançar. Só isso.
Gostaria que meus amigos parassem de se preocupar comigo e voltassem sua atenção a coisas mais importantes de suas próprias vidas, suas famílias, seus empregos, namoradas e namorados, seus próprios problemas existenciais. Eu já não estou mais aqui. Embora eu sorria, embora eu escreva, embora eu olhe o céu e a lua, já cruzei a linha, já ultrapassei isso. Só peço que, por favor, não me venham agora com discursos sobre o valor da vida, sobre a importância disso e daquilo. Pouco me importam os malditos valores cristãos, o medo do que há depois, o discurso de que as coisas vão melhorar, e blá, blá, blá. Eu escuto isso há anos e adivinhem: nada acontece, nada melhora porque é algo que me vai por dentro... não é porque não tenho dinheiro, porque quando eu tenho dinheiro, também me sinto assim; não é porque não tenho a porra dum namorado, porque eu também me sentia infeliz quando tive namorados. Dá pra entender? Eu não sei que porra é essa, só sei que dói, e todas as tentativas de manter a normalidade, só me fazem sentir cada vez mais falsa, cada vez mais anormal, irreal, distante daqui. É como um pêndulo que oscila de um lado pra o outro, mas o meu pêndulo se demora muito num lado, no pior lado e dificilmente chega até o percurso final do outro lado, normalmente ele vai só até a metade, mas por alguns milésimos de segundo ele já chegou no lado oposto, no lado da graça e da beleza, dos sentimentos elevados e desprendidos, mas aí ele volta ao percurso habitual e fixa-se por uma infinidade de tempo no lado mau. E eu estou aqui, não é? Continuo fazendo tudo o que deveria fazer, não é? E até me divirto na companhia das minhas amigas e amigos. Na verdade, tudo de bom que me aconteceu parece estar sempre relacionado ao simples fato de minhas amigas e amigos existirem, como no último sábado. Alguns, atendendo ao movimento natural da vida, se afastam, tudo bem, isso é normal e compreensível. Outros, afastam-se por vontade própria e acho que eles fazem bem em se afastar, mas isso me deixa com a dúvida latejante de que talvez eu não seja boa pessoa pra que outras estejam assim tão por perto. De qualquer forma, nunca fiz nada com a intenção de magoar minhas amigas e amigos, mesmo aquelas e aqueles que me magoaram e continuam magoando duvidando do afeto, do carinho que sinto, me mantendo a uma distância segura de suas vidas. É como aquela música “eu não posso fazer mal nenhum a não ser a mim mesmo”... Mas eu respeito a liberdade individual, as pessoas devem ser livres pra fazerem o que preferirem de suas vidas, inclusive me remover delas.
Será que eu já fiz mal pra alguém? Acho que sim, devo ter feito. Eu posso até nem me lembrar, mas a pessoa deve se lembrar. Mas se eu fiz mal a essa pessoa enquanto ela me considerava amiga, por que não me disse nada? Eu não sei. Talvez eu não valha o esforço. Provavelmente não valho. Whatever, não vou sair por aí distribuindo formulários de desempenho pras pessoas e também não vou me matar por isso, por mais triste que eu fique em saber que algumas pessoas das quais eu gostava tanto, com as quais eu me preocupava tanto simplesmente consideram minha amizade desnecessária, supérflua. Isso dói pra caralho e é mais uma coisa foda a me atormentar porque eu continuo a me preocupar com elas porque afeto não é algo assim tão facilmente retirado e esquecido, não por mim que tenho tanta dificuldade em me relacionar com as pessoas. Pra os outros, essas pessoas maravilhosas e sempre cercadas de amigos verdadeiros, deve ser fácil deixar pra trás quem já não é mais útil.
Eu sei que não sou uma pessoa fácil de se conviver, que tenho muito mais baixos, que sou pessimista e vejo as pessoas em geral com frieza e distanciamento que nem sempre são bons, mas que me têm sido útil pra evitar contatos com criaturas falsas, embora meu método seja falível como se pode perceber, eu admito, enfim, eu sei que sou custosa, geniosa, mas nunca me considerei uma pessoa ruim, embora às vezes eu tenha lá minhas dúvidas a respeito. Acho muito escroto eu ficar abalada pelo comportamento de algumas pessoas que só demonstram que, na verdade, nunca foram merecedoras do meu afeto mais sincero e isso me dói porque eu odeio ser fraca e odeio cometer erros tão primários de julgamento de caráter. Afinal, todo mundo quer reconhecimento e afeto e eu também quero! E, no entanto, cada vez mais o tapete é puxado sob meus pés e eu quebro a cara no chão.
Em quem vou confiar, afinal de contas? Invisto um tempão numa amizade pra saber que essa mesma amizade foi deletada pelos motivos mais idiotas ou simplesmente porque eu disse a verdade. Que merda de amizade é essa que se desfaz assim como se nada fosse? Que merda de amizade é essa na qual eu não posso dizer o que penso sinceramente pra pessoa? Então eu não vou mais fazer amizade com ninguém, o círculo vai diminuindo cada vez mais até que só reste eu...
O que me preocupa de verdade nesse dramalhão mexicano que se transformou minha vida é: se um dos poucos motivos pra ter momentos bons que eu tenho são meus amigos, como fica quando não restarem mais amigos porque agora eu nem posso dizer o que penso e devo me manter numa vigilância paranóica a respeito de tudo o que eu faço porque qualquer merda é motivo pras pessoas retirarem sua amizade sem nem me comunicar?!
Minha vida que já é escrota, está só piorando com o tempo. Ao invés de ficar mais tranqüila, estou ficando mais paranóica, mais ansiosa, mais nervosa. Não estou a um passo do suicídio, estou sim a um passo do descontrole, do surto, de pirar e dar na cara de alguém que me disser uma bobagem. Foda-se! Fodam-se pessoas escrotas que não dão valor ao que tem valor! Fodam-se! Vocês que fizeram com que eu duvidasse de mim, fizeram com que eu me sentisse idiota e desamparada. Nada do que vocês possam dizer agora vai apagar isso. Minha memória é uma bosta, mas pelo menos serve pra guardar algumas coisinhas. Fodam-se as suas futuras “boas intenções”! Vivam suas vidas e me deixem em paz com os pouquíssimos amigos verdadeiros que ainda tenho. Vamos aproveitar a liberdade individual e levarmos nossas vidas separadamente da forma que cada um achar mais conveniente.
Tenho que parar de pensar nessas merdas porque isso é um atraso de vida. Tenho que me concentrar no que é importante, no que vai me trazer algum benefício, não no que me faz mal. Pra isso já me basta trabalhar naquele lugar que odeio.
Vou terminar de ler meu livro que eu ganho mais.

1 Comments:

At segunda-feira, julho 25, 2005 8:53:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Só pra constar, Verônica, eu leio seu blog diariamente, e às vezes me vejo num "vazio existencial" semelhante ao que você descreve, com o agravante de, ainda por cima, me sentir culpado por me sentir assim, achando que é "frescura" da minha parte.

Fique bem, tanto quanto possível.

Nélio

 

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