madrugada de treze de novembro
Deitei muito cedo hoje, não eram nem 21h. não havia muito o que fazer a não ser deitar e tentar descansar um pouco, descansar do tédio, esquecer as coisas por fazer, a casa em total desordem, a poeira sobre os móveis, a roupa a ser guardada. Esquecer a dor nas costas por ter ficado sentada, exatamente como agora, olhando pra esse monitor. Acabei dormindo. Não estava exatamente querendo dormir, apenas descansar. Mas acabei dormindo. Tive um sonho estranho, bom. Sonhei com os grandes compositores da música brasileira, claro que isso foi totalmente inspirado no programa de rádio que eu havia escutado antes sobre o Billy Blanco. Gostei do sonho, nada de mais, um sonho musical.
Mas acabei acordando por volta de meia-noite e meia. E, sem mais o que fazer, fui terminar de ler O Amante. Eu havia assistido o filme há tempos atrás, não me lembro muito bem dele. Terminei de ler o livro agorinha. É um livro fino e bom de ler, desses que numa sentada se lê facilmente, mas eu sempre adio as coisas, sempre dou um jeito de enrolar, de demorar. Fiquei pensando que eu também gostaria de ter um amor impossível, proibido e eterno. Mas eu não tenho estrutura pra esse tipo de coisa. Mal consigo lidar com coisas simples, cotidianas. Não consigo nem sentar e ler um livro de uma vez... E, além do mais, quantas pessoas podem viver esse tipo de coisa? Quantas? E por quê, diabos, eu deveria ser uma delas? O que há em mim pra me fazer merecedora de um amor eterno, impossível, proibido?
Hoje em dia resta espaço pra esse tipo de amor? Acho muito pouco provável a existência de uma pessoa, um homem, que se transformasse num amor impossível pra mim. Tentei imaginar que tipo de homem seria impossível: um estrangeiro, um padre, um mulçumano, sei lá. Nada me parece impossível ou proibido hoje em dia, não pra mim, com essa idade. Pode até haver situações difíceis, tristes, complexas, mas impossíveis? Acho que não.
Fiquei pensando e o que me ocorreu é que o meu grande desafio é viver um amor possível. Parece que isso tem sido o impossível pra mim desde desde.
Esses amores eternos só se fazem eternos porque duram pouco. E eu não quero que dure pouco pra mim, quero que dure muito, que o amor dure até a exaustão, que fique roído pelas traças e coberto de pó, e não que, ainda novinho em folha, em fase de experimentação, simplesmente seja congelado no tempo e no espaço pela separação inevitável.
Eu quero a possibilidade do amor. Quero amar até sugar a última gota, até que já não haja mais amor e é preciso muito tempo, eu acho, pra que isso aconteça. Às vezes me parece que as pessoas hoje em dia não têm paciência pra isso.
Talvez eu seja uma dessas pessoas.
De qualquer forma, achei tão linda a estória da menina e do seu amor feito sem palavras, feito com o corpo, construído eu quero dizer. Um amor de desespero e descobertas e lágrimas e sexo. Um amor que só se soube amor depois da separação. Achei tristíssimo. Lindo e trágico. Não como Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda, uma tragédia mais desoladora, não sei. Outro tipo de trágico, talvez porque sem magia, sem heroísmo, sem mítica, apenas uma menina branca e um homem chinês unidos pelo desejo, pelo amor, e separados por culturas diferentes, posições sociais diferentes. Triste e lindo.
Quanto a mim, de certa forma sinto-me abandonada. Mas o sentimento não cessa diante deste fato. Talvez devesse porque, afinal, fui abandonada. Não houve convite, nada, apenas um comunicado. E isso me entristece.
De que me adianta Ele sentir minha falta lá? De que me serve essa saudade remota? Isso me deixa com uma certa raiva, aquele tipo de raiva dolorido que se tem de quem se gosta.
Eu não deveria ter sido deixada pra trás.
Acho que isso era algo que eu não merecia.
Só me dei conta disso agora: fui abandonada.
E como alguém que abandona pode esperar ser amado?
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