terça-feira, setembro 19, 2006

trash

A academia é trash, meus senhores. Trash mesmo, não tem nem aquele aparelhinho que imita escada que eu gostava tanto de fazer. Mas, enfim, é isso aí, é barata, tem os aparelhos e o professor é legal, pelo menos bem melhor do que os outros que eu tive há séculos. Não me senti mais cansada do que antes de começar a ir, embora tenha sentido algumas dores nas pernas, nas panturrilhas, mas não sei se era a TPM ou a academia quem estava me dando essas dores. De qualquer forma, amanhã cedinho estarei lá novamente pra mais uma sessão de “acostumação” com os aparelhos...
N horário em que estou indo tem pouquíssima gente, só uns dois bombados e mais uns dois meninos bonitinhos que devem pretender ficar bombados. Ah, tem umas mulherzinhas também, duas, talvez três. O que me importa é não falar com ninguém, entrar muda e sair calada. O programa de aperfeiçoamento social não se aplica à academia.
O final de semana foi bacana. Já na sexta eu bebi e ri e dancei pra caramba na despedida de solteiro de uma amiga. Só não foi melhor porque me senti meio envergonhada, pra não dizer constrangida, pela minha falta de relatos picantes... Me senti como se eu estivesse separada daquelas mulheres por anos luz... É que teve um joguinho no qual uma de cada vez ia dizendo “eu já...” e contava alguma coisa menos convencional que tinha feito relacionado a sexo e quem mais tivesse feito essa mesma coisa tinha que beber. Resultado: de todas as rodas, se eu tiver bebido duas vezes foi muito... Fiquei triste mesmo nessa hora, exibindo aquele sorrisinho de “o que é que eu estou fazendo aqui?!” É que eu me senti adolescente de novo, naqueles momentos bisonhos em que um grupinho decide brincar do jogo da verdade e eu não sabia nem o que diabos era punheta... putz, maior flashback dos meus 13 anos... Fiquei pensando que o meu próximo namorado vai sofrer na minha mão, mas, na mesma hora, na mesmíssima hora, eu pensei que até eu ter um namorado de novo, já nem lembre mais mesmo dessas coisas. Do jeito que a coisa anda feia pra o meu lado, talvez eu tenha que aprender a ir ao banheiro na próxima brincadeira dessas pra não ouvir tudo o que eu não fiz, o que eu nem sabia que se fazia, e aquilo que eu queria e nunca fiz e parece que todo mundo já cansou de fazer... Mas o resto da festa foi bem divertido e eu até consegui lidar com uma bizarra naturalidade da companhia de duas amigas de outrora que já não são tão amigas; uma, a do cinema trágico, a outra, a que tem medo de mim. Whatever... Talvez tenha sido o álcool fluindo aos montes pelas minhas artérias, e ainda havia a ajuda da música.
Agora, momento do confessionário: até deu vontade de casar só pra ter uma despedida de solteira... eu sou muito estranha mesmo... nunca tive vontade de usar vestido de noiva, nem de entrar numa igreja ao som da Ave Maria ou da marcha nupcial, nem tive vontade de nada dessas trilhões de frescuras que MUITAS mulheres querem ao pensar em casamento, mas essa é a segunda despedida de solteiro que eu vou e eu achei tão divertidas e eu queria poder ter uma pra mim um dia, mas acho que se não tenho nem namorado, um futuro-marido torna-se ainda mais improvável... Acho que vai ser mais fácil eu ganhar na megasena, aí vai ser A despedida de solteira sem nem precisar de casamento. Isso seria fabuloso! Ei, se bem que, quando eu tiver O emprego dos meus sonhos, o que deve demorar ainda mais uns três, quatro anos, com certeza eu farei a despedida da minha vida de pobre professorinha e aí vai ser beeem legal. Ah se vai!

Bem, falando em futuro-marido, MCA está visivelmente mais magro. Eu gosto dele de qualquer jeito, mas assim ele fica mais elegante. Hoje ele apareceu de cabelo cortado bem curtinho. Eu reparei logo. Ficou bem nele, melhor do que já estava. Eu quis dizer isso, mas o que saiu foi só um idiota “cortou o cabelo, né, fulano?” e a minha pior risadinha de nervosismo, aquela que as pessoas costumam confundir com “ela tá me gozando!” eu não sei me expressar bem, e no que diz respeito à ele, tanto pior! Eu me atrasei propositadamente hoje pra não dar tempo de apresentar o que eu deveria apresentar na coordenação de hoje. Eu sabia que ele estaria lá. Eu sabia que ia engolir a seco e tremer e que faria papel de idiota se ele estivesse diante de mim e eu tivesse que declamar os poemas que deveria, ou propor as discussões, ou fazer o exercício de interpretação com ele ali me olhando com aqueles olhos pequenos e destruidores. Eu sei que ele não me olharia por vontade própria, mas porque é falta de educação alguém falar contigo e você olhar pra o lado. Sei que ele tem milhões de outras coisas às quais olhar e isso já me traz dor suficiente. Porque quando você se perde nos olhos de alguém, tudo o que se quer é que esses olhos se lancem nos seus... Só sei que tem alguma coisa acontecendo com ele. Dá pra sentir isso muito nitidamente. Ninguém começa a se mudar assim fisicamente sem uma mola, sem um motivo. Um bom motivo, aliás. Eu sei que ele está gostando de alguém. Não faço a menor idéia de quem seja e prefiro nem saber mesmo não porque isso não é problema meu, é dele. Gostar dele é o meu problema. Só meu. Ninguém pode me ajudar a carregar esse fardo. Quer dizer, tem o Tempo, mas ele é moroso e eu me enervo com sua morosidade. Queria que o Tempo levasse esse fardo pra longe de mim o mais rápido possível, pra ser mais exata, gostaria que esse fardo tivesse sido liberado dos meus ombros no instante em que MCA me deu três tapinhas nas costas e disse pra eu relaxar, pra eu não me preocupar com isso. Isso é o fato d’eu gostar dele e ele não gostar de mim. Só isso. Infelizmente não é assim que as coisas funcionam e, embora parte de mim nunca tenha conseguido se levantar daquele banco, esteja presa àquele momento, o resto faz o que pode pra dar conta da vida que ainda tenho pela frente. E se meu coração ficou petrificado ali naquele banco, naquela manhã de céu azul, naquele dia tão claro quanto triste, ávida continua e não pode esperar, não vai esperar nem pelo meu coração e nem pelo de ninguém. Meu corpo se move sobre a lápide daquele dia. Porque foi o último acontecimento realmente triste dos últimos meses pra mim. Pr’as pessoas ao meu redor o mundo guardou outras. Mas pra todos nós, a certeza de que junto com as pequenas alegrias da Vida, vêm os pesares, os fardos que parecem estar desproporcionalmente pesados pra que os carreguemos... não faço idéia de todas as tristezas que ainda me podem vir pela frente, mas não posso me preocupar com isso agora porque ainda não terminei de velar por aquele dia, pela minha felicidade, pela minha alma...

Meus senhores, creio que essa é a pior parte do que diz respeito à tentar abraçar a felicidade: calhar de ser recíproco o amor... não acho que eu o ame, não, não mesmo, mas eu gosto muito dele, desejo-o ardentemente e queria poder ficar com ele. Infelizmente ele não me quer, não gosta de mim mais do que o necessário pra trabalharmos juntos numa boa... como é que se convence alguém a gostar da gente? Impossível! Impossível! Ninguém nunca me convenceu a gostar de ninguém, como é que eu posso convencer qualquer cara a gostar de mim? Poxa, problemas financeiros eu posso arrumar fazendo economia, aparando umas arestas aqui e ali; minha família está caminhando a seu próprio passo e eu já consegui enorrrrrmes progressos no que diz respeito a me relacionar melhor com ela (exceto os casos gravíssimos que não têm solução mesmo: progenitora, cunhado babaca e irmão-fantasma-por-vontade-própria). Falando nisso, meus senhores, deixem-me abrir um parêntese: meu irmão-padre ligou ontem e aí me perguntou sobre um dos meus sobrinhos, um que tem umas alergias sinistras que deixam a pele dele com um aspecto muito feio. Eu disse que ele tinha piorado de novo e ele me perguntou por que eu não lhe fazia o menos uma visita. Respondi que não retornaria jamais ao lugar de onde me puseram pra fora. Ele me disse que eu deveria visitar meu sobrinho, não pensar no pai dele. Impossível, respondi. Impossível! Naquela casa eu não entro mais em hipótese alguma. Nem se o cunhado babaca morresse antes de mim, o que, apesar de tudo eu nunca desejei porque ele é o pai de dois dos meus sobrinhos queridos. Eu só queria que ele admitisse que foi escroto. Ele e minha irmã, aliás. Não que eu vá esquecer uma humilhação tão desgraçada quanto essa, mas seria bom saber que ele pensou na merda que fez e que se arrependeu. Talvez assim fosse uma pessoa melhor. Não se convida alguém pra ir morar na sua casa pra depois achar que pode desconvidar e vai ficar tudo “numa boa”. Numa boa de cu é rola! Numa boa o caralho!
Eu sinto muito pelo meu sobrinho. Gostaria que ele ficasse logo bom porque ninguém merece passar pelo que o menino têm passado, ninguém, quer dizer, talvez todos os políticos desgraçados. Mas, enfim, ele é um menino bom, doce, amável, não merecia isso. Fico com o coração apertado de pensar nele, mas naquela casa eu não volto nem mesmo por ele. Não volto não. Eu queria que ele ficasse bom. Queria ver aquele rostinho lindo de novo, sorrindo, feliz, curado. Isso é uma tristeza com a qual eu não sei lidar porque ele é inofensivo, nunca fez mal a ninguém, e está passando por coisas tão ruins, tem vivido situações tão tristes, está sendo tratado, fora da família, como um leproso... ele não tem amigos, mal vai à escola, as pessoas se afastam dele quando ele chega... ele tem só 15 anos! Por que tem que passar por essas coisas? Por que as pessoas de má índole não passam por isso? E os débeis dos pais dele ainda acham que ele vai segurar a barra e não tomar toda a coca-cola na geladeira sem ninguém ver... é uma porra de alergia ligada à alimentação e eles não mudaram até hoje a porra da comida da casa. Depois não vai adiantar chorar sobre o leite derramado. Uma das minhas irmãs disse que a mãe dele, a outra nossa irmã, ligou dia desses chorando desesperada pra ele quando ele piorou. Bem, eu não tenho pena dela não, só tenho pena dele que ganhou uns pais tão arredios. Não seria melhor mudar a alimentação de todos pra uma que fosse voltada pra o bem estar do menino agora enquanto ele pode ser beneficiado por isso? Mas eu já cansei de levar patada de irmãos no que diz respeito à criação dos seus filhos. Ele sabem o que é o melhor pra os seus filhos, dizem isso de boca cheia e esperam que eu acredite nessa merda. O que eu posso fazer? Eu só sou uma tia que não mora perto e nem sequer freqüenta a casa deles. À mim não cabe nada além de ouvir relatos e chorar de vez em quando. Enfim, espero que ele melhore. E vou continuar falando apesar das patadas. A mim não custa nada, mas talvez essa repetição um dia faça algum efeito...

Putz, esqueci totalmente o que eu estava escrevendo antes deste parêntese gigantesco...
Tive que olhar o texto de cima...
Voltando: então, o que diz respeito à minha vida, as coisas podem se encaminhar bem se eu der a direção certa, mas nada disso se aplica ao amor, à paixão porque o cara é que sabe se vai ou não gostar de mim, eu não posso decidir isso por ele, por mais que eu queira. Então essa é a cosia que mais preocupa porque está totalmente fora do meu controle, acho que até da minha influência... Deveria ser, portanto, o que menos ocupa minhas reflexões já que independe da minha vontade, mas é justo o contrário, é o que mais me atormenta, o que me consome... eu sou uma idiota completa mesmo.
Ah, além de constatar que sou uma idiota completa, constatei também que sou outra no trabalho. Sim, eu sempre sou gentil e prestativa e dificilmente me exponho. Nunca fico de cara fechada por lá. Não, meus senhores, não é porque eu seja tosca, rude, gratuitamente fora de lá, é que é como se eu não tivesse tristezas e pesares lá, mesmo que meu grande pesar esteja lá bem do meu lado... eu não conto pormenores da minha vida, nada que seja muito triste, nada que não esteja cicatrizado. Ninguém lá sabe que eu gosto do MCA. Quer dizer, a minha amiga do matutino sabe, mas, enfim, eu passo a maior parte do tempo sorrindo lá, especialmente quando a vontade era sair correndo e chorando pra longe de lá por causa dele que é o que mais costuma me fazer ter vontade de chorar lá. A minha vidinha é isso aí, meus senhores, é chorar por causa de um cara que nem sabe que eu gosto dele do jeito que gosto, trabalhar fazendo questão de ser bem-humorada porque também não tem nada a ver ficar choramingando por lá, estudar num departamento em que mal troquei algumas palavras com poucas pessoas nos últimos dois anos e meio, malhar numa academia trasheira total pra ver se consigo fazer alguma coisa com essa minha forma decadente e escrever aqui pra tentar pensar um pouco sobre o que me acontece no espaço dos dias entre o momento em que acordo e abro os olhos, e o momento em que me deito e os fecho por algumas horas de sono quase nunca reparadoras...

Agora, preciso dormir antes que eu gaste mais muitas horas da noite pensando e temendo o que é inevitável: a Solidão dessas paredes; dos meus braços vazios; a solidão do meu celular sem mensagens, sem toques em horários inapropriados; das almoços vendo estranhos sorrindos juntos; dos filmes vistos escutando casais se beijarem; dos dias dos namorados sem presente, sem cartão, sem namorado; das noites de sábado sem beijos; dos suspiros sem destinatário; das declarações de amor que nunca serão ditas e nem tampouco ouvidas; a Solidão do mundo de quem deseja e não deveria...