solo I
– Eu me lembro de sentimentos.
– Sentimentos ou sensações?
– Xiii, não sei... Mas me lembro de ter sentido algo. Me lembro de ter sorrido.
– Lembro-me.
– Não, me lembro. Eu gosto do erro. Por que evitar o erro? Muito melhor errar de propósito. Continuando, me lembro de ter visto e ouvido um sorriso e de ter ficado encantada. Engraçado, né?, como um monte de dentes numa boca podem fazer a gente experimentar uma outra existência...
– É, reticências são mais pertinentes que uma interrogação neste caso.
– Nossa, eu queria sorrir também diante daquela boca escancarada, linda, linda, cheia de dentes. Eu queria sorrir também. Eu me lembro bem disso, de querer sorrir, de querer beijar, de parecer flutuar, de ficar leve, leve... Mas agora acabou. Acabou.
– Acabou, é? Coitada...
– Não preciso de sua pena. Não preciso de nada seu.
– Você é que pensa. Sou eu quem ponho e tiro essas memórias da sua cabeça. Sou eu quem decide o que fica e o que vai. Eu.
– Mentira! Cala a boca, sua mentirosa. As lembranças são minhas! Minhas!
– Tem certeza?
(22/03/05)
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