Solo III
– Sabe, as palavras dele ainda queimam na minha cabeça. Crepitam aqui dentro.
– E onde está ele?
– Se foi. Faz tanto tempo... E não voltará nunca mais. Eu nem sequer consigo mais sonhar com ele. Faz tempo.
– E onde está ele?
– Não sei. Mas não está nem nos meus sonhos.
– E onde está ele?
– Morto.
– E onde está ele?
– Longe.
– E onde está ele?
– Queria que estivesse aqui comigo. Ele costumava conversar comigo. Ele me ouvia. Ele me amava.
– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Não seja ridícula! Ninguém nunca te amou.
– É, eu sei.
– Você deveria ir embora.
– É, eu sei. Mas não vou. Eu vou ficar aqui.
– Mas eu não quero que você fique aqui.
– É, eu sei. Mas eu não me importo. Eu não ligo pra você e eu ficarei aqui.
– Eu te desinvento!
– Impossível.
– Eu te mato!
– Impossível.
– Por quê?
– Você me trouxe aqui porque precisa de mim. Só eu falo com você. Ninguém nunca te amou também. Ninguém nunca nem fingiu que te amou.
– Como você sabe que não está morta?
– Não sei.
– Como você sabe que não está sonhando?
– Não sei.
– Como você sabe que não está louca?
– Eu não sei. Mas que diferença isso faz?
– Não sei.
– Você acha que estou louca?
– Acho.
– Eu achei que estivesse sonhando, ou então que estivesse morta.
– Talvez você esteja.
– Tomara.
(24/03/05)
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home