domingo, novembro 27, 2005

pensamentos dispersos

A pétala branca passeando pelo meu rosto. Entre os outros cheiros, o seu é quase imperceptível. Meus sentidos são grotescos, toscos. Como confundir o perfume de uma rosa branca com qualquer outro?


- você consegue ouvir a música com a porta fechada?
- não. mas gosto de saber que ela está lá. a sensação da música não ouvida...


Atravessei uma teia de aranha hoje
E o céu leitoso não se move
As pessoas continuam as mesmas
E eu também
Não sei como...

sexta-feira, novembro 18, 2005

ônibus errado

Encontrei alguns amigos hoje. Foi bom. Me fez bem. Quando estávamos vindo para minha casa, encontramos, dentro do ônibus, um amigo que me perguntou pra onde íamos. Quando respondi que era pra minha casa ele me olhou com uma cara de interrogação e me perguntou se eu havia mudado. Respondi que não, então ele fez aquela cara de “oops” e eu já ri porque percebi que ele estava no ônibus errado. Ele queria ir pra o lado oposto...
Fiquei pensando nisso. Eu já peguei ônibus errado, e não foi de graça não, o que é ainda pior porque essa passagem daqui é um assalto à mão armada. Fiquei pensando em como a gente se engana, tem certeza absoluta de que está fazendo a coisa certa, e faz o oposto. Não é culpa do motorista, nem do cobrador, é culpa da gente.
Da última vez em que peguei um ônibus errado, fiz justamente o percurso contrário ao do meu amigo... Essas coisas acontecem. Ainda mais no meu caso em que a leseira é agravada pela miopia e pelo astigmatismo. Eu costumava pegar ônibus pela cor e pelo tamanho do título, do lugar porque não conseguia ler à distância. Mesmo usando óculos, mesmo passando pras lentes de contacto e depois retornando pra os óculos, nunca pude ler nada a uma distância razoável, especialmente em se tratando de ônibus.
Aí fiquei pensando naquele dito “de graça, até ônibus errado”. Eu não, ônibus errado, só se fosse de graça e com a passagem da volta garantida. Sim, muita coisa gratuita pode ser oferecida, mas se a gente vai junto é problema nosso, nada garante a passagem de volta, nada garante o retorno tranqüilo. Ainda hoje eu às vezes tenho impulsos de pegar qualquer ônibus que não aquele que me levaria pra casa só pra ficar rodando por aí. Nunca fiz isso. Tenho medo das conseqüências... Sempre peso as conseqüências...

No percurso até minha casa fiquei olhando pra o Brasília Shopping e cheguei, mais uma vez, à conclusão de que é o prédio mais horrível de Brasília. Tem também os prédios das comerciais da 205 e 206 norte, que são pavorosos, mas pelo menos têm um aspecto aproveitável nem que seja pra locação de filme de terror. E são antigos. Vai ver que ainda se usava muito LSD na época, sei lá. Mas o BS é medonho! Aquele prédio horroroso está situado num ótimo lugar e nada nele funciona: as formas são bizarras e formam um arranjo de extremo mal gosto, as cores, as texturas e os materiais empregados discutem aos berros entre si. Nada ali fica bem num conjunto. Sei que o arquiteto responsável deveria estar muito doido, mas quem assinou os papéis aprovando o projeto e liberando a grana... nossa não quero nem imaginar o que essa pessoa tomou...
As pessoas fazem coisas muito estranhas quando têm tempo e dinheiro.

Os amigos são realmente espetaculares, não? E não digo isso, meus senhores, porque sei que dentre vós alguns sois amigos meus, não não não. É porque é a pura verdade. Eles nos consolam, amparam, apóiam, amam. Dão bronca também quando é preciso. Às vezes nos embaraçam, às vezes não ligam (eu que o diga...), às vezes não entendem o que aquele olhar pra o lado quis dizer, mas tudo bem, eles conquistaram esse direito. Os amigos podem muita coisa porque eles pedem pouco e dão muito. É o que eu acho. Ninguém nunca me pede nada! Mas tem sempre alguém me oferecendo colo e eu sempre estou precisando de colo. Gostaria que a amizade bastasse... Gostaria de não sentir falta de outro tipo qualquer de afeto. Todos os outros tipos que conheci me custaram caro... Família, namorados... quantos problemas... Mas os amigos, caralho!, esses me salvaram tantas vezes de mim mesma...
E hoje eu perguntei se eles me apoiariam mesmo se eu tomasse “a decisão fácil” e depois me consolariam novamente e eles, os que estavam em minha casa, disseram que sim. Sei que me apoiariam e consolariam ainda que eu não perguntasse nada porque é isso o que os amigos fazem... Mesmo quando a gente erra eles apóiam. Mesmo quando fazemos coisas infantis, ou mesquinhas, ou por mera vaidade, eles tentam ver algo além, algo bom.

Que seria de mim sem meus amigos?

abstração

Sei por quê, mas lembrei daquela passagem bíblica em que alguém fala pra Jesus "não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo". Era uma das coisas ditas nas missas que eu mais gostava. Achava bonito mesmo. Agora fiquei pensando sobre o significado disso, o que é ser salvo por uma palavra... Talvez seja porque estou precisando de algumas palavras pra me salvar, salvar o que há de Bom e Belo em mim.
E porque espero, não consigo dormir.
Mais uma noite mal dormida... não sei quanto tempo meu organismo aguentará isso...
Lembrei então de uma outra pssagem bíblica aquela da Verdade vos libertará. E aí imediatamente pensei que verdade? Verdade é só mais uma abstração da mente humana, falha, limitada. E ainda assim procuramos tanto por Ela... Ah, A Verdade... Vejo-a como a mulher de seios descoberto guiando uma multidão, a pintura do Delacroix, A Liberdade Guiando o Povo. Linda, linda. Nada mais que uma abstração...
E qual seria a palavra libertadora pra mim? A certa: a que eu quero ouvir.

Interrompo este texto porque estou tendo talvez uma intoxicação alimentar e não me é possível continuar...

quarta-feira, novembro 16, 2005

o fim do caleidoscópio âmbar

eu me liquefaço
eu me apago
eu me escrevo

meu caleidoscópio
minha órbita
meu sorriso
minha tela de cinema
meu lápis de cor
minha trégua
acabou
acabou...

não tenho coragem de olhar pra o céu porque tenho medo de ver a lua
e tenho medo de não vê-la também
tenho medo de altura
do escuro
de cachorros
de crianças
de galinhas
da morte
tenho medo da loucura acima de todas as outras coisas
tenho medo de ficar louca...

e não há rede embaixo dessa corda-bamba

será que houve algum dia?

não sei o que fazer comigo

como acabar com a vertigem?
como deter a náusea?
como prender o choro?
como aprender a mentir pra quem se ama?

sinto uma tristeza milenar...
a tristeza de nunca ter sido única,
a tristeza de saber que o que eu sei, gostaria de ignorar

aplacar a dor agora
e sofrer outro inferno depois?
mas aplacar a dor de agora!

uma mentira após a outra...

que mal faria mais uma rodada de mentiras?

por favor por favor por favor
aplacar a dor de agora
secar as lágrimas
ungir as chagas
descansar...
descansar da dor que assola e consome e imobiliza

viver outra vida
uma vida sem dor
sem medo
sem a morte do Amor

terça-feira, novembro 15, 2005

nem mais uma palavra

São quase 10h30. Estou acordada desde às 5h30. Esqueci de desativar o maldito despertador... Não consegui mais dormir. Então fui fazer o que eu deveria ter feito há tempos atrás: verificar o quão idiota eu sou.
Sim, cheguei ao ponto: eu achava que era A Única Flor, porque assim foi-me dito. Quem me disse isso chamou a outra de sua flor também. Que novidade, não?
Aos olhos de tal pessoa talvez eu fosse a única disponível no momento, à mão, no mesmo estado... É nisso que dá acreditar. Não acredito mais em nada e poderia haver algo mais triste pra alguém dizer, mesmo alguém como eu, sempre às voltas com Desespero?

E, ainda, como seria bom se junto com o erro de outrem nos fosse dado um controle pra desligar o nosso sentimento... Seria bom simplesmente não sentir a falta, não lamentar a perda. Seria bom apenas esquecer esquecer esquecer esquecer esquecer...
O pior não estar me sentindo terrivelmente IDIOTA, enganada, traída, o pior é continuar gostando querendo desejando. Mas basta! Basta!

E agora esse céu cinzento, esbranquiçado dá a tônica do meu dia. Poderia ser qualquer hora e está assim desde que abri a cortina.
Quanto a mim, fecho-me mais uma vez.
Chega desse espetáculo de horrores.
Sim, meus senhores, retiro-me às coxias. A partir de agora, nem mais uma palavra sobre este lamentável caso que deveria ser não somente apagado da memória do meu micro, mas da minha própria.

Lamentável.

segunda-feira, novembro 14, 2005

quatorze de novembro

Ela saiu de casa. Pegou um ônibus. Andou por corredores num shopping. Encontrou uma amiga. Comeu um lanche. Viu um filme. Voltou para casa.
Não, ela não está morta.
Enquanto voltava no ônibus, viu a lua. Cheia. Plena.
Não, ela não está morta.
Isso requereria muita energia e ela não tinha nenhuma.
Gastara toda a sua energia mentindo para si mesma que tudo estava bem, não havia sido nada, ela estava bem. Perfeitamente bem.
A vida seguiria seu curso. Ela também seguiria seu curso.
Continuaria indo e vindo. Continuaria trabalhando. Continuaria vendo amigos. Continuaria.
Que importa seu corpo vazio? Que importa o olhar vazio? Através das grossas lentes dos óculos nem dá pra notar...
Mas um dia isso passa. Sempre passa, não é?
Ou, ao contrário, as decepções vão se acumulando uma sobre a outra e nada na verdade é jamais esquecido?

madrugada de treze de novembro II

Pode ficar com a mina dos hummms. É isso o que eu diria agora.
Estou com raiva, estou sem sono.
Estou com muita raiva.
Emprego e cursos, né? É o caralho! É o caralho!
Impressionante como as pessoas continuam me surpreendendo negativamente.
Tenho certeza que agora eu ouviria “você sempre pensa o pior de mim”. Eu penso aquilo que me é dado pensar. Não invento nada do nada. As coisas estão aí pra qualquer um ver, eu não estou inventando nada. Se pensei no pior foi porque foi isso o que transpareceu, o que emergiu.
Meu amigos não me chamam de minha menina. Uns me chamam de querida, outros de doidona, outros de Vevs, e assim vai, mas de minha menina ninguém nunca me chamou. Já disseram que me amam, e é o que eu digo a eles e, quer saber, amar aos amigos é a melhor coisa porque eles têm consideração. Eles se preocupam comigo e tenho certeza de que nenhum deles faria algo pra me magoar.
Realmente está sendo cada vez mais difícil acreditar num amor possível.
Pode um sentimento tão nobre florescer entre meias-verdades? Acho que não.
Estou perdendo meu tempo. Já perdi mesmo o sono. E agora o que me resta?
Não quero falar com ninguém porque estou me sentindo tão idiota e tão envergonhada por isso que é melhor ficar só. Eu não saberia explicar como pude ser tão imbecil.
Sinto-me enganada, humilhada, aviltada. E o que é pior, com o meu consentimento. Sim, porque esse é o tipo da coisa que só se torna efetiva quando somos cúmplices.
Eu sabia sabia sabia que havia algo muito errado nessa viagem. Sentia que tinha coisas muito mal explicadas, mas pensei, eu sempre tenho que tentar tampar os buracos, pensei que todo mundo precisa de um pouco de espaço, de ficar sozinho, sei lá. Espaço, né? Sozinho, né? O caralho, digo eu!
Meus senhores, eu vos pergunto: como os senhores veriam o fato d’eu viajar, digamos pra o Rio de Janeiro, agora, nesse final de semana + feriado, e resolvesse assim como quem não quer nada, visitar um amigo que só eu conheço lá. Mas a questão é, se eu tenho um namorado, os senhores não acham que eu, enquanto namorada, deveria convidá-lo a ir comigo já que ficarei num hostel e não na casa de parentes ou amigos? Os senhores não acham que, já que eu vou encontrar esse amigo, que é obviamente – claaaro – apenas um amigo, que eu poderia ter comentado com o meu namorado que encontraria esse tal amigo lá? Afinal, é apenas um feriado no qual estarei longe e, por acaso, encontrarei um amigo. Tudo bem que é um amigo de internet que fica me mandando scraps cheios de reticências e hummms e minha menina, mas que mal pode haver nisso? Meus senhores, é tudo na inocência, tudo na amizade! Como meu namorado poderia ficar zangado comigo?!
Ora, faça-me o favor!
Eu sou um pouco lenta, lerda, tudo bem, mas não posso ser tão idiota assim a ponto de achar que é tudo amizade, tudo na inocência. Faça-me o favor.
Por acaso eu tenho sangue de barata? Não tenho sangue nas veias? Se as pessoas não querem ser vítimas de mal-entendidos, que não armem situações embaraçosas pra si mesmas.

Estou com muita raiva porque eu gosto dele e achei que ele gostasse de mim...
Isso dói de tal maneira...

o ar está parado
pesado
eu acordei num pesadelo
olhei pela janela e vi o céu no seu colorido de chuva
a terra molhada
aqui, o ar parado
a casa em desordem
eu não estou mais aqui
não estou em parte alguma
meu coração já foi
acabou-se
engolido pela tempestade
dilacerado pelas mãos pequenas e macias daquele que deveria guardá-lo
quem disse que a vida é justa?
quem disse que a gente recebe aquilo que dá?
estou sozinha
ponto final.

idiota

Acabei de deletar o perfil do único amigo Dele que eu tinha na minha lista.
Talvez eu goste de sofrer. Talvez eu seja louca mesmo. Só sei é que fui olhar no perfil Dele e lá estava...
Eu sou é uma idiota. Sofrendo, me torturando, ficando em casa, me sentindo mal assim e por quê? Pra quê?
Enquanto eu sofro aqui Ele passeia por São Paulo... Típico, não?
Que ódio! Que ódio! Que ódio! Eu queria gritar! Gritar!
Que ódio!
Mais uma vez: sou uma idiota!!!

madrugada de treze de novembro

Deitei muito cedo hoje, não eram nem 21h. não havia muito o que fazer a não ser deitar e tentar descansar um pouco, descansar do tédio, esquecer as coisas por fazer, a casa em total desordem, a poeira sobre os móveis, a roupa a ser guardada. Esquecer a dor nas costas por ter ficado sentada, exatamente como agora, olhando pra esse monitor. Acabei dormindo. Não estava exatamente querendo dormir, apenas descansar. Mas acabei dormindo. Tive um sonho estranho, bom. Sonhei com os grandes compositores da música brasileira, claro que isso foi totalmente inspirado no programa de rádio que eu havia escutado antes sobre o Billy Blanco. Gostei do sonho, nada de mais, um sonho musical.
Mas acabei acordando por volta de meia-noite e meia. E, sem mais o que fazer, fui terminar de ler O Amante. Eu havia assistido o filme há tempos atrás, não me lembro muito bem dele. Terminei de ler o livro agorinha. É um livro fino e bom de ler, desses que numa sentada se lê facilmente, mas eu sempre adio as coisas, sempre dou um jeito de enrolar, de demorar. Fiquei pensando que eu também gostaria de ter um amor impossível, proibido e eterno. Mas eu não tenho estrutura pra esse tipo de coisa. Mal consigo lidar com coisas simples, cotidianas. Não consigo nem sentar e ler um livro de uma vez... E, além do mais, quantas pessoas podem viver esse tipo de coisa? Quantas? E por quê, diabos, eu deveria ser uma delas? O que há em mim pra me fazer merecedora de um amor eterno, impossível, proibido?
Hoje em dia resta espaço pra esse tipo de amor? Acho muito pouco provável a existência de uma pessoa, um homem, que se transformasse num amor impossível pra mim. Tentei imaginar que tipo de homem seria impossível: um estrangeiro, um padre, um mulçumano, sei lá. Nada me parece impossível ou proibido hoje em dia, não pra mim, com essa idade. Pode até haver situações difíceis, tristes, complexas, mas impossíveis? Acho que não.
Fiquei pensando e o que me ocorreu é que o meu grande desafio é viver um amor possível. Parece que isso tem sido o impossível pra mim desde desde.
Esses amores eternos só se fazem eternos porque duram pouco. E eu não quero que dure pouco pra mim, quero que dure muito, que o amor dure até a exaustão, que fique roído pelas traças e coberto de pó, e não que, ainda novinho em folha, em fase de experimentação, simplesmente seja congelado no tempo e no espaço pela separação inevitável.
Eu quero a possibilidade do amor. Quero amar até sugar a última gota, até que já não haja mais amor e é preciso muito tempo, eu acho, pra que isso aconteça. Às vezes me parece que as pessoas hoje em dia não têm paciência pra isso.
Talvez eu seja uma dessas pessoas.
De qualquer forma, achei tão linda a estória da menina e do seu amor feito sem palavras, feito com o corpo, construído eu quero dizer. Um amor de desespero e descobertas e lágrimas e sexo. Um amor que só se soube amor depois da separação. Achei tristíssimo. Lindo e trágico. Não como Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda, uma tragédia mais desoladora, não sei. Outro tipo de trágico, talvez porque sem magia, sem heroísmo, sem mítica, apenas uma menina branca e um homem chinês unidos pelo desejo, pelo amor, e separados por culturas diferentes, posições sociais diferentes. Triste e lindo.
Quanto a mim, de certa forma sinto-me abandonada. Mas o sentimento não cessa diante deste fato. Talvez devesse porque, afinal, fui abandonada. Não houve convite, nada, apenas um comunicado. E isso me entristece.
De que me adianta Ele sentir minha falta lá? De que me serve essa saudade remota? Isso me deixa com uma certa raiva, aquele tipo de raiva dolorido que se tem de quem se gosta.
Eu não deveria ter sido deixada pra trás.
Acho que isso era algo que eu não merecia.

Só me dei conta disso agora: fui abandonada.

E como alguém que abandona pode esperar ser amado?

domingo, novembro 13, 2005

pausa para o café da manhã

Pausa para o café da manhã.
Eu estava lendo O Amante.
Eu queria ser escritora também. Não vai dar, não tenho talento nem imaginação. Nada. Nunca vivi amores impossíveis, nunca vi uma guerra. Também não tenho olhos pra transformar o cotidiano que me ronda – e sufoca – em literatura. Jamais escreverei uma linha. Uma pena.
Acordei há mais de uma hora atrás de um sonho muito estranho, do qual só me lembro de uma casa alta onde algumas pessoas tentavam fugir Do Mal, O Grande Mal, Um Monstro talvez, e eu tentava fechar as janelas cheias de travas mas sempre tinha que abrir tudo porque chegavam pessoas que eu deveria pôr pra dentro. Sonho estranho e que ficava sendo recortado pelo trailler de um filme hollywoodiano que nunca existiu senão no meu sonho. E, de repente, o sonho e o trailler se fundiram porque a velha servindo animais estranhos, lêmures, eu acho, numa gosma verde pra si e cru para as personagens, estava ali, dentro da casa que eu tentava proteger.
Quando acordei, não sei porquê, pensei logo que O Grande Mal havia entrado na casa por minhas próprias mãos, que era uma daquelas pessoas que eu havia posto pra dentro. E que eu acordara pra não ver o triste fim da luta em fechar as travas infinitas daquela janela. Eu ficava pensando, no sonho, o que faria se O Monstro aparecesse bem ali na minha frente e eu tentando fechar as travas, as travas que pareciam não acabar nunca e era apenas uma janela. Pensei nas outras janelas e deveria haver várias porque a casa era grande. Se O Monstro entrasse, e eles sempre dão um jeito de entrar, como eu faria pra fechar aquelas benditas travas? Aquelas travas, apesar de parecerem infinitas, não serviriam de nada contra O Mal.
Resolvi fazer a pausa pra o café da manhã porque um dos meus vizinhos resolveu compartilhar seu PÉSSIMO gosto musical com toda a quadra. Quando acordei não havia música, só mesmo os barulhos do Plano num domingo, tranqüilo, ótimo pra se ler. Fiquei deitada lendo e então, pra minha infelicidade, começou o auê. Nunca compreenderei essa necessidade de ouvir música em casa como se estivesse numa festa, num trio elétrico, sei lá. Ainda que o vizinho inconveniente ouvisse Tom Jobim eu me sentiria incomodada. Acho simplesmente absurda essa conduta de incomodar a vizinhança ouvindo música alto demais. Dá vontade de fazer algo como jogar ovos podres na casa da figura, quebrar suas vidraças, sei lá, algo pra chateá-lo também e compartilhar meu sentimentos numa espécie de troco. É, se ele me incomoda, por que não posso eu incomodá-lo? Bem, de qualquer forma, essa nunca foi minha conduta, eu nunca fiz nada assim. Eu nunca faço nada, apenas penso em como seria se fizesse. Sou mais uma anestesiada, entorpecida. Pelo quê eu não sei.
A maldita da música eu tentei ignorar, mas aí começou a interferir demais na leitura. Poxa, o livro é superbom, tem uma fluência estranha, fala de coisas tão pessoais e o cara despejando dentro da minha casa essa merda! Entupindo meus ouvidos com esse lixo! Resolvi então ligar meu rádio e pus num volume suficiente pra abafar o som lá de fora, mas aí tava alto demais aqui dentro pra continuar lendo. Desisti da leitura, parti pra o café da manhã.
Foi eu ligar o micro pra o som do cara sumir. Abaixei o meu também.
Mas agora não vai dar pra voltar a ler enquanto eu não terminar de escrever.
Talvez eu encontre algo sobre o que escrever quando for mais velha, quando a vida tiver se mostrado em outras faces pra mim, porque parece que o que vivi até hoje não pode ser transformado em palavras, ou se pudessem, eu nunca saberia como tornar as palavras compreensíveis aos olhos alheios porque minha vida é compreensível somente pra mim. Toda tristeza, toda miséria de espírito, todas as alegrias perdidas são nulas diante dos olhos dos outros. Parece que nada nunca existiu quando sai da minha memória. Talvez algum dia eu consiga fazer com que minha vida seja visível aos olhos dos outros. Talvez algum dia ela pareça válida aos olhos dos outros filtradas pelas minhas palavras.

sábado, novembro 12, 2005

dia branco

O telefone tocou por volta das 3h15 da manhã e me tirou de um sonho labiríntico com Ele. Acordei sobressaltada, suada e confusa e era Ele do outro lado e por trás de sua voz, outras vozes, pessoas caminhando e conversando. Ele estava numa parada qualquer antes de São Paulo. Na verdade eu não pude dizer quase nada porque Ele só disse que gostava muito de mim e que estava passando mal e desligou. Eu desliguei o telefone, ainda confusa e dormi novamente quase que instantaneamente.
Desde que acordei, eu é que estou passando mal... no celular Dele aquela maldita voz pré-programada e fria me avisa da impossibilidade de completar a chamada. Ele não ligou hoje. Já passa das 18h e nem sinal Dele. Comi compulsivamente o dia inteiro e o mal-estar não me larga, não desgruda de mim. Queria saber apenas se Ele chegou bem, se está bem. Mas nem sei onde Ele está! Eu não sei como Ele está!
Estou preocupada com Ele e queria ter podido falar mais com Ele ao telefone... Queria que Ele me ligasse de novo pra dar notícias e Ele não liga e eu espero que seja porque tudo está bem e Ele está apenas ocupado demais pra ligar.
Não, eu não vou sair de casa porque espero que Ele me ligue, seja a hora que for.
Não há nada que eu queira realmente ver na rua hoje.
Estou nauseada.
O que pode haver pra mim lá fora?
O rádio ligado é uma tentativa de não me concentrar demais em péssimas idéias. Não a respeito Dele, porque Ele tem que estar bem. A meu respeito, a respeito do que me move, de quem sou eu, afinal.
Jogo paciência spider. Uma tentativa de pensar um pouco menos nos olhos Dele...
Tentei ler. Inútil. Inútil.
Não quero chorar.
Não quero sair.
Não quero dormir.
Parece que estou numa vigília, acompanhando minha preocupação.
Ah, meus senhores... Estou numa tristeza de dar pena, isso sim.

Adivinha a música que acabou de começar?
“Solidão é lava que cobre tudo,Amargura em minha bocaSorri seus dentes de chumbo.Solidão, palavra cavada no coraçãoResignado e mudoNo compasso da desilusão.”

Agora está tocando outra do Paulinho que eu gosto muito, mas ele é quem canta, não a Marisa Monte, “Coração Leviano”.

Continuo, então, na minha espera. Eu bem que deveria ter comprado mesmo a máquina de costura ontem, talvez costurando eu não lembrasse tanto... Preciso realmente achar algo produtivo pra fazer com o meu tempo que, agora, está sobrando.

O dia passou nublado, mas não acho que foi feio. A chuva é necessária e até gosto de ver a janela sendo lavada pela chuva. Não sei porque pensei nisso agora, mas esse céu de nuvens pesadas é realmente fantástico: tanta leveza e peso no mesmo céu esbranquiçado pelas nuvens que são lindas porque voam, se desfazem e se refazem eternamente até que acabam. Será que as nuvens acabam? Será que essas são as que sempre existiram ou são novinhas em folha?

São quase 19h e ainda estou de pijama.
Espero por uma ligação que talvez não aconteça.
Apenas espero e isso me deixa triste e queima minhas entranhas.
Um dia branco e triste pra mim que espero.
Enquanto as nuvens flutuam, eu rastejo nos meus medos.
Nunca fui boa pessoa. O Mundo também não é.

Vai ser um looongo final de semana...

sexta-feira, novembro 11, 2005

"today I sing the blues" ou "asa de mariposa"

Agora passa um pouco das 20h. Já estou em casa de pijama. Eu estava decidida a sair pra beber com uns amigos e depois ir pra uma festa. Não irei a lugar algum. Não tenho vontade. Na verdade eu tenho vontade de sair, mas é tão óbvio que seria melhor sair com Ele perto de mim, que prefiro evitar a fadiga de me entristecer pelo caminho e não aproveitar a noite. Pouparei meus amigos da minha cara de ausente, de saudade estampada nas fuças. Gosto muitíssimo dos meus amigos, mas agora, nessa fase da minha vida, sinto que preciso me concentrar Nele e não é porque Ele me cobre isso, é porque é algo que eu realmente gosto de fazer, que eu quero continuar fazendo. Quero estar junto de outras pessoas, mas pra Ele a minha atenção tem uma intensidade e um foco diferenciado. Ele está tão presente na minha vida, nos meus dias, nos meus pensamentos que... ah, sei lá.
Enquanto eu andava, desviava das nuvens de insetos, mariposas eu acho, porque esta é a época delas, delas enchendo os postes e se lançando contra quem passa pelo seu território de luz e água nas poças. Odeio insetos, especialmente os que atravessam o meu caminho. Odeio.
Enquanto as malditas mariposas zuniam batendo as asas em mim eu pensava Nele. Não sei onde Ele está agora. Coisas saíram errado e Ele não viajou cedo como queria: seu cartão bancário sumiu. Nos vimos hoje rapidamente e senti que Ele me tratou como se a culpa fosse minha. Quem me dera ter poderes pra interferir assim na vida das pessoas... Eu não queria que nada O tivesse atrapalhado. Não é que eu não queira que Ele viaje, ao contrário, espero mesmo que a viagem seja boa, mas eu queria era ir com Ele, estar com Ele noutros lugares, respirando outros ares... Mas não tenho dinheiro e acho que Ele realmente prefere estar a sós ou, tanto pior, com outras pessoas que não eu. Acho que isso é normal, apesar de me doer.
Enquanto caminhava pra casa fiquei muito tempo parada do outro lado da avenida em frente à minha casa. Ouvia os barulhos da cidade, as asas das mariposas que eu odeio e meu coração tentando abafar, tentando se conter. Agora estou ouvindo Elis. Queria ouvir Maysa, mas nesses momentos é totalmente contra-indicado porque não quero chorar. Essa dorzinha, meio pressentimento, meio insegurança, meio medo do tempo e do espaço, meio paranóia, meio saudade, meio desespero, meio desejo... e eu no meio disso tudo? Eu, nada. Só me resta esperar. Não sei porque essa viagem me dói tanto, mas ao mesmo tempo sei e preferiria ignorar. Acho que Desespero está ali me olhando pelo espelho e já empunha seu anel: o ritual de autocomiseração está prestes a começar. Monólogo e solilóquio se intercalando aqui neste apartamento pequeno e desarrumado chamado cérebro.
Enquanto caminhava no conic vi um amigo e fui falar com ele. Ele estava com uma cara tão cansada... Disse que estava vindo do enterro de uma amiga, uma mina da sua rua. Fiquei tão triste por ela, uma adolescente que eu nem conheci. Ele não precisou me dizer que tinha sido um acidente de carro: véspera de feriado prolongado é assim... e nessa faixa etária, essa é a morte mais comum. Pensei na menina animadíssima pela viagem e aí pensei Nele. Não pude não pensar que Ele vai estar na estrada também e eu temo. Espero que seja só paranóia esse frio na barriga, essa vontade de chorar... Eu só queria poder estar com Ele...
No entanto, fico em casa. Vou comer mais bolo, engordar mais um pouco, talvez chorar um pouco.
O sono já vem vindo, o que é um consolo. O sono e eu: só nós dois a sós.
Será que isso não é apenas arrependimento? Sim, arrependimento por não ter dito antes o que me bate no peito junto com esse sangue anêmico? Não dá pra ficar esperando ocasiões pra esse tipo de coisa e, como eu já escrevi antes, as coisas não têm uma data de fabricação e validade, elas são o que são e não importa se pra algumas demora mais ou menos pra acontecer... Sim, lamento não ter dito o que eu queria antes porque se eu dissesse hoje, que Ele vai viajar, hoje soaria como algo do tipo “não me deixe só”. Mas eu sou péssima, péssima com o Tempo... meu timing é uma merda e eu sempre adio o que não deveria adiar, o que deveria fazer agora.
Tenho medo, muito medo, isso é verdade, o resto, não sei.

dez de novembro e o café turco



Morgana e eu saimos hoje pra ter nossa sorte lida na borra do café turco. Gosto do café turco, espesso, frio e doce. Não vou dizer oq ue a xícara me disse, só queria dizer que foi isso o que fiz hoje de noite.

Outra coisa que fiz hoje foi chorar. Odeio chorar em público... Chorei na frente Dele. Ele vai pra São Paulo amanhã e passa todo o final de semana lá, e emenda junto com o feriado. Pra mim, tempo demais, pra Ele, o tempo Dele, nada mais justo. Ele é alguém que não se pode prender à amarras, especialmente às minhas. Está mais do que certo: melhor investir em sua própria vida.

Se eu tivesse uma oportunidade de viajar, um emprego em vista, qualquer coisa, também iria. É isso o que eu digo pra mim mesma enquanto a maldita azia me queima as tripas e meu coração palpita descompassado. A saudade é mesmo, como diria o Adoniran Barbosa, um bichinho que pra roer tá sozinho, e como rói a danada!

Ele ainda não foi. Está em sua casa ainda, imagino eu. Eu estou aqui, insone. Triste... Patética! Sei que são só alguns dias, mas tanta coisa acontece em poucos dias... e acontece que eu não queria ficar longe Dele... Telefone, e-mail, cartão postal... não sei como as pessoas conseguem ter relacionamentos à distância. Não sei e nem quero saber, na verdade. Eu quero mais é continuar O vendo todos os dias. É só isso que sei agora.

Bem, meus senhores, tenham todos uma boa noite e até qualquer noite dessas...

domingo, novembro 06, 2005

queima Eu

de pensar em você estou queimando
sigo incendiada
cabelos em fogo
chamas nos olhos
a voz do fogo
mas as palavras que eram fogo, logo viram cinzas
mas você você você você permancece queimando tudo em mim
minhas vísceras
meus pensamentos positivistas
meu desejo
meu medo
eu


"tão bom morrer de amor e continuar vivendo..."

sexta-feira, novembro 04, 2005

sem palavras...

Ele parou o carro.
Eu juntei minhas coisas e sai.
Eu não disse nada.
Ele não disse nada.
Nada me ocorreu.
Nada havia que ser dito.
Agora?
Bem, agora somos só eu e a eternidade desta noite...
Sou um animal.
Ele diz que sangra.
Eu menstruo.
Ele disse que não sabia que era tão mau.
Eu não disse nada.
Poderia ter dito.
Se eu soubesse o que dizer, teria dito.
As palavras nunca estão presentes quando preciso delas.
Então eu bati a porta do carro e sai levando minhas coisas.
Ele não disse nada.
Eu estou aqui.
Continuo sem palavras.
Eu e a falta das palavras.
Ele ligou o carro e foi embora.
Eu entrei.
Subi as escadas guardei as compras e liguei o computador e pus meias e tomei suco e tomei água e pensei que eu sou um desperdício de vísceras e tinta pra cabelo e que Ele vai ficar melhor sem mim e não chorei como de costume e andei um pouco por este minúsculo apartamento e fechei as cortinas e pensei que eu realmente não consigo me habituar a ser uma pessoa melhor e que Ele está definitivamente melhor sem mim e me senti nauseada e...
Não olhei pra trás.
Bati a porta do carro sem dizer nada nem sequer um adeus, até um dia, foi incrível ter te conhecido e me desculpe por não me desculpar mas eu não sei ser outra pessoa...
Eu não disse nada.
Nada havia pra ser dito.

Ainda não há nada pra ser dito.

quinta-feira, novembro 03, 2005

o tanque e jesus

Eu deveria me comportar todos os dias da mesma maneira.
Eu deveria estar me sentindo da mesma maneira todos os dias.
Não, não de qualquer jeito, de um jeito beeem específico: o jeito que Os Outros gostam. O jeito que Os Outros acham que eu devo ter pra que Eles saibam que são queridos.
Essas variações de humor provocadas pelo ciclo menstrual são coisas da minha cabeça, coisas que um pouco de boa vontade resolveria. Claaaro. Assim como as gengivas que sangram facilmente e os piercings que inflamam durante a menstruação: coisas da minha cabeça.
Já ouvi muita gente dizer que a depressão é frescura, coisa de gente à toa. Já ouvi dizer que psicólogo é pra quem não tem mais o que fazer e gosta é de gastar dinheiro porque deveria mesmo era freqüentar a igreja. Enfim, já ouvi dizer muitas coisas a respeito de situações que só quem as vive pra saber se elas são reais ou não, então não há como discutir com quem tem essa mentalidade de “se eu não sinto, é frescura”.
É, eu sou uma fresca. Mas não deveria. Deveria estar sempre preparada pra agarrar meu homem e transar em todas as posições do kama sutra o dia inteiro. Cansaço é frescura. Falta de vontade é frescura também? Deve ser. Isso de simplesmente ficar abraçadinhos é o auge da insanidade! Pra que perder tempo com isso?!
Meus senhores, será que existe alguma coisa na qual eu seja boa o bastante? Porque até as minhas variações de humor são totalmente inadequadas, uma grande frescura da minha parte!
Acho que o anticoncepcional está me deixando inchada, mas, enfim, isso deve ser mais uma outra frescura da minha cabeça fresca. Esse um quilo a mais que engordei deve ter ido parar em outro lugar, nos meus bíceps, com certeza, até mesmo porque anticoncepcional não faz esse tipo de coisa, não é? Claaaro que não!
Que fresca eu sou! Que fresca!
Talvez eu acabe então aceitando os conselhos que muitos insistem em me dar embora eu nunca tenha realmente achado que precisasse, mas, enfim, como Todo Mundo sabe mais sobre mim e sobre a minha vida do que eu própria... vou procurar em alguma igreja a boa vontade que me falta, a fé que vai me fazer melhorar tudo na minha vida a partir do momento em que eu aceitar jesus e resolver seguir seu exemplo e espalhar seu evangelho. Do jeito que vendem a sua imagem, ele cura até unha encravada, então deve poder resolver todas essas minhas frescuras.
Também já me disseram várias vezes que pra curar essas frescuras basta eu lavar umas trouxas de roupa, fazer faxina... Serviço doméstico é terapêutico na visão de muita gente. Vai ver que é por isso que as donas de casa se sentem tão felizes com sua posição na sociedade, com o reconhecimento que recebem da família, porque elas devem ter total reconhecimento da família, não é? Vai ver que é isso então: eu deveria ser dona de casa!
Já posso até imaginar: eu, uma dona de casa, religiosa fervorosa e ninfomaníaca. Acho que tem tudo a ver, né? Isso sim é real, sem frescuras e com muuuuuita boa vontade. Eu rezando na igreja, chegando em casa, fazendo todo o serviço doméstico e sempre pronta pra acabar com meu homem de tanto trepar. É, é possível.
Variações de humor nunca mais! O tanque e jesus vão me salvar!!!

terça-feira, novembro 01, 2005

inadequada

Bem, o que posso dizer? Mais uma vez, mais uma vez... sempre me dizem que gostam de mim por eu ser quem eu sou, mas a verdade não é exatamente assim: na primeira oportunidade começam as sugestões de mudanças. Mudanças bem sutis, claaaro. Afinal, foi por eu ser quem sou que gostam de mim. Claaaro.
É obvio que eu quero mudar em vários aspectos porque quero ser uma pessoa melhor, mas isso não passa nem perto de mudanças na minha aparência: a cor e o corte do meu cabelo, as roupas que visto, nada disso é o foco das mudanças que pretendo efetuar em mim mesma. Foda-se a opinião do resto do mundo! É simples assim pra mim: eu uso o que me dá vontade, o que faz sentir confortável. Ponto final. No dia em que eu precisar de consultoria de moda, eu peço ajuda especializada.
É engraçado isso, as pessoas estão sempre prontas a me fazer alguma sugestão a respeito da minha aparência, mas não costumam é levar em conta que, ainda que digam um milhão de vezes que esta ou aquela peça me cai bem, se eu olhar no espelho e achar uma merda, não há insistência alheia que me faça sair de casa me sentindo desconfortável pra mim mesma. Eu posso estar vestida de maneira ridícula, absurda mesmo aos olhos dos outros, se eu estiver me sentindo bem, foda-se, é assim que vai ser.
Roxo. O cabelo permanecerá com as mexas roxas.
Continuarei usando camisetas com estampas debochadas.
Usarei calças folgadas.
Até quando? Bem, até quando eu enjoar. Pode ser que amanhã eu acorde e, ao abrir o guarda-roupas eu pense “que merda de visual, vou parar de usar essas merdas e vou andar de saia rosa e sandalinha bico-fino”. Pode ser. E se eu decidir andar assim algum dia, problema meu!
Detesto quando as pessoas se apegam a esse tipo de coisa.
Já não me basta ter que trabalhar? Agora eu também terei que fazer outras coisas que eu não gosto por motivos que considero inválidos?
Mas sabe por que esse post? Porque estou acostumada aos olhares de estranhamento das pessoas na rua, mas quando alguém que eu realmente gosto me faz sentir na necessidade de fazer coisas, me sinto desrespeitada. Me sinto anulada. Detesto ter que fazer coisas pra agradar mesmo sem a menor vontade de fazer. O bom de você fazer algo pra alguém é isso ser espontâneo, vir de uma vontade livre, não de uma mera obrigação do tipo “mas ciclano fez isso, então eu tenho que fazer aquilo”. Que merda.

Ah, mais uma coisa, meus senhores: porque eu sempre penso coisas horríveis das pessoas que não me dão motivo algum pra isso, O tirei da minha lista de amigos do iorgut. Não preciso me aborrecer até pela porcaria da internet. E eu entrei nessa merda de iorgut pra me divertir, pra passar tempo. É, eu devo ser mesmo uma pessoa horrível, e se não for, acabarei sendo por maioria dos votos... Que merda.

E pouco me importa que agora já é dia de finados. Os meus mortos andam sempre comigo.
Odeio cemitérios. Se bem que, neste momento, estou odiando muitas coisas... Porque eu passei rimel nos cílios, perfume, gloss e aqui estou eu, escrevendo e falando sozinha porque eu não sou empolgada o bastante. Porque meu timing é inadequado. Aliás, sejamos francos, o que em mim não é inadequado então?! Que merda.