terça-feira, fevereiro 28, 2006

vinte e oito de fevereiro

Fui visitar meu pai ontem. Ele está bem melhor. Está andando sozinho a maior parte do tempo, não usa mais fraldão e está comendo direitinho. Semana que vem eu volto lá.

Pouco depois de ter chegado aqui, saí com umas amigas pra uma festa que eu não estava lá muito empolgada pra ir, mas, enfim, fui. Fui mais mesmo por causa da companhia delas do que por qualquer outra coisa. Era uma festa anos 80, mas acho que o dj não sabia desse detalhe... Eu me diverti, dancei muito.
Dançar é sempre bom.
Mas, sei lá, eu estava com sono e pensei que talvez devesse ter mesmo ficado em casa.
Ando agora sempre com essa sensação de que talvez fosse melhor ter ficado em casa... Acho que estou pronta pra me aposentar. Essa coisa de costurar, bordar, crochetear, isso é algo que me agrada muito, que me faz sentir vontade de ficar em casa produzindo. É tão bom ver alguma coisa pronta e pensar que deu um puta trabalho, mas que ficou bacana. Calma, meus senhores, não quero ser dona de casa e nem muito menos ser Amélia de nenhum machinho, quero ficar em casa quando puder e quiser, fazendo coisinhas fofas, inventando, adaptando. Normalmente minha vida é tão estéril, e isso é uma forma de driblar essa sensação. Arte nunca foi meu forte pra produção de coisas, mas o artesanato parece preencher o espaço vago desse departamento. Sei lá.

Afff... acho que estou virando um ser assexuado de novo...
Na festa de ontem, só um cara me chamou a atenção, mas aí eu apertei meus lábios, senti a argola e lembrei porque ela está ali... Desanimei na hora. E acho que é beeeem melhor assim mesmo. Não vou atrás de ninguém. Não espero que ninguém venha atrás de mim. Sou péssima com essas coisas de relacionamentos e não quero só uns beijinhos pra preencher minha cartela... então, sem saber pra onde ir, fico paradinha onde estou. Além do mais, o cara é amigo de uma amiga, e isso complica as coisas. Tô fora, chega de complicações. Quero as coisas bem fáceis agora. Se não der pra ser assim, foda-se, fico sozinha mesmo porque já estou acostumada. E não vou morrer por falta de namorado, só vou ficar menos feliz, mas isso já é rotina...
Fácil como? Bem, meus senhores, explico: quero que um cara me ame loucamente e que eu o ame também. Só isso. Mas o que é foda mesmo, é achar alguém que eu possa amar e que me ame também porque eu não sou nada fácil de conviver. Putz, tem gente que tem medo de mim só de me olhar, e o olhar é a primeira barreira. Um cara tem que ter culhão pra se aproximar de mim. E, depois que me conhece, tem que ser mais foda ainda pra continuar comigo, pra me admirar, me respeitar. Eu não me curvo, eu tenho muitas idéias, meus princípios são firmes, e isso não é lá uma coisa que a maioria dos caras valoriza. Por isso que digo que quero tudo fácil agora, porque o difícil eu já tive demais. Chega de dificuldades. Então é isso: ou é fácil, ou é nada.
Onde estão os caras inteligentes, independentes e divertidos? Será que são todos casados já ou são gays?! Será que quando eu ficar mais velha ainda vou encontrar alguém assim?
Pior ainda, eu acho... Caras de meia idade parecem estar muito preocupados tendo suas crises e arranjando namoradinhas que têm idade pra ser suas filhas, pra se interessar por mulheres da mesma idade... Putz, me ferrei nessa, né? Ainda bem que tenho muitos livros pra ler, muitos filmes pra ver, família grande e algumas boas amigas e amigos pra me fazer companhia enquanto não chegar meu dia de voltar ao pó, coisa, aliás, que eu espero demorar ainda um bocado.

Depois de comer um miojo e bis de sobremesa, me pergunto se a vida poderia ser melhor agora. Estou bem assim, em casa, de pijaminha de bolinhas e meias. A vida é boa quando fica assim, tranqüila.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

medo...

Estão fazendo outros buracos na minha casa. Os outros não adiantaram nada, então eles recomeçaram hoje pela manhã. Até agora já fizeram três. Meus livros foram embalados às pressas, assim como todos os outros objetos e garrafas de cachaça da estante. A cômoda, a estante e o cesto de roupas estão cobertos por lençóis da senhoria. Eu estou aqui, costurando, confinada.
Tossindo, perto da janela, ouvindo o som irritante das ferramentas quebrando o piso e o concreto, senti-me antiga. Antiga. Não velha, tampouco idosa, antiga. Pensei na vida das mulheres de séculos anteriores, em casa, fazendo tarefas como estas, costurando, bordando, pregando botões... e a casa sendo posta e disposta independentemente delas.
Mas eu ainda tenho a rádio na internet com os hits dos anos 80. Eu olho pela janela e não há nada de bucólico nesta vista. O céu azul, opressivamente claro como sempre, não faz adivinhar as chuvas do entardecer, mas tem chovido nestes últimos dias e eu penso que, só pra me chatear, vai chover hoje de novo. (Sim, creio que se os deuses existem a função primordial deles é me desagradar)
O viés vermelho no meu colo, os retalhos, as agulhas espetando uma almofadinha em formato de coração 100% intencional, a tesoura da minha irmã, a poeira, a Madonna... é impressão minha ou estou totalmente fora de lugar em minha própria casa?

Estou simplesmente apavorada com a escola nova. Sim, é muitíssimo mais perto da minha casa, mas – que os deuses tenham piedade desta pobre criatura – são crianças! Dei “aula” pra eles ontem e quase morri! Saí acabada, exausta, podre de cansada. Depois tive que sair correndo e pegar um ônibus pra ir pra UnB. Quase caí da cadeira de tanto sono. Nossa, crianças não deveriam nunca ser colocadas juntas! Nunca! Aquilo era uma matilha! São vampiros que sugam nossa energia vital! Não sei como é que vai ser isso não. Não sei mesmo. Mas o pior é que estou tendo que dar “aula” de uma matéria que não é a minha, com a qual nunca trabalhei antes, mas tudo pelo bem de ficar perto de casa. Tudo pela proximidade. Espero que, com os dias, as coisas melhorem...
Daqui a pouco precisarei ir pra lá de novo.
Ai...

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Minha terceira barra de cereais com chocolate do dia.

Estou ouvindo o cd novo que ganhei pela terceira vez. Esse é só com músicas dançantes e é bem legal. Como eu havia dito, o cara tem bom gosto pra músicas. Ele é bem legal também. Espero que essa coisa de amizade entre nós funcione porque todo o resto falhou.

Ando fazendo crochê compulsivamente. Substitui a autofagia por agulha e linha... Alivia a ansiedade, isso é verdade. Acho que está sendo terapêutico pra mim. Apesar de pensar muito, enquanto a agulha vai e vem quase no piloto automático, são pensamentos diferentes daqueles que me ocupam quando estou de mãos vazias. Eu me perco no movimento repetitivamente hipnótico da agulha trespassando a linha, o atrito entre meus dedos finos e o metal.

Cheguei à conclusão de que preciso de um cara que seja independente de fato da casa paterna e da barra da saia materna. Não, não adianta trabalhar e pagar as contas mas continuar morando com a família. Tem que ser um cara que dê conta de si mesmo, pra valer, de todos os detalhes de sua vida, a começar pela sua própria casa. Isso não quer dizer nem de longe que agora eu me transformei numa interesseira mercenária, não, de jeito nenhum!, mas eu realmente ponderei muito a respeito desta questão e creio que, se couber a mim escolher as características que um cara deve ter mais ou menos semelhantes às minhas, esse é um dos itens primordiais: independência. Não, não quero ser sustentada, não quero ninguém pra pagar minhas (muitas) contas, quero um cara que seja responsável pelo seu sustento, que saiba colocar rolo de papel higiênico no banheiro porque eles não brotam espontaneamente lá, um cara que faça compra do mês, que limpe o banheiro. Isto significa dizer: um homem que tenha o domínio das coisas práticas da sua vida, que não fique esperando que ninguém faça as coisas por ele, que tenha atitude.
Não estou dizendo que meus relacionamentos passados foram arruinados porque os caras moravam com a família, o que estou dizendo é que todos eles tinham isso em comum e que agora quero tentar algo diferente pra ver se obtenho resultados diferentes.
Quero acrescentar ainda nessa minha “wishlist” que fumantes estão veementemente descartados. Beber uma cervejinha de vez em quando, tudo bem, mas beber todo dia, nem pensar! Chega de alcoólicos na minha vida! Já me bastam os exemplos na família...
Bem, aquelas qualidades utópicas como inteligência+bom-humor+sorriso encantador+beijo matador+sensibilidade continuam valendo, mas, enfim, sonhar não paga imposto, né?
Ah, meus senhores, eu tenho certeza que muitos dentre vós têm todas essas qualidades, mas vós sois de outrem, têm seus corações nas mãos de outras damas e isso é bom. E, dentre vós, quem ainda não é meu amigo? Amizade é o sentimento que eu mais prezo na vida, e isso colocaria qualquer um de vós fora do meu rol de outras intenções...
Se bem que um pensamento bastante estranho anda pululante como janelinha pop-up nesta minha cabecinha: talvez o amor que eu tanto quero deva nascer de uma grande amizade. Mas isso não é pr’agora não, meus senhores! Primeiro eu tenho que conhecer um cara diferente, pelo qual ainda não tenho sentimentos nobres e nem nenhuma intenção. Aí sim, com o convívio, com o conhecimento de ambas as partes, com as conversas, aí surgiria e cresceria o Amor. Não seria lindo?! Ai, ai... *suspiro*
Do jeito que sou sortuda, capaz de me acontecer como naquele filme “nunca te vi, sempre te amei”...
Credo!
Ah, isso sim seria muito Romântico! E seria uma merda na vida real, fora das páginas dos livros e longe das telas de cinema...
Credo!

Enquanto isso, na vida real, continuo olhando um certo alguém com olhos que transitam entre o querer e o medo. O cara sabe que existo mas não sabe que existo. Deve achar que sou lésbica também... às vezes isso me deixa muito chateada. Mas o que posso fazer a respeito?! Não dá pra sair por aí dizendo: “olha, pessoa, essa imagem que você construiu do universo gay é muito limitada! Nem toda garota de cabelo curto e calças folgadas é lésbica. Então larga de frescura e me beija logo!”.
Tem outra coisa também que muita gente me diz, que me achava metida e brava. Ser tímida e introvertida é uma bostaaaaaa! Como é que eu vou sair por aí dizendo: “olha, pessoa, eu gosto de você, sabia? Não me leve a mal se não falo contigo direito, se não te comprimento, é que tenho vergonha...” Não, não dá não. Quando tento ser mais “simpática”, parece que tem 1kg de argamassa cobrindo meu rosto, pareço artificial demais! E, pior que tudo, não sei ser sutil... Nunca soube. Sempre fui muito direta e isso já faz os caras pensarem naquelas merdas do tipo “se ta dando em cima de mim, essa daí dá em cima de qualquer um/todo mundo”. Coisa mais baixo-auto-estima pensar isso, não? Ao invés de se sentirem especiais, a maioria dos caras se sente apenas mais um na multidão quando uma mina dá em cima, automaticamente desvalorizando-a pela escolha. Mas, enfim, se o cara pensa isso então é porque ele é realmente mais um merda na multidão e, certamente, é uma pena que a mina esteja perdendo seu precioso tempo com um tipinho assim de pensamento tão raso...
Whatever...
Whatever...

Fico por aqui, meus senhores, antes que me sinta amargurada e acabe com este dia que foi tão produtivo.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

quatorze de fevereiro de 2006

Acabou de me ocorrer que o afeto desinteressado do cara que me deu o cd dias atrás pode não ser tão desinteressado assim. Ele gravou outro cd pra mim, mas ainda não o peguei. Devo pegar daqui a uns dias, quando tiver tempo. Não sei porque pensei nisso agora, apenas me caiu na cabeça como uma fruta podre este pensamento. Definitivamente espero que seja só mais uma das minhas maluquices, das minhas paranóias delirantes porque não tenho a menor, a mínima, a mais remota intenção de sentimentos para com o garoto que estejam além da esfera da amizade.
É estranho ter esse tipo de sensação, como se eu estivesse sendo lida por um dislexo que troca a ordem do que escrevo e compromete meu discurso, inverte-o tornando qualquer interpretação equivocada.
Ah, meus senhores, sei exatamente o tipo de cara que não quero ter na minha vida pra estreitar relacionamentos amorosos...
Bem, provavelmente isso é só a minha imaginação fértil... Tenho que parar de me preocupar com essas coisas sem fundamento.
Whatever...
Estou gripada. Odeio ficar gripada. E logo agora que estou resolvendo minha vida na escola... acho que é a renite fazendo efeito...
Ainda estou com problemas pra dormir, ainda mais agora com as vias nasais totalmente entupidas... Odeio ficar gripada!

Ainda estou pensando no filme de ontem... Será que tem livro no qual ele foi baseado?
- Tem sim, acabei de ver no site da cultura. Por isso q eu achei tão parecido com Razão e Sensibilidade... é da mesma autora, Jane Austen.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Orgulho & Preconceito

Ok, eu admito: sou uma Romântica incontrolável... com todas as letras e no mais literal do sentidos...

Fui ver hoje “orgulho e preconceito” e – adivinhem, meus senhores – chorei h-o-r-r-o-r-e-s!
Eu adoro esses filmes de época! Eles me fazem não querer parar de usar o ponto de exclamação! Tudo é tão comovente e, ao mesmo tempo, melancólico... desde a condição das mulheres de serem coisas sem valor em si mesmas, oprimidas, reprimidas; até às paisagens vastas, os verdes, os azuis; os figurinos maravilhosos; os cenários deslumbrantes; os amores impossíveis; as rígidas regras sociais; a maneira como eles falavam; a maneira como eles não se tocavam nunca.... ai, ai, ai... *suspiros*
Como é que a gente se perdeu nesse mundo de toques e palavras ditas da boca pra fora?
Obviamente eu não gostaria de ter nascido no século XVIII, não como mulher, não pra passar das mãos do senhor meu pai pr'as do senhor meu marido, não, não, não. Não é nada disso. Mas não posso deixar de suspirar por uma época em que se trocavam longas e comoventes cartas de amor, em que pessoas se apaixonavam ao trocar alguns olhares e meia dúzia de palavras, uma época em que não havia a necessidade de contato físico pra se descobrir o amor. Sim, isso me encanta, me comove... Isso faz com que eu esteja condenada a sonhar com amores sutis e sendo acordada pela bofetada na cara da frustração desse mondo canem em que vivemos...
Sou Romântica... quero sempre o que está muito além deste mundo, das minhas mãos, da minha carne que, logo, logo, será a morada de vermes. (Sim, eu amo o Agusto dos Anjos e sinto-me mais filha do carbono e do amoníaco que nunca...)

É por isso que sempre choro nesses filmes: choro porque eu nunca terei um amor assim, sublime, tão forte e imortal quanto um sorriso adivinhado, tão belo e puro quanto uma manga madura, tão verdadeiro quanto eu e vocês, meus senhores. Tal amor não cabe neste mundo, ele só se faz carne na fantasia da Arte... Por isso eu choro, por isso eu choro de soluçar na escuridão anônima dos cinemas: tudo está perdido pra mim que não sei viver neste mundo e nem tampouco poderia habitar outros...

Ah, meus senhores, finais felizes só existem no cinema... A mocinha inteligente, porém orgulhosa, só pode se dar bem em Hollywood... Não sei dizer que tipo de mulher se dá bem neste mundo, só sei que não é o meu...

Whatever...
Como ouvi no sábado em “a passagem”, há Beleza demais no mundo pra se desistir. É, preciso concordar com isso. Ás vezes eu me faço cega, mas ainda assim existe Beleza, ainda que meus limitados olhos e minha sensibilidade míope não A alcancem. Ela está por aí, em todos os lugares.

...
Agora estou viciada em fazer trabalhos manuais. Ótimo momento pra isso me acontecer porque preciso realmente me concentrar em coisas diferentes, preciso criar, preciso fazer coisas, ver algo surgindo de onde, antes, só havia a matéria bruta. Nada realmente surpreendente e suuuper criativo, mas é um começo, o começo de um momento diferente nesta minha vida tão sempre a mesma. Quero aprender a fazer coisas. Quero criar!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

oito de fevereiro de dois mil e seis

O arroz, o feijão, a salada e o bife têm o mesmo gosto de perdi-o-apetite...
Acabei de ver O Girassol, e a julgar por sua saída mais que sorrateira, ele me viu também.
No momento não me ocorreu que eu pudesse ir lá cumprimentá-lo. Na hora, nada me ocorreu que realmente valesse a pena. Nada além de “vá em outra direção, estúpida!”.
No entanto eu gostaria que isso parasse, que pudéssemos superar as animosidades e simplesmente nos cumprimentarmos civilizadamente e que pudéssemos trocar longos e-mails sobre as misérias dos nossos cotidianos tão pouco interessantes.
Ele continua o mesmo – exatamente o mesmo – por fora, mas me interessa saber como está por dentro...
Amor? Não, não, meus senhores, isso já foi sublimado. Permanece a vontade de restabelecer um tipo de diálogo que só com ele pude ter. Houve uma conversa entre cartas que diziam muito, entre nossos silêncios... e ele me dizia coisas sobre si que não dizia a mais ninguém e eu me sentia tão bem por ouvi-lo, por abrigar suas coisas tão pessoais... e havia o fato dele escrever bem. Talvez isso tenha feito toda a diferença: ele escrevia bem. Eu realmente gostava de ler o que ele escrevia. Nunca mais houve isso. Antes também não houvera.
Sinto falta dessa intimidade forjada em diálogos compridos, doces, mudos, tímidos, que demoravam pra ser escritos e depois pra serem lidos...
Sinto falta da risada dele.
Sinto falta da voz dele.
Sinto falta dele me explicando os textos que andava lendo com uma naturalidade tão só dele. Eu me apaixonei por uma sensibilidade que me destruiu, isso é fato, mas esta mesma sensibilidade me fez ver tantas coisas que eu nem saberia dizer.
Amor? Não, não, não obrigada. Mas eu queria os diálogos. Queria muito voltar a conversar com ele. Mas como? Como? Não sei se poderia olhá-lo nos olhos sem odiá-lo pela dor que impôs ao meu coração já tão alquebrado... e... e, no entanto, cá estou eu, ansiando por um pouco de seu tempo, de suas palavras...
Eu engulo a massa insossa, assim como durmo pr’acordar todos os dias. Acordar num novo dia, um diazinho tão novinho em folha quanto ontem.
...

A lua, agora, está da cor das nuvens ralas que tentam preencher o céu desse sol que já vai se pôr. Porque no horário de verão deveria ser noite e ainda é dia. Até a lua sai antes do tempo...
Estranho como tudo parece congelado, petrificado, até o calor, o suor que me escorre margeando o rosto, o fedor daquele esgoto logo ali, tudo. Acho que já vivi este exato momento milhões de vezes.
Mas, ei!, um passarinho de barriga amarelo-limão cisca uns degraus à minha frente. Ele é lindo, gracioso e breve como tudo o quanto é bom.
...

Resultado imediato da endoscopia do meu pai: ulcerações do estômago até a garganta. Se tiver uma hemorragia, disse a médica, dificilmente escapa. Minhas irmãs me mantêm informada. De longe, eu penso nele, receio por ele. De longe, sou tão útil quanto sempre fui... Mas não tenho coragem de tomar responsabilidades pra mim; não consigo me imaginar dormindo no hospital. Não, eu odeio hospitais! Eu os odeio! Mas tenho que ir durante o final de semana pra ficar durante as tardes. Ninguém me disse isso, eu me ofereci. Não sei como suportarei isso, mas devo ir. Resignação. Resignação!
...

Minha avó morreu. Descansou, prefiro dizer. O corpo, já quase nada, volta ao pó. A alma?, bem, isso não sei não, senhor, porque nem mesmo sei se ela existe... mas, enfim, minha avó, Iaiá, morreu. Agora tia vai descansar um pouco também antes que chegue a sua vez de deitar-se e não mais levantar. Gosto da tia... devo ligar pra ela quando eu me lembrar.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Os mecânicos são um exemplo de categoria profissional que ganha não necessariamente pelo que eles sabem, mas pelo que nós não sabemos.
Toda vez que alguém me diz que precisou de um mecânico, é nisso que eu penso, meus senhores.

Enquanto voltava pra casa hoje de noite, pensei que as luzes dos postes ofuscam a luz da lua no Lago... Isso me deixou triste. eu preferiria ver o reflexo da lua do que das luzes amarelas no Lago, aquele espelho negro de águas calmas.

Quarta-feira eu volto pra o pelourinho... Achei que seria amanhã. Senti dor de barriga quando liguei pra lá hoje e me avisaram que querem que eu fique no matutino... que atraso no meu curso... não quero ficar em regência no matutino, preciso desesperadamente do vespertino. Senti vontade de chorar.

Meu pai voltou pra o hospital hoje. Fiquei sabendo agora pouco. Antes que ele ficasse desidratado e denutrido, meus irmãos o levaram. Essa coisa dele não querer comer é séria, muito séria mesmo. Acho que ele não tem muita convicção a respeito de querer continuar vivo, de querer melhorar. Acho que o vício da bebida faz falta demais pra ele e talvez ele não consiga ver motivo em querer melhorar se, ainda assim, não poderá beber mais.
Talvez ele finalmente tenha pensado a respeito de sua vida e justamente por isso prefere deixá-la. Sei lá. E ele não fala comigo, quer dizer, não fala com ninguém. No máximo reclama de alguma coisa, mas não conversa com a gente.

Sabe, fodam-se os outros, eles que pensem o que bem entenderem a meu respeito!, continuarei a andar do jeito que gosto até que eu simplesmente pare de gostar.

Ah, meus senhores, bem-vindos à minha montanha-russa emocional!

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

secret smile...

Este foi um final de semana bacana. Eu comi direito. Eu bebi na medida = não vomitei + não dei vexames horrendos. Passei o domingo com meu pai. Tive uma overdose de “secret smile”. Almocei sábado com um amigo queridíssimo. Vi amigos. Recusei um convite que me deixou arrepiada de vontade de aceitar, mas meu coração está cansado de sofrer os impulsos do corpo. Dancei música da pior qualidade totalmente sem ritmo e sem-vergonha em local público. Ri muito e o que é melhor: a toa. Vi dois filmes no cinema: o segredo de brokeback mountain e dizem por aí.
Gostei dos dois, mas por motivos beeem diferentes.
O segredo de brokeback mountain é desses filmes de partir o coração, é triste, é muito triste e eu chorei pelas personagens, pelo sofrimento delas, mas chorei também pelas pessoas que encontram um amor na vida e são impedidas de viver isso com a intensidade e devoção merecidas por conta da merda do preconceito na cabeça dos outros que acaba se infiltrando na gente... Muito triste não se viver plenamente por conta de restrições sociais uma coisa tão rara, tão bonita, tão pura: amor, amor verdadeiro.
Dizem por aí eu gostei porque tem uma estória engraçada com um elenco bacana e tem final feliz que era tudo o que eu precisava ver no dia de hoje, mesmo que na tela do cinema...

Meus dias de férias estão no fim... terça eu volto pra o pelourinho...

Sei lá, sobre a música, secret smile, pensei que seria bom eu achar algo de bom em mim mesma e não esperar que outra pessoa o faça...
Talvez eu tire meus piercings em breve e pare de pintar o cabelo de azul e pare de usar calças masculinas pra skatistas. Estou cansando de remar contra a maré. Estou cansando de não ser levada a sério por conta da minha aparência. Acho que, daqui a uns anos, eu vou começar a me vestir como uma tia de 30 anos... Talvez assim as pessoas não me julguem tanto. Talvez assim os caras da minha faixa etária não me excluam logo de primeira por conta da associação piercings+tattoos = porralouca.
Sei lá.
Bem, tudo bem que eu sou desequilibrada mesmo, mas, porra!, eu trabalho, eu estudo, eu pago a porra dos impostos, eu não sou uma à toa na vida, não vivo às custas de ninguém. Mas isso simplesmente não transparece nas minhas calças surradas e no meu allstar sujo... E os caras que eu quero certamente me vetam no primeiro olhar, isso é fato.
Mas eu não estou pronta pra abrir mão de uma parte tão importante daquilo que sou por conta das malditas pressões sociais. Talvez seja só a proximidade dos 30 me esmurrando a porta...
Talvez seja só o fato de que isso esteja parecendo cada vez mais inevitável: eu me conformar fisicamente com o que é esperado de uma mulher da minha idade... eu digo o seguinte, meus senhores, quando eu passar num puta concursão e ganhar uma grana escrota, se eles quiserem tiro todos os piercings visíveis, mas aí as tattoos sairão do papel e ganharão meu corpo.
Como eu odeio as pessoas! Como eu odeio ter que sequer pensar em mudar o jeito como me visto e a quantidade de piercings pra, finalmente, ser aceita como uma mulher “normal” por esta merda de sociedade. Mas, enfim, eu também vivo me deixando levar pelo óbvio, pelo fácil... só que sempre me dou mal, sempre bato a cara na parede... mas, enfim, quando o momento chegar, eu tiro palitinho comigo mesma e aí decido o que será menos pior...

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

deuses, deuses... o que será que está acontecendo comigo?
eu penso nele muito ainda.
odeio saber que ele me faz falta.
meu girassol, que de meu não tem mais nada...

hoje ganhei um cd. bem bacana. gravaram pra mim. fizeram até capinha e tudo mais. e, não sei se por coicidência ou pura ironia do destino, entre as músicas havia uma que um anônimo postou pra mim dias atrás (talk do Coldplay). já mencionei, meus senhores, que odeio anônimos? são os piores covardes. e de covarde já me basto a mim mesma.
gostei de ganhar o cd. gosto de ganhar coisas. quase nunca ganho nada de ninguém, mas não reclamo porque quase nunca dou qualquer coisa pra qualquer pessoa, e nem é por mal, é por pura falta de recursos. mas acho bacana quando fazem algo e me dão. penso no tempo gasto na execução daquilo, seja lá o que aquilo for.

encontrei uma colega dos tempos em que eu trabalhava na kingdom ainda, séeeeculos atrás. o rostinho dela continua o mesmo, mas agora ela está casada e tem um filho. nunca tinha tido a sensação que me caiu como um piano na cabeça quando ela contou as mudanças em sua vida: a minha vida continua a mesma. é, é sim, meus senhores, tenho 28 anos, quase 30!, e a minha vida está estacionada há anos no mesmo ponto... continuo trabalhando, estudando, saindo de vez em quando, continuo sem grana, sem namorado e sem nenhuma ambição concreta além de me formar. antes era me formar em artes, agora, biblioteconomia. minha vida não sai deste lugar, o lugar do medo, da tristeza, da insegurança - esta sim -, que é a única coisa que parece crescer na minha vida.
não, não quero casar e ter filhos. isso também é que não. eu queria conseguir fazer uma mudança real, substantiva, na minha vidinha, essa vidinha com letra minúscula e no mais pejorativo dos diminutivos. minha vidinha.
que bosta de vidinha.

fui hoje à farmácia comprar o remédio que o gastro me receitou e dei uma gargalhada ao ouvir um valor de três digítos. cento e quarenta e dois e... nem ouvi os centavos. só pude mesmo rir. 28 comprimidos a esse preço. só rindo! isso daí é quase o que eu vou ter que gastar com meu pai neste mês e, aliás, não quero nem pensar em quanto mais vai ser que é pra não precisar ainda mais dos malditos - e caríssimos - comprimidos. minha gastrite (tomara que seja só a boa e velha gastrite) que espere até ele se recuperar. não vou nem marcar a endoscopia pra não ter notícias piores.
saí rindo da farmácia, que cena dantesca! mas eu costumo rir quando fico nervosa. às vezes choro, mas isso é só quando estou sozinha, como agora. em público, eu rio.

fiquei com uma vontade imensa de sair. mas pra onde? aonde eu poderia ir sozinha, a esta hora e de ônibus?! faça-me o favor, mocinha, controle-se! controle-se!
amanhã tenho aula às 8h. aula no sábado de manhã. quem merece isso?? eu, claro!!!
queria sair hoje porque amanhã não vou sair. já sei disso desde agora. e no domingo tenho que ir pra casa do meu pai logo cedo.
queria sair hoje, agora, neste exato momento pra ser mais precisa.
sair e não voltar mais.
sumir.
desaparecer.
just like that...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

divagando de novo...

domingo fiquei o dia inteiro com meu pai.
já estava me sentindo meio triste antes de ir, chegando lá então... ele está magro e não quer comer nada. continuando assim vai acabar de volta ao hospital, pra tomar soro na veia.
ele queria assistir a um dos programas dominicais que eu absolutamente abomino: domingo da gente... só meu pai estando doente pra eu ficar ali com ele vendo aquele programa...
mas o fato é que eu estava me sentindo tão desamparada que comecei a chorar, assim, do nada. o cara falando com aquela voz horrorosa, aquele sotaque medonho, e eu chorando. meu pai estava num dos cochilos.
ele cochila bastante, coisa de 2, 3 minutos, fica acordado por alguns instantes e aí cochila de novo. o dia inteiro assim.
levei revistas pra ele ver, folhear, mas ele não se interessou muito.
tentei conversar, mas ele rrespondia só de vez em quando e mesmo assim bastante pouco.
hoje de tarde eu estava arrumando uns papéis e achei uma oração de Santa Terezinha e resolvi arriscar. pedi pela saúde dele. a minha agüenta mais um tempo... estou tentando fazer o que o médico me disse, só não marquei a bendita endoscopia ainda, mas faço isso amanhã.

senti muita falta de um abraço hoje. senti falta de ter alguém pra me abraçar. lembrei que eu sou uma idiota com TOC e tentei virar os pensamentos noutra direção, mas tem pensamentos que ficam ali empacados na cabeça, gritando "me dê atenção! olhe pra mim! olhe pra mim!" e fica difícil ignorar ou fazer outra coisa.
mas a argola no canto direito do lábio inferior serve pra eu me lembrar das minhas obrigações para comigo mesma. e, no momento, melhor ficar com essa vontade de ter um afago, um dengo porque isso passa com uma certa facilidade se for comparada aos danos, aos estragos que minha inconstância trazem pra mim e pra outros.
enquanto eu não superar certos obstáculos que eu mesma ergui em torno de mim, nem pensar em escalar os muros alheios.
fico "menos pior" sozinha. sou mais inofensiva assim. eu e minha camisa de força no lábio inferior.

acho que sou uma pessoa horrível. ruim mesmo.
talvez seja só a menstruação, meu sangue fugindo do meu corpo, espesso e escuro como nunca vi. não parece sangue, parece minha alma.
será que ainda vivo o bastante pra acordar amanhã?
será que amanhã conseguirei olhar no espelho e, finalmente, me reconhecer?
talvez seja só a falta de dinheiro, coisa que não consigo reter, como meu sangue que sai passeando por aí.
deve ser a falta de amor, deve ser mesmo a ausência total de amor, amor à vida, às pessoas, aos animais, às plantas, ao milkshake de ovomaltine do bob's, à agua na garrafa esperando ser bebida, aos conflitos internos querendo ser exorcisados, aos dias chuvosos, e aos dias ensolarados. me falta amor.
o amor talvez nunca tenha estado aqui comigo, em mim.

será que existem segundas chances pra quem nem percebeu a chegada/saída da primeira?

sinto frio nos pés e não quero fazer absolutamente nada a respeito.

não sei por que me dou ao luxo de ficar assim...
o proletariado não conhece a melancolia. o proletariado sofre calado. o proletariado chora se o brasil perde a copa. o proletariado lambe a cria. o proletariado pensa no arroz com feijão de amanhã.
o proletariado nem sabe como é feliz...