quarta-feira, agosto 31, 2005

trinta e um de agosto

Eu jogo - para além de qualquer metáfora ou trocadilho - paciência. É, paciência, o joguinho de cartas. É o único que tenho instalado no meu computador. De vez em quando eu jogo na mega sena também, sempre que me lembro de jogar eu jogo.
Já joguei baralho, dominó e outros joguinhos como "imagem & ação", mas hoje em dia só jogo paciência mesmo.
Pensando em metáforas, sei que jogo tempo fora, conversa fora, dinheiro fora... Mas, enfim, cada um dá o que tem. Eu só tenho mesmo o tempo que me resta. Tenho assuntos dos mais variados. Quanto ao dinheiro, bem, vivo no limite do cheque especial mesmo... foda-se.
Saindo da sombra das metáforas, eu posso esperar por coisas/eventos/pessoas por uns 15 minutos, meia hora talvez. Os ônibus continuam me fazendo amargar esperas incontáveis e homéricas... que se há de fazer quando se tem preguiça em doses cavalares e nenhum dinheiro pra comprar um meio de transporte próprio? Só posso mesmo é esperar pelos malditos ônibus.
Se alguém me faz esperar por qualquer coisa que seja, já me deixa desmotivada a continuar querendo. Quem me deixa esperando são instituições burocráticas, bancos, a empresa que vende passes estudantis, as copiadoras da UnB. Quem me quer bem não pode e nem deve me deixar esperando. Se bem que * tem me feito esperar por ela durante um tempão toda vez pra gente jantar juntas, mas aí é diferente, pelo tempo que somos amigas, mais de uma década, isso é coisa a toa, e eu espero. Afinal, ela é minha melhor amiga e depende dos malditos ônibus tanto quanto eu, não fosse assim, não me deixaria esperando.
Quanto aos outros, bem, os outros são os outros e só, já dizia o kid abelha. Enquanto meus hormônios flutuam ao sabor do paradoxo, enquanto minha cabeçona se equilibra sobre minhas pernas finas, enquanto a vida ainda tem um suquinho pra me dar de beber, eu fico por aqui, não esperando nada de ninguém porque esperar cansa e eu já ando cansada por demais. Capaz d'eu já ter nascido cansada assim, sem nem querer nascer depois de me zangar por terem me feito esperar tanto tempo pra nascer esse nascimento banal que todo mundo faz. Coisa mais sem propósito, entrar na vida dessa maneira descuidada. Aposto que eu já queria mesmo era fazer o caminho inverso e voltar a ser óvulo e espermatozóide, porque quando me canso, me canso mesmo e acabou-se.
Quem entende as mulheres, afinal?!
Mas, meus senhores, vejam que é coisa muito simples: quem espera, sempre cansa...
Bem, já são 23h e meu corpo todo está dormecendo enquanto meus dedos teimam em dar conta de uma coisa sem forma, sem jeito, monocromática e monossilábica... Acabrunhada feito só eu mesma, vou deitar assim, assim mesmo porque Morfeu por mim espera...

terça-feira, agosto 30, 2005

nos ônibus

Eu ouvia John Coltrane no ônibus. O motor era tão desgraçadamente alto que provocava um ruído no fundo. Mas nada que o sax divino dele não tirasse de letra. É estranho ouvir música prestando atenção no que está além da música, no fundo, por fora, os ruídos que tentam contaminar as melodias perfeitas. Pior é que eu simpatizo com os ruídos, desde que não me acordem.

Gosto de sentir o calor preguiçoso do sol poente acariciando minha pele pálida junto com o vento frio entrando pelas janelas. A luz dourada e frouxa que me toca, lambe as folhas das árvores, a grama, o asfalto, a poeira, e vai se despedindo do dia. Se espreguiça e vai vestir seu pijaminha de estrelas pra adormecer no colo da noite.
Tenho estado mais contemplativa ultimamente. Tenho prestado ainda mais atenção à natureza ao meu redor, à paisagem urbana que rasga o Planalto. Talvez eu termine meus dias como mais uma hippie velha e suja... Que merda.

Eu queria uma vida simples. Cercada por coisas simples. Ao invés disso, ganhei uma consciência que só me serve pra atormentar... Olhos grandes que só servem pra me atormentar. Uma cabeçona que me confunde o tempo inteiro e um coração carro popular 1.0 numa ladeira...

“...pelas esquinas que eu andei
nenhuma delas te encontrar
mas eu tô sempre por aqui
quando quiser é só chamar
andando reto sem destino
vivendo sempre do passado
não quero mais me desmentir
eu não vou mais te procurar...”


Como sempre, desencanto-me cada dia um pouco mais com os homens. Não, meus senhores, nada aconteceu e é precisamente este o problema. Eu sei que o problema sou eu, eu ando em descompasso com o mundo. Eu sempre quero demais. Eu sempre quero alguma coisa o tempo inteiro.
e eu não tenho paciência
não quero ter
o que é pra ser meu,
que seja
se não for,
foda-se!
há tempos não tenho 17 anos
aos 17 eu esperava porque queria esperar
achava necessário dar tempo ao tempo
o tempo, aos 27, é muito diferente hoje
corre diferentemente
eu não corro, nem ando,
mas se for preciso afio as garras e me lanço em vôo cego sobre a presa
mas cadê a presa?
o vôo cego, melhor dizer míope
sou míope
tenho 27 anos
e tenho pressa
quero agarrar a vida pelos cabelos e dar na cara dela
porque é assim que se lida com as vadias, não é?
estou amaríssima agora
café sem açúcar
odeio café sem açúcar
me sinto assim
amaríssima
saiam de perto, meus senhores,
me deixem passar, me olhem de lado
me deixem quieta
olhem pelo canto do olho
e eu sumi
não tenho vontade de esperar pelo possível
cansei de esperar pelo ideal
se vocês me olharem bem, meus senhores,
verão a pele marcada
foda-se tudo o que me desagrada
egocentrismo é um câncer
morrer de câncer é só uma questão de tempo
mas eu não vou esperar pelo melhor
pensamento positivo é a vovozinha!
a vida me fez cansar de esperar pelo melhor
odeio esperar
não espero mais por porra nenhuma, só por ônibus

domingo, agosto 28, 2005

difícil

Pela primeira vez na vida eu vi um filme com cenas de sexo explícito. Eu só tinha visto revistas, tinha até feito uns trabalhos com imagens de revitas pornôs, mas nunca tinha visto em filme... 9 Canções é o nome do filme e acho que é um péssimo filme pra se ver quando não se tem um namorado... Mas o filme é muito bom, gostei da forma simples, banal mesmo como mostrou o cotidiano do casal.
Fiquei meio triste porque, enfim, não tenho namorado e nem amante, nem nada. E deu uma saudade das coisas mais bobinhas que aparecem, não só do sexo. É ótimo fazer sexo, mas... é só sexo. Agora amor, amor é uma coisa louca e... putz, tão rara. Fiquei triste pensando nisso.

Odeio sexo. Eu deveria ter permanecido virgem! Sexo é uma coisa estúpida e que - horror supremo! - ainda precisa da vontade e consentimento de outra pessoa pra acontecer. E, depois que você faz sexo, pronto, acabou, cria-se a necessidade e aí não tem mais volta.
A única coisa que eu me arrependo de ter feito na vida é sexo.

Meus senhores, tem algumas coisas que criam uma necessidade na gente e isso me dá nos nervos. Por exemplo, até um dia desses eu nem conhecia o Menino Dentro do Espelho, mas quando o conheci, ele me deu atenção e agora eu quero sua atenção. Odeio querer coisas que antes não existiam. Por que essas coisas vêm interferir nas nossas vidinhas, meus senhores?!

Nunca sei direito o que quero dizer pra ele, embora eu sempre queira dizer alguma coisa. Mas acho que essas conversas com o Menino Dentro do Espelho estão na categoria das coisas que não precisam de explicação alguma. Ah, estou tão cansada de tentar sempre me fazer entender. Não quero que ele me entenda. Não quero nada dele. E, ao mesmo tempo, quero tudo: quero sua atenção que é tudo o que alguém pode dar a outra pessoa. Mas, afinal, quem sou eu pra querer qualquer coisa de alguém? O que eu estou disposta a dar, o que eu tenho pra oferecer pra alguém, meus senhores?!

Para ele eu acabei de escrever:

pensando nisso q vc falou sobre a musicalidade do Van Gogh, lembrei q o Hélio Oiticica disse que não era um artista plástico pois o que fazia era música e a música é a consequência da descoberta do corpo.
fecho o ciclo da sua orelha.
abro uma veia: a vida dos exploradores de savanas, florestas e almas, é solitária... falta nas pessoas olhos pra enxergar a beleza das mariposas, falta paciência pra esperar uma flor se abrir. falta vontade de se deixar contaminar por algo maior.
quanto a mim, nem passos atrás, nem saltos no escuro, fico aqui mesmo onde estou, debruçada na varanda vendo a vida passar.
é difícil ser represa.
é difícil ser mar.

até o próximo abraço constrangido.

vinte e oito de agosto

Num determinado momento de um determinado sonho desta noite, minha mãe me colocava no colo e dizia "minha filha, minha filhinha querida" e então o sonho prosseguia. Até no sonho isso pareceu tão irreal, tão falso... É, acordei pensando nisso e estou ruminando isso até agora. É que é muito difícil lidar com rejeições, com essas de natureza materna, pior ainda. Nunca assimilei direito o fato de ter tido uma progenitora, uma mulher que me pariu e proveu subsistência, mas nunca foi minha mãe no sentido de ser amorosa e superprotetora como eu acho que as mães deveriam ser. A imagem mental que tenho do que deveria ser a maternidade é negativa: construiu-se a partir da minha vivência com minha mãe, não por associação a ela e suas qualidades, mas justamente por negação daquilo que ela foi, que ainda é. Noutras palavras, a idéia de maternidade que eu tenho contrapõe-se com a minha vivência junto à minha mãe, que nunca foi amorosa e nem tampouco superprotetora, mas, ao contrário, foi autoritária, injusta, negligente e cruel. Minha mãe não me educou bem. Felizmente essas cosias não são irreversíveis... nada que o convívio com outras pessoas, pessoas boas, não possa curar... eu espero.
Mas ainda me incomoda muito o fato de sentir necessidade desse tipo específico de afeto, o maternal. E eu vi Dark Water e fiquei me identificando com a personagem que ficava tendo os flashbacks com a mãe doidona. Sabe, quando se é criança, é como acontece com cachorros, por exemplo, você bate neles e eles não te mordem, eles ganem e olham pra você pedindo o seu carinho, pedindo pela sua mão fazendo festinha atrás da orelha. Eu era assim quando criança também, por isso hoje eu mordo sem motivos aparentes. Difícil admitir que essas pendências talvez não sejam consertadas nunca. Mas a vida não pode parar por isso. A vida prossegue.
Eu prossigo, mesmo sem saber mesmo por quê.
Estava pensando que talvez se alguém me afirmasse que a vida é só isso aqui mesmo, o que tem sido desde sempre pra mim, talvez eu conseguisse relaxar mais, talvez parasse de sentir tanta angústia. Mas o foda é que estou sempre pressentindo reviravoltas, tragédias, catástrofes, ou esperando pelo Bem Absoluto, pelas respostas a todas as perguntas: a Verdade, pelo Amor, pela Felicidade. E não sei onde fica a porra do meu botão stop. Queria parar de esperar pelas coisas, pelas boas, por menores que sejam, e pelas más, por maiores e mais frequentes que sejam. Mas como?
Não sei.
Sei que, apesar dos pesares, apesar de tudo, hoje eu não estou me sentindo triste. Não que eu esteja soltando fogos de artifício ou coisa assim, mas estou bem. Quer dizer, estou tristinha porque o Ferrero Rocher acabou, mas acho que sobreviverei a isso... Acho que terei que me contentar só com o sorvete de banana caramelizada.
E o que eu espero dessa vida agora? Que ela me seja tranquila, mas não demais, só o suficiente pra que eu não me esqueça quem sou e de onde vim. E que permita que meus domingos sejam assim, cheios de preguiça, cheios de música e com um cineminha no final da tarde.
Não vou mentir dizendo que não sinto falta de afeto de outras naturezas, menos fraternas e mais mundanos, digamos, mas isso é o tipo da coisa que não pode ser comprado no supermercado perto aqui de casa, então... Então é o sorvete, o chocolate e o cinema.

enquanto a professora não vem...

lembrei que enquanto estava no 110, fiquei olhando o céu pálido dessa manhã de agosto, olhando o sol se mostrando e se escondendo nas nuvens e fiquei pensando se aquele acúmulo de pequenas nuvens estava tentando envolvê-lo, ou se estava afastando-se dele e, nesse caso, teria sido uma massa coesa que fragmentava-se lentamente. lentamente. era bonito ver aquela luz dourada bordejando e emoldurando as nuvenzinhas brancas contra o fundo azul claro desse céu.
quando cheguei aqui, fiquei olhando o pequeno jardim de inverno do departamento. tão mal cuidado, coitadas das plantas. gosto das plantas. elas são tão ricas em formas e cheiros e mesmo sendo verdes, cada verde é diferente do outro. vi umas folhas que pareciam envernizadas de tão sedosas e brilhantes. lindíssimas. vi também umas folhas enormes, com uns furos que considerei bastante estratégicos porque aí o vento talvez não cause tantos estragos. as pessoas que fazem essas faixas de tecido promocionais sempre fazem furinhos nelas. foi essa a associação que eu fiz.

Escrevi isso ontem (27/08/05) durante a aula da mnhã enquanto esperava a professora voltar da BCE.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Prisão Domiciliar

Passei o dia inteiro hoje pensando sobre casamento. Pensei muito mesmo e continuo sem entender por que as pessoas me perguntam tanto por que eu não quero casar. Eu não consigo entender por que elas continuam casando. Pra ser sincera, a palavra que melhor ilustra meu desconforto com a idéia de casamento é prisão. Para as mulheres então, muito pior, é a solitária. E não adianta colar fotos nas paredes e pintar as grades de cor-de-rosa...
Não sei se é realmente esperança, medo da solidão ou puro cinismo o que continua fazendo com que as pessoas se casem. Desejo sempre que elas sejam felizes e tal, porque não faz sentido desejar o mal pra quem a gente gosta, mas isso não significa que eu veja essa instituição com bons olhos. A idéia de se assumir tal compromisso com outra pessoa é... deixe-me pensar numa palavra... demais. É, é isso, a idéia de que duas pessoas devem viver, co-habitar juntas para o resto de suas vidas, criando filhos, animais e/ou plantas em comum, é demais, extrapola meu entendimento. Não consigo conceber isso.
Talvez seja porque eu só tenha visto exemplos de pessoas que se prometem milhões de coisas, se comprometem não apenas consigo mas com toda a comunidade e aí, tudo cai. E, no caso das mulheres, a casa tende a cair nas costas delas. Eu, tô fora!
Na verdade, sinto-me triste por pensar que a mentalidade hegemônica ainda é de que ovários e útero têm uma ligação concreta com a cozinha e demais tarefas domésticas. Acho muito escroto uma mulher casada chegar em casa correndo do trabalho pra dar conta de serviços que poderiam ser divididos com seu marido já que a casa é dos dois, assim como os filhos e tudo o mais. Por que a dupla jornada de trabalho? Por que tratar o marido como se fosse mais um filho? Por que tratar os filhos como aleijados, criaturas incapazes de cuidar de si e de ajudar a cuidar da casa? Eu, tô fora!
“As coisas estão mudando!” Claro, meu senhores... claro... acho muita ingenuidade ficar esperando por isso.
Viva os radicalismos!
Vamos subverter logo isso tudo, toda a ordem estabelecida em torno dessa família que cria submissas e opressores. Por mim, chega de exploração das mulheres que, muitas vezes, sequer se dão conta da exploração que sofrem de tão naturalizado que esse discurso maldito de papéis limitados não às capacidades dos indivíduos, mas às suas genitálias propõe. Odeio isso.
Odeio também ter que ouvir da boca das mulheres idiotices do tipo “mas o cara tem que pagar as coisas”. Tem?! Absurdo!!! Tem porra nenhuma. De que serviram todos os séculos de luta por reconhecimento e emancipação?! O pênis também não tem nenhuma ligação com a carteira recheada de dinheiro.
Se não me falha a memória, já ultrapassamos em alguns milênios a condição de macho provedor, não é? Ou por acaso ainda há a necessidade dos homens saírem por aí com suas lanças caçando? Pelo menos na nossa cultura, a “ocidental”, acho que é mais fácil ir ao supermercado e pegar uma lasanha pronta e pagar com cartão. Coisa que qualquer mulher ou homem – acreditem – pode fazer desde que tenha dinheiro.
A casa não é domínio das mulheres. Dinheiro não é privilégio dos homens. Pra que, afinal, as mulheres estão na porra do mercado de trabalho?!
Quanto a mim, são tantas as restrições e imposições que eu faria, que nenhum homem, não deste mundo e neste século, aceitaria. Exemplo? Bem, meu senhores, casas separadas; não terei filhos; monogamia; nada de cerimônia religiosa e nem de animais; caso haja uma necessidade sobrehumana de morarmos juntos, as tarefas serão matematicamente divididas, assim como as contas, mas quero, no mínimo, um quarto separado. Ah, enfim, é muita coisa pra continuar enumerando.
A maioria dos homens que conheço parece se casar simplesmente pra juntar numa coisa só sexo garantido e, a prior, de graça + uma empregada que durma no serviço e não receba salário, ou seja, uma escrava + a dedicação da sua santa mãezinha + a garantia de perpetuação dos seus preciosos genes que, certamente, todo mundo sempre acha que a humanidade não pode passar sem. Quanto às mulheres, querem estabilidade financeira, um companheiro de solidão, alguém pra brigar pelo controle-remoto, sexo insatisfatório e um pai pra os seus filhos porque obviamente as mulheres de verdade são as que se reproduzem e “padecem no paraíso” pela prole preciosíssima.
Não peço desculpas pelo olhar cru com que vejo o casamento, mas é isso o que vejo, não sou ficcionista.
Quem quiser casar que se case, por mim, tanto faz. Na verdade acho até bonito ter tanta fé numa coisa tão improvável, mas eu, eu tô fora!, meus senhores. Minha fé nunca alcançou patamares tão altos. Mas uma coisa é certa, eu gostaria de passar por alguma experiência de relacionamento amoroso que durasse mais que uns meses porque acho que isso é provável, mas, enfim, eu também acredito piamente na vida extra-terrestre mas nunca vi nenhum ET... Se bem que ultimamente tenho sentido que está cada vez mais fácil eu ser abduzida do que ter um namorado. Afinal pra que servem as mulheres com idéias? Acho que pra mesma coisa que servem os homens com sensibilidade: chacotas.

Re: Aloha!

olá-aa.

tô na mesma vidinha. nada de novo. se bem que ando bem calminha ultimamente. melhor não começar a especular muito pra não estragar tudo. é bom não me sentir miserável por uns dias. tem uma certa novidade nisso.
aquela música é da trilha sonora do Pulp Fiction e se chama "if love is a red dress (hang me in rags)" e é maravilhosa! gosto muitíssimo da letra. aliás, o título já é do caralho e é isso que acabo pensando inúmeras vezes, naqueles momentos mais deprês em que o amor é só a coisa mais desgraçada do mundo. só isso.
quanto a te dar uma ajuda com seus textos, vou te dizer a mesma coisa que eu disse pra algumas pessoas, incluindo o *: prefiro não fazer isso. eu realmente sou muito escrota com relação ao que leio. e costumo não gostar - pra usar a expressão mais leve - do que meus amigos escrevem, apesar de tentar ao máximo manter uma certa condescendência. você sabe bem que não costumo medir o que digo, e que minhas opiniões acabam mostrando-se severas demais. eu não suporto nem o que eu mesma escrevo, e dificilmente releio o que escrevo pra não cair na armadilha de tentar retocar e acabar mutilando tudo.
é isso, ok?
mas escreva, escreva sim. é uma ótima maneira de organizar pensamentos. pelo menos eu, enquanto escrevo, acabo repensando em muita coisa, mudando de idéia, deixando de lado ou retomando coisas. escrever é bom, embora pra mim seja como uma espécie de parto a fórceps, mas eu é quem sou parida. eu não escrevo porque gosto, escrevo porque preciso me pôr pra fora e ao mesmo tempo vomitar o que congestiona minha cabeçona confusa. mesmo contando com meus amigos, mesmo tendo pessoas pra conversar, às vezes prefiro conversar comigo mesma, embora seja uma conversa louca, sem nexo, sem final, sem conclusões, mas que serve pra aliviar a pressão que eu mesma me imponho vendo o que vejo, sentindo o que sinto, passando por aqui e por ali. a vida que eu levo, triste, às vezes soturna, fabulosa em pequenos momentos, engraçada em outros, essa vida me deixa assim, transtornada e tumultuada e maravilhada. por isso eu escrevo.
de qualquer maneira, escreva pra você mesmo e depois preste atenção no que escreveu porque se você tiver vontade que outras pessoas leiam, vai ter que tornar sua escrita inteligível e isso é foda. fazer uma coisa fazer sentido é foda. mas, enfim, é um desafio que talvez valha muito a pena, não acha?

no mais, nada mais.

até mais.

quarta-feira, agosto 24, 2005

para o menino dentro do espelho

sabe aquela dinâmica em que a gente se deixa cair e a pessoa que está atrás de nós nos segura? pois é, me lembrei dela lendo seu texto. odeio as dinâmicas de modo geral, mas essa é simplesmente uma afronta!!! desde quando, na vida real, tem alguém pra segurar quem se deixa cair só pra testar se esse alguém vai segurar? eu já deixei uma amiga cair numa brincadeirinha dessa. eu só aviso uma vez "não vou segurar não", mas acho que esse é o preço da sinceridade: ninguém nunca acredita. paradoxos insolúveis... infelizmente, sou muito boa nisso...
não gostei da foto. talvez porque me seja extremamente recorrente. talvez porque eu simplesmente odeie sapatos sociais. por que as pessoas não pulam descalças dos prédios? os homens costumam se jogar mais de prédios que mulheres. mulheres costumam apelar pra overdose de barbitúricos.
não se jogue ainda, dê um passo pra trás. preciso saber a cor dos seus cabelos quando você caminha embebido na velocidade do azul do céu de agosto. preciso ver isso um dia, mas não numa foto de jornal sensacionalista.
será que esse é um motivo válido?
existe qualquer motivo válido pra enfileirar um dia após o outro neste mundo?

me lembrei de tantas coisas hoje andando no ônibus que pego pra ir da BCE à L2... tantos fragmentos de vida, da minha vida e de gente que só vi de relance, como o motorista da lotação - aquele del rey caindo aos pedaços - que ficou todo o percurso inutilmente tentando pôr seu retrovisor quebrado no lugar certo; as tardes nas praias catarinenses que de tão claras dóem; o perfume de uma garota num banco da frente me dando náuseas de tão vulgar; os olhos da minha afilhada; as páginas enrugadas do Lavoura Arcaica; meus amigos rindo e preenchendo minha casa pequena de alegrias; o gosto de sorvete de pistache; as noites em posição fetal mal dormidas e mal vividas; palavrão recém aprendido na adolescência; ônibus lotado de manhã bem cedinho; feijoada com pagode ao vivo. tanta coisa tanta coisa tanta coisa que senti meu peito explodindo porque parece que eu já vivi muita coisa, mas a verdade é que isso é um nada no mundo, um nadinha no que está pra vir, especialmente se esse por vir vier nos braços da Inexorável amanhã.
é tanta coisa que eu preciso esquecer e não esqueço... e tanta coisa que eu queria lembrar e me foge... não dá pra me dar um meio termo não? não, meus senhores, mais uma coisa pra culpar a loteria da genética...

segunda-feira, agosto 22, 2005

o que será que será

Passei o dia todo hoje numa euforia esquisita. Ainda tenho a impressão de que algo está dobrando a esquina, de que qualquer coisa está para acontecer, mas hoje isso não pareceu uma coisa ruim, foi como passar o dia esperando por uma festa surpresa, sei lá. Normalmente essa sensação de suspensão de um fato me causa náuseas de tão ruim. Mas nunca acontece nada e eu fico como que em stand by, paralisada pela ansiedade. Mas hoje não, hoje fiquei aqui vivendo minha vidinha e esperando de olhos arregalados pelo desfecho que não aconteceu. Mas tudo bem. Hoje tudo bem.
Hoje vi o menino que me deu trabalho, mas senti na verdade uma vontade de beijar os olhos dele e dizer tudo bem, menino, a vida é quem nos ensina mesmo, fique despreocupado porque te quero bem. Como de costumo, eu nada disse, apenas sorri. Dizer pra quê? Pra quê, meus senhores?!
Hoje eu até pensei que pudesse perdoar tudo.
Só pensei.
Agora vou me lançar nos braços de Morfeu porque esse me é fidelíssimo e me quer muito bem, assim como eu o quero. Só ele merece minha dedicação noite após noite.
Para quem, como eu, tem nos limites de um colchão estreito as grandiosas possibilidades do sonho, nada melhor do que dividir meus lençóis com ele...

Ah, antes que eu me esqueça, Thaíse, minha amiguinha querida, flor dente-de-leão, não há como escrever para você o que eu escreveria pra o objeto dos meus desejos, das minhas insônias, do meu sofrimento e das minhas alegrias - porque é isso que a paixão me proporciona: insônia, tristezas agudíssimas e alegrias tão sinceras que doridas. Você, por ser minha amiga, só me proporciona bem-estar e isso é absolutamente insuficiente para minha escrita... Só muito ocasionalmente tenho vontade de escrever quando estou "bem". Mas muitíssimo obrigada pelo apoio moral! Muitíssimo obrigada mesmo, viu, menininha!!!
Disperse-se, Thaíse! Voe, menina-flor-dente-de-leão!!!

sábado, agosto 20, 2005

falta

é, pois é, meus senhores. ando sentindo uma falta dele... na verdade, sinto falta de escrever pra ele. foi pela falta disso que iniciei esse blog. não foi por outra coisa.
se ainda mantivéssemos contato, provavelmente eu nunca teria um blog.
preciso escrever. preciso ver a palavra escrita.
estranho isso, não? posso estar com outras pessoas, conversar com elas, posso até ficar com outros caras, mas não há ninguém que me faça escrever como eu escrevia pra ele. eu gostava muito de escrever pra ele, deixá-lo me ler. e amava ler o que ele me escrevia. incrível como a gente se apega às coisas... e agora? agora não tem mais nada, nem ele me escreve e nem eu escrevo pra ele. agora a gente passa um do lado do outro e faz de conta que não tem uma estória ali sendo rasgada, despedaçada. nunca mais o vi. tanto melhor.
não penso mais tanto nele, mas a falta que ele me faz é concreta e está ao meu redor em vários momentos. queria que pudéssemos ter criado vínculos de amizade mais estreitos e firmes, assim eu não me sentiria tão desamparada agora.
quem vai me escrever agora? pra quem eu escreverei agora?

dezenove de agosto

enfio dentro da calça a mão
sinto meus pêlos rentes
a Solidão se cristaliza nesses momentos
é como um ritual de invocação
Ela infiltra-se na minha derme
entope minhas capilares
meu mamilo direito lateja
uma auréola carmesim formou-se em torno de uma das esferas do piercing
pra mim, coisa sem precedentes
ponho remédio e um band-aid antigo e espero que amanhã incomode menos

Espero

meu cabelo esteve, hoje, especialmente bonito, ondulado e cacheado harmoniosamente
eu reparo nessas coisas

comi um Ferrero Rocher gelado
penso na porra da música que ouvi enquanto caminhava pra casa agora pouco, na chuva:
"...if love is shelter
I'm gonna walk in the rain..."
mas, no meu caso, eu não escolhi a chuva, eu queria ficar ali sob a marquise, mas me chutaram pra fora

tenho sono
amanhã de manhã, terei aula

terça-feira, agosto 16, 2005

Re: cumprindo a promessa

Olá-aa!
Bem, em primeiro lugar, não sei se te interessa, mas o IPHAN abriu concurso e tem vaga no Rio e em outros estados, mas é só uma vaga por local.

Eu não sei bem o que te dizer, acho que nada que pudesse mudar seu astral, até mesmo porque eu sou uma drama queen inveterada. Há quem diga que não é exagero, que é masoquismo mesmo. Whatever.
Minha vidinha também vai seguindo seu rumo meio que sem me perguntar nada talvez mesmo porque já saiba que eu vou olhar com essa minha cara estranha e dizer um "sei lá, você que sabe". Na real, às vezes eu só queria mesmo que essa urgência da vida fosse como o meu despertador que me acorda aos berros, mas daí eu desligo - eu e meu eterno piloto automático matutino - e viro pra o lado e durmo de novo. Queria que pudesse ser assim, mas nem é.
Ainda acordo às 5h30 pra ir trabalhar. Ainda volto às 22h da UnB.
Vou aos cinemas religiosamente aos domingos ver os últimos lançamentos hollywoodianos com minha melhor amiga. Todos precisamos acender velas e queimar incensos, pois não?

Eu tava mesmo era a fim de sair fora, largar tudo e ir pra o México passar uma temporada com um dos meus irmãos, mas eu faço parte daquela fatia de desgraçados que trabalha a porra do mês inteiro pra não ter grana pra porra nenhuma. Vida de trabalho de merda. Eu odeio trabalhar, mas não tenho culhão pra ser hippie suja, aliás, odeio hippies sujos. Gosto mesmo é de tomar banhos de 20 minutos ou mais, de deitar e ouvir meus cd's que comprei numa promoção qualquer, tomar sorvete de banana caramelizada até querer mergulhar nele, beber piña colada sem motivo nenhum de comemorar porra nenhuma. Vidinha de quem não sabe porra nenhuma de nada, mas tem que seguir o fluxo pra não morrer afogada, ou ainda não se afogar de propósito, o que acho que seja mais provável no meu caso porque num belo dia de primavera, quando eu simplesmente não aguentar mais tanto céu azul e tanto vazio, eu me jogo da vida pra o Fim.
Eu ultimamente não tenho querido muitas coisas. Mas pensei bastante a respeito de ir ver o show do Weezer em Curitiba. Gosto bastante da banda, mas seria mesmo só um bom motivo pra viajar com meus amigos, aliviar a pressão dessa vidinha de mesmices que não para de acontecer dia após dia. Mas acho que não vou ter é grana pra bancar esse luxo... Foda-se o emprego! Eu não vou ganhar nenhum prêmio por ser uma professora dedicada, por levar trabalhos pra casa, por tentar dar aos alunos aquilo que eles nem querem de qualquer maneira. Mas falta a porra do dinheiro. Bem, vou ver em que merda isso vai dar. Se o rombo na minha conta não estiver tão astronômico, eu vou. Se eu não tiver dinheiro pra pagar as contas que já acumulo, aí fico por aqui mesmo e espero em posição fetal pelas férias de janeiro.
Eita vida de esperas. Pelo menos pelas férias eu sei que posso esperar porque essas chegarão mesmo que eu não chegue...

Queria te saber assim não, meu Ciano. Queria continuar te imaginando radiante... Mas mesmo nessa melancolia em que você se põe a escrever, você é doce. E eu que travo a língua, e eu que sem nem mais e com bem menos porque a poesia não habita em mim, largo esta máquina de te trazer pra perto de mim, e vou, sigo pra meu escondeirijo de livros e mofo e pó que é a biblioteca, o único lugar onde parece que sou eu mesma e confortavelmente.
Absurdos que me fazem feliz...
Você é um absurdo que me deixa feliz.
Você está aqui, bem aqui, junto das imagens que não sei de onde vêm, junto com aqueles cheiros familiares e fugidios que a memória rumina. Você é o Ciano dos Dias. E o dia hoje está lindo aqui.
E assim, sem saber te dizer nada que seja de qualquer bem pra você, eu, por minha vez, me calo.

Te beijo,

V. Absurda.

Re: Re: um quadro seu

Olá-aa!
E aí, como estás?
É, eu estou. Ponto.
Ah, o lance com o cara não causou maiores estragos. Eu gosto dele e isso é tudo. Ele não gosta de mim, ou pior, gosta mas está muito ocupado aproveitando suas noites no pôr-do-sol - é, no boteco mesmo, não é nenhuma metáfora - pra se preocupar comigo. Whatever. Não vou gastar muito dedo digitando a respeito de uma coisa natimorta... Eu sempre escolho a dedo os caras menos indicados pra mim. Aí dá nisso. Whatever. Eu não tava fazendo nada de importante mesmo, achei que poderia gastar um pouco de tempo com essa estorinha que não levaria a nenhum outro lugar a não ser o mesmo lugar-comum de sempre: eu sozinha em casa pensando no sentido da existência e me calando diante de um pote de häagen-dazs. Whatever.
É só uma questão de tempo mesmo até eu me habituar a deixar essa cosia de afetividade de lado. Isso é superestimado. Não que não seja importante, mas não tem essa importância toda, a gente é que cria isso. Agora as minhas aulas na UnB começaram e eu tenho mais o que fazer, além do trabalho cansativo e entediante, do que ficar me preocupando em achar caras que só vão perceber que eu valia a pena uns quatro meses depois de eu nem lembrar mais porque diabos me interessei por eles um dia. Essa novela mexicana é como todas as outras, mas eu não tenho vocação pra Maria do Bairro... Whatever.
Não se preocupe, ele não causou nenhum dano. Foi um arranhãozinho bem de leve que já cicatrizou. Só quando a gente gosta muito de alguém há estrago de verdade, fraturas expostas, dentes quebrados, hematomas no rosto. No mais, nada de mais, um tropeção, um arranhão sem tanta importância.
Mas não vou mentir, não vou te dizer que não sinto vontade de estar com alguém que eu realmente goste, o problema é que não há esse alguém. E não estou com vontade de brincar com amiguinhos imaginários... Tô meio velha pra essas coisas, embora eu fale sozinha... Whatever. Às vezes acho que estou só muito confusa. às vezes acho que nunca estive tão lúcida, mas por que eu deveria saber esse tipo de coisa a respeito de mim mesma? Esse é o tipo da coisa que nunca saberei com certeza, mas as certezas me irritam. Por enquanto, não tenho certeza de milhões de coisas, inclusive essas coisas mais clichês do mundo (e que eu também odeio), como "eu não sei quem sou", "eu não sei quem quero ser", "como funcionam os celulares" ou "pra que servem as amídalas". Whatever.

Esteja bem. Esteja a postos.

V.

quarta-feira, agosto 10, 2005

proibido fumar

Ah, esqueci de dizer que uma das coisas que mais se meteu nos meus pensamentos hoje foi que ODEIO cada vez mais o péssimo hábito que as pessoas tem de fumar. Depois de ontem, é definitivo: se eu me interessar por um cara, vou riscá-lo da minha vida se ele fumar. Fumar é o primeiro dos defeitos menos aceitáveis, empatado com o fato do cara não me amar loucamente. O outro é me deixar esperando sem dar notícias, que, por sua vez, está empatado com o fato de cursar Filosofia, já ter cursado ou pretender cursar nesta encarnação. Defeitos todos têm, mas há alguns que são insuportáveis, e estes aí são os cabeças da lista.
Meus senhores, pra vocês deve soar como a mais louca constatação, mas é um fato: considero extremamente desagradável aquele beijo sabor nicotina, a sensação olfativa e palatar de estar lambendo um cinzeiro, e tudo isso pra quê, meus senhores?
O discurso é sempre o mesmo: estamos em momentos diferentes e blá, blá, blá. OK. OK. Sou super compreensiva... até o dia em que eu puser a mão numa UZI, aí vocês vão ver o quão compreensiva eu posso ser. Vai dar pra ver pelos buracos no bucho do feladaputa que vier com essa conversa mole pra cima de mim de novo.
Essa raivinha no meu coraçãozinho tem que sari de alguma forma, né não?

dez de agosto

Pensei em escrever tanta coisa... Mas cadê palavra? Cadê verso? Cadê letra? E eu no meio de tudo isso, nesse emaranhado de coisas indistintas? Cadê eu?
Pensei na necessidade de rasgar todos os versos das Letras que fiz pra ele. Pensei na betialidade dessa vida que sempre me sorteia no bingo sem-graça dos que têm que se dar mal. Pensei num cara que ficou melhor de barba. Bem melhor. Pensei nas pessoas que eu gostaria de vaporizar com um raio laser alienígena. Sem falar no tanto de troços que ruminei nas minhas idas e vindas pelos ônibus, olhando as janelas, me aborrecendo com tanta fumaça escurecendo a paisagem tão urbana e tão impessoal e tão desgraçada de familiar.
E, entre tantas confusões desta minha cabeçona, a que agora pesa mais é por que diabos eu não consigo manter minhas resoluções com mais firmeza? Gastei tudo na intransigência da adolescência? Eu costumava ser tão mais firme... e nem estou de brincadeirinhas tentando fazer trocadilhos infames com a condição dessas minhas carnes parcas e tão mal pregadas a esses ossos imbecis.
DEsde ontem, quando cheguei à brilhante conclusão de que sou um absurdo, sou um absurdo sim, no masculino. Não sou uma pessoa absurda pra poder pôr no feminino. Sou um troço absurdo. O quê? Sei lá!!! Se eu soubesse tava fácil de resolver, né?
Ah, meus senhores, então, voltando ao eu-absurdo que sou eu, desde ontem as horas andam parecendo que se repetem, sabe? Como se meu dia fosse um disco arranhado que se adianta e se atrasa, mantendo-se, na verdade, no mesmo lugar, só que causando uma sensação extremamente nauseante.
Estou lendo há muitas semanas "os anos" da Virgina Woolf. Confesso que gostei mais dos livros menores, com menos personagens e mais devaneios, mas esse também é bom, só que é tanta gente que às vezes eu tenho que para de ler porque fico perdida, sem lmebrar de quem é quem. Porq eu eu me lembrei disso agora? Ah, acho que é porque eu também gostaria de poder fechar um pouco minha vida, colocá-la no meu colo e descansar os olhos um momento. Uma pena não poder deixar a vida numa pausa. Embora eu constantemente tenha a sensação de que ela está me deixando em stand by... Whatever...
Não sei sobre o que deveria escrever, mas era algo essencial. fica pra próxima então.
Beijo na bunda e até segunda, meus senhores, com todo respeito, claro.

Ah, sim, gostaria de deixar bem claro que não me oponho de forma alguma a acolher em minha casa um singelo dicionário de sinônimos que, por ventura, venha a ser abandonado em minha porta.

segunda-feira, agosto 08, 2005

welcome to the jaws of hell

mais uma noite úmida
as lágrimas paridas nessa casa fria e esquecida
nada há que faça sentido
a noite, tão escura que dá gosto,
preenche as lacunas pra fora de mim
dentro de mim, nada há que se preencha
o vazio
sou uma casca vazia
ouvi um eco estalando meus ossos
não era nada, só mais uma gota caindo
se partindo ao alcançar o chão
a queda
quando eu cair, manterei os olhos abertos?
os olhos vidrados no nada
nada
e o que é o nada?
não sei
nunca soube nada
nem sei que horas são
e o que adiantaria saber?
só importa que é noite
e eu estou aqui coberta de lava
estou numa crisálida
mas nunca sairei
caí numa armadilha
e nunca sairei
sair pra onde?

oito de agosto

é isso o que dá voltar atrás
é nisso que dá
eu correndo atrás do meu próprio rabo
você desfilando a quilômetros, faceiro
mas tô cansada de correr atrás de você
cansei de chegar sempre por último
cansei dos círculos viciosos
quero botar pra quebrar
e se for pra quebrar a cara
e se for pra dar murro em faca
FODA-SE!!!
vou pra outro canto
seguir outro rumo
eu sozinha
chega de você
chega de correr atrás de quem não dá a mínima
não tá nem aí
vai, segue seu caminho
sem olhar pra trás
já perdi muito tempo
perdi muita vida
nos seus calcanhares
eu vou, eu vou sem olhar pra trás
até nunca mais, meu bem
até nunca mais

domingo, agosto 07, 2005

sete de agosto

a flor da angústia brotando
neste solo árido
o Deserto das coisas não ditas
nem vistas
que olhos não há para dentro de nós
coisas desejadas, tão intensamente desejadas
e nunca nunca nunca executadas
o Deserto do Medo
Eu estou aqui
assim como Você está aí
me deito neste chão
me cubro com as pálpebras da noite
me afogo nos risos das putas
baratas
e dos fétidos bêbados
bastardos
sou um náufrago
soçobro de sonho em sonho
tenho medo
tenho fome
aperto meus dedos
fecho meus olhos
cerro os dentes
hoje a noite eu quero matar
quero matar e beber sangue
minha camisa molhada de suor
cabelos em chama
sou ave de rapina sem presa
nem predador
vôo em círculos
soçobro de vida em vida
rumo à Inevitável
Fim.

sábado, agosto 06, 2005

Mono VIII

Mono VIII

– Quem ama os aleijados? Quem me amaria? Ninguém me vê como eu me sinto, todos me olham com olhos deturpadores.
– Você também só vê o que quer, minha cara.
– Mas eu sou diferente.
– Diferente de quem?
– Dos outros.
– Todos sempre se imaginam diferentes. Todos vocês homenzinhos.


(30/03/05)

Solo VII

Solo VII

– Eu tive um amigo uma vez. Mas eu traí sua confiança. Eu nunca fui muito boa com as pessoas.
– Eu tampouco.
– Acho que nunca gostei das pessoas. De nenhuma.
– Eu tampouco.
– Então por que você não as mata todas de uma vez?
– E o que eu faria depois?! Elas precisam morrer aos poucos, todos os dias algumas morrem de uma vez só, pum!, outras têm que passar muitos dias morrendo um pouquinho e mais um pouquinho, até virarem quase nada, até realmente quererem ser consumidas. É bom que algumas pessoas queiram morrer logo, porque aí a vida vai ter mais sentido. infelizmente são poucas as pessoas que compreendem o peso de se estar vivo, a maioria só ocupa espaço. Figurantes, meros figurantes.
– Eu sei.

(30/03/05)

Mono VI

– Agora eu tô bem acordada. Não tenho sono. Se eu dormisse, sonharia com o quê? Melhor continuar acordada. Essas paredes me incomodam. Mal posso esperar pra ver a claridade. E esse barulho?! Essas vozes, esses gritos vêm de onde? Pára! Pára! Pára! Ah, o trem... Eu me lembro de já ter andado num trem. Era uma manhã bonita. Nem era primavera ainda, mas o dia, as coisas pela janela pareciam bonitas, delicadas. Até os barraquinhos dos pobres as bananeiras aqui e ali o arame farpado se estendendo por quilômetros de muro umas florzinhas laranjadas salpicadas no mato verde o asfalto gasto as pessoas sonolentas as colegiais as lojas decadentes tudo tudo tudo parecia mais gracioso. Sabe, eu gostava quando o trem entrava num túnel e ficava tudo escuro porque quando a gente saía, nossa, era lindo! Especialmente nesta manhã...
– Nessa. Naquela manhã.
– É, isso, naquela manhã. Todas as cores eram novas. Acho que deve ter chovido na noite anterior porque todo o verde estava mais vivo, bem verdinho mesmo. Eu gostava tanto! As coisas acabam, passam, e a gente nem tem tempo pra se despedir...
– Você viu televisão demais.
– Eu nunca fiz nada demais. Eu nunca fiz o bastante. Eu não vivi o bastante. Eu queria que chovesse agora pra que o verde ficasse mais verde.
– Não há verde aqui.
– Assim ainda assim.
– Não chove aqui.
– Ainda assim.

(30/03/05)

Solo V

– O que acontece quando a gente morre?
– Não muita coisa.
– Como você sabe?
– Eu sei.
– Como?
– Eu inventei a morte.
– Por quê?
– Porque eu queria que as pessoas morressem.
– Mas por quê?
– Porque eu quero. Porque eu posso e porque é preciso, é necessário que as pessoas morram.
– Por quê?
– Não posso suportar todos o tempo inteiro. Gosto de matar mais os bons. Pessoas boas morrem melhor, você precisa ver.
– Eu imaginava.
– Você também vai morrer.
– Mas não agora.
– Não agora.
– Porque não sou boa.
– Não. Não mesmo. Você é má.
– E se eu me matar?
– Você não morre agora.
– Mas eu quero.
– Mas eu não quero.

Mono IV

– Eu tenho medo das garotas.
– Eu também.
– Eu não gosto de animais.
– Eu não gosto de crianças.
– Eu acho que fiz algo terrível. Me lembro dos outros milhões e milhões de olhos me perseguindo, me perseguindo. É, deve ter sido terrível. Mas e se eu não tiver feito nada? Eu nunca fui de fazer muitas coisas... Boas ou más, eu nunca fazia muitas coisas.
– Ela nunca esteve tão bonita quanto naquela noite.
– É, eu sei. Me lembro da textura da pele dela, dos cabelos macios. Tão pretos que pareciam um prolongamento da própria noite. Era bonito vê-la daquele jeito, tão tranqüila, tão serena. Nenhuma lágrima.
– Nenhum sorriso.
– Me lembro dela deitada na grama, os cabelos molhados do sereno da noite, a boca entreaberta, as mãos, o vestido. Eu sempre gostei daquele batom que ela usava.
– Eu também.
– Ela nunca esteve tão bonita.
– No que será que ela estava pensando?
– Em nós, talvez.
– Eu sempre a odiei.
– Eu também.
– Desde a primeira vez em que a vi eu a odiei com todo o meu coração. Espero que ela esteja morta! Morta!
– Ela está. Você sabe disso.
– HAHAHAHAHAHA! Você viu a cara deles? Você viu? Ninguém nunca poderia imaginar, eles diziam. Mas é claro que ninguém nunca poderia imaginar! Eles nunca souberam de nada! Nunca conseguiram enxergar um palmo diante do nariz! Como eles poderiam... como eles imaginariam isso? Gente idiota! Nunca imaginaram nada! Eles e suas vidinhas idiotas... O que, como, como, como eles poderiam saber qualquer coisa sobre mim? Eu não sou como eles. Eu não sou como eles.

(24/03/05)

segunda-feira, agosto 01, 2005

Solo III

– Sabe, as palavras dele ainda queimam na minha cabeça. Crepitam aqui dentro.
– E onde está ele?
– Se foi. Faz tanto tempo... E não voltará nunca mais. Eu nem sequer consigo mais sonhar com ele. Faz tempo.
– E onde está ele?
– Não sei. Mas não está nem nos meus sonhos.
– E onde está ele?
– Morto.
– E onde está ele?
– Longe.
– E onde está ele?
– Queria que estivesse aqui comigo. Ele costumava conversar comigo. Ele me ouvia. Ele me amava.
– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Não seja ridícula! Ninguém nunca te amou.
– É, eu sei.
– Você deveria ir embora.
– É, eu sei. Mas não vou. Eu vou ficar aqui.
– Mas eu não quero que você fique aqui.
– É, eu sei. Mas eu não me importo. Eu não ligo pra você e eu ficarei aqui.
– Eu te desinvento!
– Impossível.
– Eu te mato!
– Impossível.
– Por quê?
– Você me trouxe aqui porque precisa de mim. Só eu falo com você. Ninguém nunca te amou também. Ninguém nunca nem fingiu que te amou.
– Como você sabe que não está morta?
– Não sei.
– Como você sabe que não está sonhando?
– Não sei.
– Como você sabe que não está louca?
– Eu não sei. Mas que diferença isso faz?
– Não sei.
– Você acha que estou louca?
– Acho.
– Eu achei que estivesse sonhando, ou então que estivesse morta.
– Talvez você esteja.
– Tomara.

(24/03/05)