domingo, julho 31, 2005

23/07/05

Onde anda você?
sua pele noturna roçando minha pele diurna
eu sou um animal noturno e vago
tenho você na cabeça e no corpo
seu sorriso, meu farol
sua pele, meu lançol
cadê você?
cadê sua gargalhada?
sinto falta das suas palavras
continuo analfabeta pra poesia
continuo com o pensamento virado pra você, o Norte
em que bocas terá se perdido?
em que pernas entrelaça as suas agora?
em que regaço você se aninha agora?
que ventre te acolhe?
no meu colchão estreito, um enorme vazio...
em mim, caberia o mundo
mas o que é o mundo sem você?
qual a graça?
volta logo e me ensina a sorrir de novo
de novo me abraça
me beija de novo
eu me lembro, mas...
me perdoa que a memória é fraca...

31/07/05


Mais uma vez tudo fenece
tudo deve evaporar, derreter
mais uma vez
o círculo se fecha
a serpente abocanha seu rabo
acabou-se mais uma vez
mais uma vez
dissipar pensamentos
represar desejos
incendiar sonhos, carboniza-los
reduzir os sonhos a pó
e então espanar a poeira
mais uma vez
mais uma vez...
– Humm? Não tem ninguém com esse nome aqui não...

...

The Anger is Back
Lonelyness Has Never Left
The Anger
The Anger
The Anger

quinta-feira, julho 28, 2005

28/07/05

ó! lá vem ela! lá vem ela!
vem sorrateira, se esgueirando por entre as frestas
lá vem! posso sentir seus dedinhos abrindo caminho
é como se ela, em cada passinho curto, ao pisar tocasse uma tecla de piano, eu posso sentir sua aproximação como a evolução de uma escala
sinto seu cheiro adocicado, seu hálito fresco de orvalho, de maresia
os grandes olhos de via láctea
os cabelos de lírios
linda
perfídia
traiçoeira como só ela
Esperança
agorinha eu senti seu perfume
e agora já não há mais como lhe fechar a porta
só resta deixar que ela brinque comigo de novo
me cubra de louros neste momento e
me dilacere o coração no seguinte
não há como voltar atrás
nunca houve
já os sargaços me cobrem as faces
jazirei no profundo azul que não tem fim e nem volta
nunca teve

quarta-feira, julho 27, 2005

Mono II

– Ei, ei? O que é isto?
– Cadeira. Eu chamo de cadeira.
– Hum. E para que serve?
– Para nada.
– Nada?!
– Nada.
– Por que você fez uma coisa que não serve para nada?
– Porque eu posso.
– Mas por que você não fez algo que servisse para alguma coisa?
– Porque as coisas inúteis são melhores. As coisas inúteis são muito mais interessantes. As pessoas param para olhar as coisas inúteis.
– Acho que eu só fazia coisas que serviam para alguma coisa. Eu sei que fiz, uma vez, algo que era útil.
– Possível. Criaturas como você não têm capacidade para criar livremente, têm sempre que ter um fim predeterminado na cabeça.
– Mas é bom fazer coisas úteis.
– Bom para quem? O que você sabe sobre o que é bom?
– Não sei. Mas acho que eu soube um dia. Eu me lembro... Acho que... Sim! Eu fiz sim! Fiz de papel e aço escovado. Usei muitos parafusos e cola também e ficou tão... tão... me lembro que...
– Lembro-se.
– Pára! Pára! A lembrança é minha e eu me lembro-me do jeito que quiser!
– Tola, tola, tola. Tolinha. Você não aprende nunca.
– Aprendo sim! Eu... eu já aprendi coisas um dia, tenho certeza! Eu já soube criar noites, preencher sonhos, andar de bicicleta, montar quebra-cabeças, falar de trás pra frente, destruir universos, comer suspiros, correr bem rápido, odiar um amigo, matar um amor, chorar em despedidas, mentir, colecionar selos, fazer palavra-cruzada.
– E o que você sabe agora?
– Não sei. Agora é uma coisa assim tão estranha... Ontem eu deslizava em trajes de veludo turquesa, mas hoje... agora... O que é o agora?
– É tudo quanto você agarra com a mão e escorre por entre seus dedos e, na verdade, nunca esteve lá.
– O que é uma mão?
– Você não compreenderia.
– Me diga! Me diga o que é uma mão!
– Você jamais compreenderia.
– Isto é uma mão? É?
– Para saber, você precisa ter olhos de ver as mãos e tocar nelas e segurar o agora que nunca existiu.
– Não quero saber de mãos.

solo I

– Eu me lembro de sentimentos.
– Sentimentos ou sensações?
– Xiii, não sei... Mas me lembro de ter sentido algo. Me lembro de ter sorrido.
– Lembro-me.
– Não, me lembro. Eu gosto do erro. Por que evitar o erro? Muito melhor errar de propósito. Continuando, me lembro de ter visto e ouvido um sorriso e de ter ficado encantada. Engraçado, né?, como um monte de dentes numa boca podem fazer a gente experimentar uma outra existência...
– É, reticências são mais pertinentes que uma interrogação neste caso.
– Nossa, eu queria sorrir também diante daquela boca escancarada, linda, linda, cheia de dentes. Eu queria sorrir também. Eu me lembro bem disso, de querer sorrir, de querer beijar, de parecer flutuar, de ficar leve, leve... Mas agora acabou. Acabou.
– Acabou, é? Coitada...
– Não preciso de sua pena. Não preciso de nada seu.
– Você é que pensa. Sou eu quem ponho e tiro essas memórias da sua cabeça. Sou eu quem decide o que fica e o que vai. Eu.
– Mentira! Cala a boca, sua mentirosa. As lembranças são minhas! Minhas!
– Tem certeza?

(22/03/05)

segunda-feira, julho 25, 2005

25/07/05

eu caminho assim, a esmo
não tenho pressa de chegar
ninguém me espera lá
não tenho pra onde ir
um fogo me arde
caminho
caminho
é um oco sem fim dentro aqui
dentro em mim, noite de mata fechada
flecha, arco, gaiolas
sou presa
– de quem?
– sei não, vida, sei não.
gaiola dourada não consola passarinho
eu canto baixinho
ninguém escutaria se eu gritasse
que diferença faz?
quando a solidão está aqui, concreta feito pedra
que diferença faz a gaiola dourada?
não quero mel nem quero palavra
quero o céu
quero a imensidão
caminho
andando em círculos
– pra que a pressa, passarinho?
– vou fugir pra dentro de mim.

over my deadbody

Over my dead body

Tava chovendo pra caralho. Era mais uma daquelas noites em que eu me perguntava como podia cair tanta água do céu, esse céu desbotado, com cara de gasto. Céu puído. Mas eu tava pirando naquela casa, cara. Eu tava pirando. Saí na chuva. Precisava andar sozinha e, sei lá, esquecer um pouco de tudo, não pensar em nada, só andar.
Ela disse que eu ia acabar pegando uma pneumonia e morrendo. Eu respondi tomara. Às vezes eu simplesmente queria mesmo morrer, mas nesse dia, nesse dia eu tava só andando, perambulando pela cidade e sentindo a chuva cair em mim, sentindo cada centímetro do meu corpo molhado e então eu vi esse cara, um cara que esbarrou em mim numa esquina e sorriu e eu só pude pensar em quantos dentes ele tinha na boca porque parecia que deveria ter o dobro do normal. Parecia um desses personagens de desenho animado, o vilão caricato e cheio de dentes. Ele pediu desculpas, eu dei de ombros e prossegui. Pensava naquela enorme quantidade de dentes na boca de um ser humano. Pensei em como ter dentes bonitos é uma coisa importante na nossa sociedade. Eu, pelo menos, nunca fui muito chegada a aproximações físicas com pessoas de sorrisos feios, dentes tortos, amarelos. O pior é que quando converso com alguém de dentes feios eu sempre olho fixamente pra boca da pessoa. É uma coisa mórbida, sei lá que porra me acontece. Eu quero desviar o olhar, mas não dá, parece que a pessoa tem a porra dum ímã naquela bocona feia. Sei lá. Eu tava pensando isso enquanto atravessava uma rua e vi o dentuço do outro lado, debaixo do toldo de uma padaria fechada. Enquanto eu ia em sua direção, quer dizer, na direção da calçada, tentei não olhar, mas ele sorriu e aí fudeu, fiquei ali olhando aquela bizarrice, mas foi só um momento, não sei dizer exatamente quantos segundos se passaram, mas agora pouco importa.
Cara, você alguma vez já desmaiou? É uma sensação estranha. Eu já havia desmaiado antes, quando era pequena e meu pai perdia o controle, mas aquilo ali foi diferente, eu nunca tinha desmaiado daquele jeito, assim do nada. Do nada, cara, tô te falando. Eu só soube que tinha desmaiado, na real, quando acordei porque o dentuço filho da puta tava mijando na minha cara. Antes que eu esboçasse qualquer reação, ele já tinha sumido. É, cara, sumido. O cara tava mijando na porra da minha cara e aí, sumiu. Foi questão de segundos, cara.
Quando me levantei, tava zonza pra caralho, parecia que eu tinha tomado um puta porre. Pensei só em procurar minha carteira porque os meus últimos dez contos e uns vales transportes estavam ali. A porra da carteira continuava no meu bolso de trás. Que merda, pensei, melhor voltar agora. Então eu olhei ao redor e só aí eu saquei que não tava mais na rua onde eu tinha visto o dentuço. Na real eu não fazia a menor idéia de onde estava. Parecia um lugar familiar, sei lá, um beco qualquer dos milhares que havia na porra da cidade, só que aquele era mais escuro, ou talvez mais claro, agora não sei mais, cara. Mas é claro que eu fiquei com medo, porra! Quem tem cú, tem medo, né não?! Tentei ficar fria e sair fora o mais rápido possível pra um lugar que eu conhecesse. Então fui andando na direção de umas luzes e de barulho de gente conversando, tipo uma televisão. Passei por uma janela e vi que realmente tinha uma televisão, mas não tinha ninguém naquela sala. Sei lá porque eu resolvi parar ali, mas parei. Alguma coisa na tv me pareceu familiar: era a porra do meu prédio e tinha uma confusão de policiais e repórteres, coisa típica desses programas policiais da tv, saca? Alguém tentava entrevistar a vadia, mas ela chorava, escondia o rosto e dizia ela ficou louca, não sei o que aconteceu. Então apareceu bem ali, bem na porra da televisão na merda do Barra Pesada o meu cadáver todo fodido no asfalto. Acho que eu pulei do último andar. Como? Não sei, nunca fui muito boa em explicar merda nenhuma, eu só sei que me senti estranha, cara, como se tudo fizesse sentido, como quando você toma ácido pela primeira vez e parece que todo o quebra-cabeças se encaixa de uma só vez e você roda dentro de si tão rapidamente que esquece o segredo, mas você se lembra que soube de tudo, que soube da merda toda. Por um segundo, você foi Deus. Mas dessa vez eu não tinha tomado ácido nenhum e a sensação de que eu era Deus me bateu mais forte que qualquer merda que eu já tinha tomado na vida. Caralho, eu sabia de tudo. Eu soube de tudo. E foi na hora em que eu reparei que não estava mais chovendo, que eu já não sabia mais de nada, e reparei também que era noite, mas uma noite diferente, uma noite com uma luz de aurora-boreau, mas eu sabia que não tava na porra da Finlândia pra ver aquela luz, mas foda-se onde eu tava agora, eu tava morta, cara. Eu tava morta, porra, e me sentia bem.

domingo, julho 24, 2005

11/07/05

Meus amigos acham que eu vou me matar. Eles leram meu blog e agora acham que eu vou me matar. Não sei porque as pessoas se preocupam tanto com o fato de eu pensar em suicídio. Ainda estou aqui, não é? Dia após dia eu ainda estou aqui, e, no entanto, tenho idéias suicidas desde que eu era muito pequena pra entender o que diabos significava a palavra suicídio. Penso em me matar sim, contudo, meus senhores, alguém aí poderia me dizer quais as garantias que a vida oferece de que qualquer um de nós não vai morrer com certeza nas próximas horas, nos próximos dias? Não há garantias! Não há garantias! Todos vamos morrer, é só uma questão de tempo. O irmão da minha tia morreu porque teve uma convulsão na cozinha e, ao cair, teve uma fratura craniana. O que ele fazia na cozinha? Não, ele não estava cortando os pulsos ou tomando raticida, ele estava tomando um copo de leite. A porra de um copo de leite! Então não fiquem esperando pelo meu suicídio, vão viver suas vidas! Vão viver porque pode ser que vocês morram antes de mim, fazendo algo banal ou então vitimados pela violência crescente das cidades. Quem é que poderá saber? Quem? E, talvez na maior e pior ironia da Vida, ela me mate antes de mim. Eu não duvidaria disso. Quero deixar bem claro que isso não significa, meus senhores, que agora meus amigos devam se preocupar em me manter em vigilância preventiva. Não mereço nenhuma atenção especial já que sobrevivi até o dia de hoje. Não estou estocando barbitúricos; não tenho armas de fogo e nem tampouco penso em me jogar pela janela porque, meus senhores, moro na porra do primeiro andar. Também não é necessário tirar facas e objetos cortantes do meu alcance porque tenho horror a sangue e não suportaria cortar os pulsos e as coxas. Parem de pensar, meus senhores, que estou a um passo de me jogar na frente de algum carro porque não posso suportar a idéia de que ao invés de morrer eu ficaria tetraplégica porque eu acredito que há coisas muito piores do que a morte, na verdade eu acredito que a morte, em alguns casos, pode ser a melhor coisa a acontecer. Parem de pensar que estou a um passo do suicídio, não estou. Não posso morrer agora. Mas, como eu já disse, que garantias tenho eu de que não morrerei naturalmente nas próximas horas como qualquer pessoa viva, como qualquer um de vós?
Se a própria Vida não se encarregar de encurtar meu tempo nesta terra, amanhã eu estarei aqui digitando outro texto. Não sei porque as pessoas agora se alarmam. Sempre pensei em suicídio e, durante uma boa parte da minha vida, isso foi o meu assunto foco. Agora é um assunto que vai e vem, mas que eu não executo por uma série de fatores práticos que ultrapassam a minha consciência da tristeza que isso poderia causar em algumas poucas pessoas. Pode lhes parecer frio da minha parte, meus senhores, mas este é meu pensamento: ninguém deve manter-se vivo por medo de ferir outrem porque ninguém pode viver com o peso de ser a base da vida de outra pessoa. Eu não quero ser nunca o pilar da existência de outros, e nem nunca quero me prender a este mundo, que já tem tão pouco a me dizer, por causa de sentimentos alheios. Por frio que se lhes pareça, meus senhores, quando eu achar que chegou minha hora, minha hora terá chegado e ninguém, ninguém, por mais amor que eu sinta por todos os que amo, ninguém neste mundo segurará minha mão.
No mais, enquanto ainda há pendências aqui neste mundo, permaneço. E, no momento, eu estou pensando mais é em ir pra alguma festa e dançar muito e ficar bêbada porque eu gosto de ficar levemente bêbada (sem caipirinhas, vexames e vômito, por favor!), gosto de me perder em sensações boas de leveza e esquecimento, sonhar acordada que estou flutuando sob uma música boa de dançar. Quero fechar os olhos e dançar. Só isso.
Gostaria que meus amigos parassem de se preocupar comigo e voltassem sua atenção a coisas mais importantes de suas próprias vidas, suas famílias, seus empregos, namoradas e namorados, seus próprios problemas existenciais. Eu já não estou mais aqui. Embora eu sorria, embora eu escreva, embora eu olhe o céu e a lua, já cruzei a linha, já ultrapassei isso. Só peço que, por favor, não me venham agora com discursos sobre o valor da vida, sobre a importância disso e daquilo. Pouco me importam os malditos valores cristãos, o medo do que há depois, o discurso de que as coisas vão melhorar, e blá, blá, blá. Eu escuto isso há anos e adivinhem: nada acontece, nada melhora porque é algo que me vai por dentro... não é porque não tenho dinheiro, porque quando eu tenho dinheiro, também me sinto assim; não é porque não tenho a porra dum namorado, porque eu também me sentia infeliz quando tive namorados. Dá pra entender? Eu não sei que porra é essa, só sei que dói, e todas as tentativas de manter a normalidade, só me fazem sentir cada vez mais falsa, cada vez mais anormal, irreal, distante daqui. É como um pêndulo que oscila de um lado pra o outro, mas o meu pêndulo se demora muito num lado, no pior lado e dificilmente chega até o percurso final do outro lado, normalmente ele vai só até a metade, mas por alguns milésimos de segundo ele já chegou no lado oposto, no lado da graça e da beleza, dos sentimentos elevados e desprendidos, mas aí ele volta ao percurso habitual e fixa-se por uma infinidade de tempo no lado mau. E eu estou aqui, não é? Continuo fazendo tudo o que deveria fazer, não é? E até me divirto na companhia das minhas amigas e amigos. Na verdade, tudo de bom que me aconteceu parece estar sempre relacionado ao simples fato de minhas amigas e amigos existirem, como no último sábado. Alguns, atendendo ao movimento natural da vida, se afastam, tudo bem, isso é normal e compreensível. Outros, afastam-se por vontade própria e acho que eles fazem bem em se afastar, mas isso me deixa com a dúvida latejante de que talvez eu não seja boa pessoa pra que outras estejam assim tão por perto. De qualquer forma, nunca fiz nada com a intenção de magoar minhas amigas e amigos, mesmo aquelas e aqueles que me magoaram e continuam magoando duvidando do afeto, do carinho que sinto, me mantendo a uma distância segura de suas vidas. É como aquela música “eu não posso fazer mal nenhum a não ser a mim mesmo”... Mas eu respeito a liberdade individual, as pessoas devem ser livres pra fazerem o que preferirem de suas vidas, inclusive me remover delas.
Será que eu já fiz mal pra alguém? Acho que sim, devo ter feito. Eu posso até nem me lembrar, mas a pessoa deve se lembrar. Mas se eu fiz mal a essa pessoa enquanto ela me considerava amiga, por que não me disse nada? Eu não sei. Talvez eu não valha o esforço. Provavelmente não valho. Whatever, não vou sair por aí distribuindo formulários de desempenho pras pessoas e também não vou me matar por isso, por mais triste que eu fique em saber que algumas pessoas das quais eu gostava tanto, com as quais eu me preocupava tanto simplesmente consideram minha amizade desnecessária, supérflua. Isso dói pra caralho e é mais uma coisa foda a me atormentar porque eu continuo a me preocupar com elas porque afeto não é algo assim tão facilmente retirado e esquecido, não por mim que tenho tanta dificuldade em me relacionar com as pessoas. Pra os outros, essas pessoas maravilhosas e sempre cercadas de amigos verdadeiros, deve ser fácil deixar pra trás quem já não é mais útil.
Eu sei que não sou uma pessoa fácil de se conviver, que tenho muito mais baixos, que sou pessimista e vejo as pessoas em geral com frieza e distanciamento que nem sempre são bons, mas que me têm sido útil pra evitar contatos com criaturas falsas, embora meu método seja falível como se pode perceber, eu admito, enfim, eu sei que sou custosa, geniosa, mas nunca me considerei uma pessoa ruim, embora às vezes eu tenha lá minhas dúvidas a respeito. Acho muito escroto eu ficar abalada pelo comportamento de algumas pessoas que só demonstram que, na verdade, nunca foram merecedoras do meu afeto mais sincero e isso me dói porque eu odeio ser fraca e odeio cometer erros tão primários de julgamento de caráter. Afinal, todo mundo quer reconhecimento e afeto e eu também quero! E, no entanto, cada vez mais o tapete é puxado sob meus pés e eu quebro a cara no chão.
Em quem vou confiar, afinal de contas? Invisto um tempão numa amizade pra saber que essa mesma amizade foi deletada pelos motivos mais idiotas ou simplesmente porque eu disse a verdade. Que merda de amizade é essa que se desfaz assim como se nada fosse? Que merda de amizade é essa na qual eu não posso dizer o que penso sinceramente pra pessoa? Então eu não vou mais fazer amizade com ninguém, o círculo vai diminuindo cada vez mais até que só reste eu...
O que me preocupa de verdade nesse dramalhão mexicano que se transformou minha vida é: se um dos poucos motivos pra ter momentos bons que eu tenho são meus amigos, como fica quando não restarem mais amigos porque agora eu nem posso dizer o que penso e devo me manter numa vigilância paranóica a respeito de tudo o que eu faço porque qualquer merda é motivo pras pessoas retirarem sua amizade sem nem me comunicar?!
Minha vida que já é escrota, está só piorando com o tempo. Ao invés de ficar mais tranqüila, estou ficando mais paranóica, mais ansiosa, mais nervosa. Não estou a um passo do suicídio, estou sim a um passo do descontrole, do surto, de pirar e dar na cara de alguém que me disser uma bobagem. Foda-se! Fodam-se pessoas escrotas que não dão valor ao que tem valor! Fodam-se! Vocês que fizeram com que eu duvidasse de mim, fizeram com que eu me sentisse idiota e desamparada. Nada do que vocês possam dizer agora vai apagar isso. Minha memória é uma bosta, mas pelo menos serve pra guardar algumas coisinhas. Fodam-se as suas futuras “boas intenções”! Vivam suas vidas e me deixem em paz com os pouquíssimos amigos verdadeiros que ainda tenho. Vamos aproveitar a liberdade individual e levarmos nossas vidas separadamente da forma que cada um achar mais conveniente.
Tenho que parar de pensar nessas merdas porque isso é um atraso de vida. Tenho que me concentrar no que é importante, no que vai me trazer algum benefício, não no que me faz mal. Pra isso já me basta trabalhar naquele lugar que odeio.
Vou terminar de ler meu livro que eu ganho mais.

sábado, julho 23, 2005

23/07/05 de madrugada

minhas costas doem
a velha dor de sempre
o peso do inefável nas costas
me lembro dele
da voz quente e macia
como sua própria pele
por que essas lembranças permanecem tão vívidas?
deveriam dissipar-se todas, assim como as esperanças

é madrugada
não durmo
o sono não me alcançou ainda
sonho acordada
minha pele se lembra
então minhas mãos procuram

a lua, o esplendor no céu, brilha
aqui dentro, nesta casa pequena, neste corpo pequeno,
tudo se contrai e se contorce
a memória fere
e eu não consigo dormir
sonhos me perseguem enquanto sinto a noite
se eu pudesse tocar a voz que me persegue
essa voz que diz quero você, quero você, quero você
eu também quero, gostaria de poder responder

que crueldade uma lua como a de hoje
esse céu de se perder
essa lua de se entregar
e eu aqui pensando
ouvindo coisas
quero você
quero você
e os dias não têm fim
e as noites não tem fim

que é de mim?
onde fui parar?

sexta-feira, julho 22, 2005

22/07/05 no final da tarde

Eu estava pensando que a dança pra mim é equivalente a sexo. Eu simplesmente adoro dançar! Não que isso signifique que eu tenha qualquer vocação pra dança artística, eu gosto é de ir à festas e dançar até elas acabarem. Me sinto feliz dançando. Aí me disseram uma vez pra eu dançar sozinha em casa. Bem, ficar dançando sozinha em casa eu fico, mas isso é como se fosse masturbação: é divertido e tal, mas nem se compara a dançar numa festa. Aqui em casa não tem ambiente: não tem jogo de luz, não tem estrobo!, nem fumacinha, nem dj. É claro que essas coisas fazem diferença e, nesse ponto, dançar fica mais complicado que fazer sexo.
Mas tem um ponto em que a dança ganha do sexo: eu posso ir pra uma festa e ficar dançando sozinha a noite toda. Infelizmente é preciso pelo menos mais uma pessoa pra se fazer sexo. Mas dançar e trepar não são auto-excludentes, na real não têm nenhuma ligação: posso dançar e não trepar e vice-versa. A necessidade de dançar, sempre existiu em mim, desde pequenininha, nesse sentido, a necessidade de sexo é bem mais recente. Ah, se eu pudesse... se fosse apenas uma simples questão de escolha, independente de dinheiro, meio de transporte e tal, eu iria a festas todas as noites e passaria a noite toda dançando.
Por isso forró é legal, mas eu não gosto tanto assim das festas porque não é a mesma coisa ficar dançando sozinha: existe a necessidade de um parceiro e isso me incomoda num certo sentido porque não pode ser qualquer um, tem que ser um cara que saiba o que está fazendo, que realmente saiba dançar. Confesso que gosto de dançar com os caras que fazem aqueles malabarismos de me jogar pra cá e pra lá, rodar, e isso e aquilo porque acho superdivertido, me faz rir porque eu nunca sei o que estou fazendo e sempre erro as rodadas, mas é divertido. Só que é bacana em doses homeopáticas porque dançar sem exibicionismo é mais legal. Eu escuto bastante forró em casa, sem obrigação de dançar, mas ir a uma festa e ficar lá dançando sozinha é estranho, fica realmente incompleto, perde a metade da graça. Engraçado que, há uns três anos atrás, eu simplesmente convidava os caras pra dançar e assim dançava a noite inteira, eu tinha iniciativa. Hoje em dia... das últimas vezes em que fui a forrós, não chamei ninguém pra dançar. Putz, tô ficando velha e mais tímida. Que palha! Talvez eu faça isso de novo, chamar um cara pra dançar. Eu acho que não tem nada de mais. É o tipo da coisa que eu posso fazer. Acho que vou montar uma lista com as coisas – possíveis – que eu deveria fazer.
Ah, mas as festinhas de rock e de black music... ah, nessas sim dá pra se ficar dançando a noite inteira sozinha e sem óculos, sem nada: só eu e a música. É por isso que eu danço de olhos fechados: pra ficar imaginando que estou sozinha na festa. Eu não vou a festas paquerar ninguém, até mesmo porque eu não sei paquerar; não vou pra conversar, isso posso fazer em qualquer outro lugar com um som ambiente mais adequado; eu vou pra dançar e só isso. Tem uns momentos em que até rola de fazer algum comentário com um amigo ou amiga do meu lado, mas tem que ser rápido, nada de conversas. Quanto à paquera, meus senhores, como é que alguém que dança de olhos fechados e de cabeça baixa paquera? Por mim, tanto melhor, eu nunca fui boa nessa coisa de seduzir, de fazer caras e bocas e ficar secando os caras. Putz, só de pensar em ter que fazer isso já começo a suar frio. Eu não fui feita pra ficar dando voltinhas no meu objetivo: se tem um cara que eu gosto, eu vou em linha reta, chego logo e falo. Infelizmente parece que é uma espécie de ofensa pra um cara se uma mina chega junto. Não me lembro de ter levado nenhum fora porque numa sociedade machista como a nossa, um cara que recusa uma mina é sumariamente tachado de viado. Mas já ouvi bastante comentários a respeito do assunto da iniciativa feminina e não gostei não. Whatever. Também já faz muito tempo que não tomo iniciativa alguma com cara algum e creio que continuarei assim porque, meus senhores, vocês sabem, eu quero que os homens morram com dorrrr.

Lembrei agora do i-meigo que o italiano me mandou dizendo que está esperando um filho com a dona que ele namorava antes de vir para o Brasil. Eu li a notícia e não senti nada além de indiferença. Por que eu me sentiria feliz ou triste? Isso diz respeito a eles apenas. Ele sempre dizia que queria filhos, mas em alguns anos quando estivesse mais estabilizado. Eu me sentiria feliz se soubesse que ele está feliz com a chegada da criança, ou me sentiria triste por ele se soubesse que ele não queria esse filho, na real aí eu me sentiria infeliz por ele e pela criança... eu gosto muito dele, tenho um carinho enorme por ele e realmente espero que as coisas dêem certo na vida dele. É esse o afeto que tenho, nada mais. Talvez realmente seja possível que a gente goste da pessoa certa para gente porque ele tinha tudo pra virar minha cabeça, mas também tinha outras coisas que me fariam sofrer demais, como o fato de morar em outro continente, e eu estou totalmente saturada de me meter nessas estórias roubadas, chega de caras chave de cadeia.

Ontem eu estava montando meu horário pra UnB e percebi, chocada, que se eu já não tinha tempo pra porra nenhuma no semestre passado, agora então é que estou fodida mesmo... Se eles me derem tudo o que eu pedir, farei cinco disciplinas, uma no sábado de manhã, inclusive porque eu mereço sofrer. Cinco disciplinas não é tanta coisa, os senhores podem pensar, mas acrescentem aí as minhas quarenta horas de trabalho semanal e o bicho pega. Tenho que montar uma estratégia pra maneirar meu trabalho na escola, do tipo fazer provas objetivas e não corrigir mais cadernos. E nada de trazer trabalho pra casa! Nem pensar! Meu tempo extra vai ser consumido com leitura pra UnB. Meus senhores, aí é que se fará necessário que eu saia pra dançar muito pelo menos no sábado a noite que será o meu único dia disponível. Tomara que haja muitas festas nesse segundo semestre nos sábados porque nas de sexta eu não poderei ir... Por que as pessoas inventam aulas no sábado de manhã?! Poderia ser, no mínimo, de tarde, né? Sem condições. Imagina só chegar em casa às 5h, 5h30 da manhã, tomar banho, tomar café e ir pra aula das 8h?! dói dó de pensar. Ah, será o enterro da minha vida social que andava moribunda semestre passado... Mas, quer saber, eu só produzo mesmo quando estou cheia de atividades, cheia mesmo, entupida, lotada, abarrotada. É bom porque não terei tempo de pensar em muita merda.
Sabe, esse fim de tarde está sensacional e, na verdade, não há nada de especial nele. Adoro isso. O pôr de sol é uma coisa tão linda, tão linda! Até dá vontade de sair por aí caminhando. Mas eu não vou a lugar algum, eu vou ficar aqui sentada olhando pra o céu mudar de cor lentamente e depois... ah, sei lá, tenho que terminar Os Anos pra devolver na biblioteca. Na real eu gostaria mesmo era de ir pra outra festa hoje porque ontem as músicas ficaram muito ruins ainda cedo e cheguei aqui antes das quatro... que triste. Mas deu pra dançar bastante enquanto o som tava bom.
Aí, como ficar parada aqui enquanto toca Prince na rádio?! “maybe I’m just too demanding...”

22/07/05

acabei de voltar - super cedo - , mas, enfim, cheguei agora de uma festinha e vi um comentário aqui. aff! realmente tenho um leitor! o pior não é isso, é ter um leitor anônimo... até isso eu mereço. leitor anônimo. talvez eu escreva algo sobre isso outra hora, numa hora menos etílica porque caipirinha, meus senhores, é uma coisa boa e deve ser aproveitada ao máximo. então agora não escreverei nada, vou ficar rindo das coisas que me recebi hoje por e-mail. a caipirinha é um dos pilares desta nação, meus senhores! respeitemos a caipirinha! saudemos a caipirinha! e, acima de tudo, bebamos a caipirinha!

quinta-feira, julho 21, 2005

21/07/05

Hoje de noite eu fiz meu primeiro "amigo" na internet depois de dois anos. Bem, o último que eu fiz foi justamente o motivo pelo qual eu nunca mais entrei no mirc. Mas aí eu estufei o peito, comi uns quatro bis, sintonizei na Executiva - a coqueluche do momento aqui em casa -, me sentei aqui e entrei no mirc. Achei que eu nem saberia mais como entrar nesse troço. E não é que deu certo? Eu falei com pessoas totalmente desconhecidas de novo! Ah, meus senhores, o milagre da internet! Quando?, quando?, meus senhores, me digam quando uma pessoa como eu sempre tão séria e introspectiva no convívio social entre estranhos, seria aborada para uma conversa amigável sobre nada?! Mas pela internet tudo é tão fácil! Tudo o que eu tenho que fazer é entrar num canal usando o meu nick que eu até acho bem bacana e aí esperar que alguém fale comigo, ou então procurar algum nick bacana, sugestivo, para puxar assunto.
Também não sei porque eu resolvi entrar no #curitiba hoje. Eu nunca entro em canais de outras cidades, mas tenho pensado bastante em Curitiba ultimamente. Será que eu sobreviveria lá, caso fosse necessário? Desde a primeira vez que passei por lá de ônibus, indo pra Porto Alegre, eu me pergunto isso, será que eu sobreviveria em Curitiba?
Depois de ter passado aquela semana lá, meus enhores, passeando a esmo, sozinha pelas ruas frias, ou então fazendo turismo com os meninos, eu me senti bem lá, me senti apenas mais uma anônima na cidade grande. Muito diferente da sensação que tive em BH, SP e no Rio.
O Rio é a mais bonita cidade, mas a q tem os mais acentuados contrastes sociais e isso me dói muito, além do que o calor é terrível e eu não preciso de tanto mar pra viver. Não mesmo.
BH é uma cidade pequena grande. Sei lá se eu conheci o que tinha lá de legal, mas detestei a maneira como as pessoas me olhavam, como se eu fosse parte de um freakshow e, putz, na época eu não tinha metade dos piercings de hoje e era até mais simpática porque mais jovial... fico imaginando que hoje seria perseguida pela Praça da Liberdade por camponeses com tochas e ancinhos...
SP é grande. Ponto. Me sinto esmagada por SP. Putz, nem brincando eu queria morar lá, só iria se fosse por pouco tempo e pra fazer algo muito necessário, um curso por exemplo.
Gosto mesmo é da pequeneza de Brasília. Dos prédios novos e decadentes. Gosto do Plano Piloto fácil, fácil de entender. Mas Curitiba é uma incógnita.
Lembro da Pedreira Paulo Leminsk. Gostei tanto daquele lugar estranho! Um frio da porra! E os paredões de pedra. A ópera de arame achei tão menos do que eu esperava... Mas gostei mesmo foi das ruas, das pessoas andando cada uma cuidando de sua vida, de suas coisas. Sei lá.
Bem, mas isso tudo começou porque eu falei que fiz um "amigo" novo na internet. Então, ele me adicionou não apenas no messenger, meus senhores, mas no orkut também. Eu realmente gosto de conversar com pessoas que estão remotamente e seguramente distantes. O cara é bem legal e eu gostei mesmo dele, senão nem teria conversado, mas, enfim, sei lá, é bom saber que existem pessoas pra se conversar coisas bobas e coisas até bastante pessoais sem a gente se conhecer.
Tecnologia é um bichinho danado.
Whatever.
Melhor eu ir dormir também.

terça-feira, julho 19, 2005

19/07/05

finalmente!finalmente!finalmente! meu telefone voltou a funcionar hoje e eu tenho novamente internet em casa!! êeeee! putz, muito bom poder dedicar minhas horas mortas ao ócio internauta! bem, pelo menos é mais fácil do que fazer alguma outra coisa do tipo frequentar academias de ginásticas. ah, muito bom poder ficar aqui a toa!

ah, meus senhores, sabe, eu acabei de pensar numa coisa enquanto esperava meu micro abrir essa página: às vezes eu acordo no meio da noite, daí eu abro os olhos sem vontade nenhuma, só pra conferir mesmo onde estou e tal, e pra ter certeza de que não há ninguém aqui além de mim. pensei que talvez seja justamente por isso que as pessoas tenham vontade de se casar, pra poder acordar no meio da noite e ter alguém do lado, ter alguém pra quem olhar na penumbra das noites, ter alguém a quem tocar no meio das noites em que se acorda assim do nada. sei lá. estranho é que tá passando a porra duma música que nunca ouvi e o cantor falou isso, acabou de falar: someone to reach out to. gosto dessas coincidências malucas.
ah, tô ouvindo a Executiva FM. nem sabia da existência dessa rádio, mas, enfim, tô ouvindo desde a hora em que acordei. eu tava tentando sintonizar uma outra rádio, mas aqui em casa tenho um problema sério porque várias rádios se sobrepõem umas às outras sei lá porque cargas d'água. passei o dia fazendo faxina e ouvindo a Executiva FM que mistura a Antena 1 com a Nova Brasil FM. gostei dela. putz, ouvi até uma música trash que eu adoro, uma que a Cher canta e que eu só sei mesmo "never again, cross my heart" acho que fala "what's a man without a woman". whatever. é trash e eu me amarro. muito Antena 1.
bem, estou tão excitada por ter internet de volta!!!
ah, meus senhores, eu realmente me alegro com tão pouco!

17/07/05

As vezes eu tenho uma vontade tão grande de escrever! Uma urgência, uma tal aflição e angústia, algo que me invade numa ânsia muito maior do que a que sinto quando quero falar com alguém por exemplo. Escrever sempre foi, para mim, a melhor forma de desabafar porque aqui as palavras não se perdem, depois podem ser revistas, revisitadas, analisadas, ruminadas e digeridas. Quando se fala com outra pessoa, as palavras se esvaem. Algumas são absorvidas pelos ouvidos da pessoa, outras se perdem. Não gosto que as palavras se percam. Isso me causa um terrível mal-estar. Acho que sou terrivelmente controladora, quero controlar até o fluxo das palavras, e sofro porque sei que isso é impossível. Mal consigo controlar as palavras que falo porque, danadinhas, elas se escondem de mim quando preciso delas, se escondem e brincam comigo, com meus nervos. Eu tento procurá-las e, muitas vezes, só as encontro no Houaiss, depois de buscar entre vários sinônimos. Sinto uma brutal necessidade de usar as palavras apropriadas, ainda que elas sejam totalmente inadequadas aos olhos dos outros, ou simplesmente banais. Mas eu gosto das palavras, especialmente das ordinárias, das gírias, dos palavrões. No entanto, me preocupo com o fato de não usar palavras antigas porque tenho medo que elas só existam mesmo no dicionário. As palavras devem ser mantidas vivas. Hoje, por exemplo, eu estava procurando mixomatose[i] e aí me deparei com uma palavrinha que gosto mas que vivo esquecendo: mixórdia[ii]. Pensei em adota-la. Acho que escolherei uma palavra de pouco uso cotidiano todo dia pra usar, nem que seja numa frase sem sentido, só pra encaixa-la.

Passei o dia inteiro deitada, dormindo na maioria esmagadora do tempo, mas os breves momentos em que estive desperta, pensei em coisas como essa que escrevi agora. Pensei também na questão das rimas na música, e em como os autores sacrificam o sentido em prol da rima. Pensei que se eu escrevesse música, talvez sempre preferisse o conteúdo às rimas, fazendo coisas que soariam estranhas e desconexas, mas quem disse que a música tem que ser sempre confortável? É bom incomodar as pessoas, fazer com que saiam do seu estado de inércia. Inércia. Hum... hora de consultar novamente o Houaiss. É, inércia[iii] é a palavra certa. Uma vez li que o natural do ser humano não é a inércia, mas o movimento. Então as pessoas assim tão bem acomodadas, tão inertes, precisam voltar ao movimento, à agitação, e pra isso deve haver desconforto.
O que me fez pensar nessa coisa das rimas foi uma música em que o Lenine diz “as vezes eu penso que sai dos seus olhos o feixe/ de raio que controla as ondas cerebrais do peixe”. É isso ou quase isso, vai. Mas, enfim, o ponto é que a música é bem bacana, soa bem, mas rimar feixe com peixe foi tão desnecessário. Achei bobo pra dizer a verdade. Eu, que sou uma reles ninguém, até poderia rimar feixe com peixe assim tão bobamente, mas o Lenine não, ele faz coisas muito melhores. E aí fiquei pensando que seria melhor não rimar porra nenhuma. Sei lá, música é uma coisa complicada porque envolve tantas outras coisas, envolve pensar e sentir, coisas que nem sempre se combinam harmonicamente. Se bem que tenho muitas dúvidas a respeito da separação entre o pensar e o sentir, mas isso fica pra um outro dia.

É estranho, as vezes tenho tanta vontade de escrever que é como se eu pudesse escrever sobre tudo, tudo o que existe no mundo e até sobre o que nem existe. Acho que entendo o Bispo[iv]: é como se a gente devesse passar o mundo a limpo. Talvez por isso eu goste das coisas dele, que não me parecem loucura, ao contrário, parecem extremamente coerentes. Gosto das palavras dele, na seqüência em que ele escreveu, pena que conheço pouco. Elas fazem sentido. É estranho sentir isso, essa vontade louca de ir remontando o mundo, como se fosse necessário esse esforço que é, na verdade, totalmente irrelevante, de se dar uma visão nova sobre o mundo, bem, talvez não nova, mas pessoal. Digo que é irrelevante em termos de utilidade para a humanidade. Mas talvez sejam só esses esforços o necessário para a humanidade continuar a ser a humanidade.
A Verdade não me interessa. Tampouco a Beleza. Eu gosto do que parece ser humano, isso de buscar coisas inefáveis. O intangível. Gastar tempo pensando sobre o que é a Vida, a Liberdade, o Amor, a Verdade, isso é humano porque inútil. Ninguém nunca vai saber definir exatamente, medir, pesar, quantificar tais coisas. Então por que a gente gasta tanto tempo pensando e falando a respeito? Porque isso faz parte da nossa natureza. Procurar explicações e fabricá-las mas sempre acreditando que não se trata de algo construído, forjado por nós, mas algo simplesmente percebido por nós, nos dado por algo maior e melhor que a nossa inteligência. Pois eu admiro a inteligência humana, capaz de criar mundos, universos inteiros dentro da própria mente e capaz de expelir criações e vivificar material inerte e contar maravilhas, tragédias, o sublime, o escatológico. A capacidade de criar a que chamamos Arte, é para mim, aquilo que justifica a existência da humanidade. Nós criamos deuses, criamos a necessidade do Amor, a esperança em um amanhã melhor. Nós criamos isso!
Ok, nós também criamos a propriedade privada, a fome, a guerra, e blá, blá, blá, mas isso faz parte de nós também, da nossa complexidade. Não há nada que seja 100% bom e 100% natural. Os seres humanos, criaturas do mundo, são naturais, tanto quanto cactos ou planárias; nós possuímos uma natureza complexa e rica como as orquídeas e os golfinhos, essencialmente não somos bons ou ruins, nós somos o que somos.
Infelizmente temos uma coisa que nem os golfinhos, orquídeas, planárias e cactos têm: educação. Eles são criados pelo mundo e suas contingências. Nós somos criados por outros humanos. Eu que sou professora acho que posso falar a respeito disso. A educação que recebemos em casa, na escola e na vida, faz com que sejamos monstros egoístas capazes de fabricarmos armas e estouramos os miolos de crianças indefesas. Nossa educação faz com que nos sintamos infinitamente superiores aos outros porque possuímos um celular com câmera ou um tênis nike, ou porque nosso deus – tão pré-fabricado quanto qualquer outro – é infinitamente mais misericordioso e justo que o deus dos outros e, por isso, eles devem ser mortos sem nenhuma compaixão.
A forma como somos educados nos transformou nesses poços de frustrações, paranóias, e mais um sem número de patologias mentais como acreditar piamente que alguém é superior ou inferior pela cor da pele, altura, peso, e blá, blá, blá, coisas que no mundo dos outros animais são características levadas em consideração por fins reprodutivos, no nosso mundo, o mundo dos humanos, tão moderno e sofisticado, aqui no nosso mundinho essas características têm peso ainda, na verdade tem peso demais.
Mas, enfim, eu gosto da humanidade. Só me chateia o fato de sermos tão imbecis, mas acho que por conta da nossa capacidade latente de Criar, sublimamos nossa mediocridade. Meus senhores, quando eu digo Criar, estou me referindo sempre à Arte, nunca à reprodução porque procriar é uma maldição, a prova é o número de crianças abandonadas por aí, o número de abortos realizados anualmente, o número de adultos problemáticos frutos de pais perturbados. Ao invés dos seres humanos procriarem, deveriam tentar Criar. Ao invés de filhos, deveriam parir sonetos, esculturas, música, sei lá. Antes um livro acumulando poeira numa prateleira de biblioteca que uma criança crescer sozinha, sabendo-se rejeitada.
O fato de eu ser pró-controle de natalidade também é assunto pra uma próxima estorinha porque é um assunto muito comprido. Mas o fato é que eu me incomodo muito com a irresponsabilidade das pessoas, ricas ou pobres, que têm filhos sem a menor condição de dar o que uma pessoa merece: atenção, carinho, respeito, fora refeições saudáveis e educação formal de qualidade, mas o básico, o básico mesmo é o amor, porque os outros conceitos estão, em teoria – muitíssima teoria –, associados a ele. E eu digo isso com conhecimento catedrático no assunto: só quem teve pais ausentes, negligentes e/ou violentos, enfim desestruturados, sabe o que é isso. Sei lá, às vezes quando penso nisso, na falta de amor pelos humanos e pelo mundo que nós temos e demonstramos claramente todos os dias em quase todas as nossas ações, penso que talvez a melhor solução seja mesmo o nosso extermínio. Todos vamos morrer um dia mesmo, talvez a gente devesse morrer todos de uma vez logo e deixar o planeta livre pra os outros animais que são muito melhores do que nós. Menos as baratas. As baratas deveriam ser exterminadas, dizimadas, aniquiladas muito antes de nós. E foda-se o equilíbrio da cadeia alimentar, os ecossistemas, biomas e blá, blá, blás. As baratas devem morrer. Depois a gente também pode morrer tranqüilamente.

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[i] Por conta da música Myxomatosys (Judge, Jury & Executioner) do Radiohead.
Mixomatose s.f. 1 Pat estado orgânico caracterizado pela presença de mixomas múltiplos 2 Vet doença virótica que ataca coelhos e provoca lesões de pele semelhantes a mixomas e dilatação das membranas mucosas.
Mixomas s.m. Med tumor benigno, de consistência macia, constituídos por fibroblastos imersos em muco, que se desenvolve ger. Sob a pele, nos membros e no pescoço.

[ii] Mixórdia s.f. 1 mistura confusa de coisas variadas; mistifório, confusão, bagunça, barafunda 2 situação ou fato atrapalhado e conflituoso; embrulhada, desentendimento, atrapalhação 3 comida ou bebida misturada e intragável, mistela, tiborna, gororoba.
Mistifório s.m. infrm. pej. mistura indistinta de coisas ou pessoas; mixórdia, confusão.
Mistela s.f. bebida feita com vinho, água, açúcar e canela 2 amontoado de coisas diversas, misturadas; miscelânea, confusão 3 vinho de baixa qualidade e/ou de mau sabor 4 infrm. comida malfeita, ruim, ger. com vários ingredientes misturados; gororoba, mixórdia.
Tiborna s.f. 1 pão quente embebido em azeite novo 2 qualquer refeição ao ar livre no campo; piquenique 3 misturada de comidas ou bebidas 4 fig. mistura confusa; mixórdia 5 fig. situação atrapalhada; mixórdia 6 líquido entornado 7 b fezes do alambique, depois da destilação 8 b n.e. coisa ruim, sem valor; porcaria.

[iii] Inércia s.f. 1 fis resistência que a matéria oferece a aceleração 2 quim propriedade que possui uma substância de não reagir em contato com outra 3 fig falta de reação, de iniciativa; imobilismo, estagnação 4 fig. estado de abatimento caracterizado pela ausência de reação, pela falta de energia física ou moral; apatia, indolência, prostração 5 fig. obsl. falta de habilidade; inaptidão, incapacidade.

[iv] Bispo do Rosário, José Arthur (1909-1989), artista brasileiro. Esquizofrênico, psicótico e paranóico, viveu internado na Colônia Juliano Moreira, Rio de Janeiro, durante 50 anos. Ficou conhecido com o nome de Arthur Bispo do Rosário. Nasceu em Japaratuba, Sergipe, e morreu no Rio de Janeiro. Produziu volumosa e personalíssima obra, composta por mais de 800 peças, entre objetos ou assemblages que se dividem em grandes temas recorrentes: as roupas e os mantos, os estandartes, os arquivos, e os objetos mumificados. Para fazer seus bordados, ele mesmo produzia a linha, desfiando, pacientemente, qualquer pano que lhe caísse em mãos.

sexta-feira, julho 15, 2005

15/07/05

Defina humildade
Defina arrogância
Defina cinismo
eu não sei fingir que sou humilde
mas talvez seja isso o que a Sociedade quer
eu não sei fingir que sou benevolente
mas talvez seja isso o que a Sociedade quer
e talvez a Sociedade me imagine – finalmente- liberta dos piercings, cabelo castanho na altura dos ombros, corte reto, saia godê dois dedos acima dos joelhos, sapato bico-fino, blusa de tecido leve, bem feminina, e no rosto um doce ar de compaixão e benevolência emoldurando olhos humildes.
me sacaneiam: darei a outra face
puxam meu tapete: perdoarei outra vez
sete vezes setenta, pois não?
Lá pela 500a vez, eu, ainda prostrada, parei de contar há séculos, mas continuo juntando as mãozinhas e lançando um olhar manso aos céus, rogando para estes que “não sabem o que fazem”.
Se é isso o que a Sociedade quer, pode esquecer meu camagada. E se pra fulano&ciclano minhas “quedas não foram muito altas, pois a [minha] arrogância e cinismo refletem muito bem este fato”, o que eu posso dizer além de que minhas quedas me puseram exatamente onde estou hoje – acima do bem e do mal! HAHAHAHAHAHAHA!!!! (risada de bruxa maquiavélica).
Eu não preciso fazer de contas que sou muito boazinha e compreensiva para que fulano&ciclano gostem de mim. Eu sou quem eu sou. Melhor mesmo que algumas pessoas se mantenham à quilômetros de distância porque eu não sou do tipo que se curva a opiniões alheias, especialmente quando elas são feitas de esterco.
Foda-se a falsa modéstia!
Foda-se quem se vitimiza para dizer que é humilde!
Foda-se quem diz “mas é claro que eu te desculpo, beltrano!” só da boca pra fora, tão falsamente quanto político beijando criancinha de periferia em eleição.
Meus senhores, será que eu preciso disso? Agora terei que contratar uma agência publicitária pra me filmar casualmente ajudando velhinhas a atravessar a rua, tirando gatinhos de árvores, comendo buxada junto com pedreiros e pondo um sem número de criancinhas catarrentas no colo?! Já até posso ver as fotos com o slogan “Verônica, a humilde!”
Meu povo! – hum, hum – meus senhores, eu realmente preciso dessa demagogia para que a Sociedade possa dormir tranqüila? Na real, por que eu perco meu tempo com drama queens?
Humildemente me despeço.
Vossa serva, Verônica, a Humilde!


Ps: como diria um colega de trabalho: tem base um trem desse?!

Ó, Azia!
Ó, Azia!
Que vem para comemorar comigo
o despontar de um novo dia!
Eu, cínica e arrogante
tenho a astúcia de afastar o amigo
e atrair sempre mais vilania
Eu, cínica e arrogante
beijo os pés do nefasto inimigo
ando cercada pela pior companhia
pois prefiro o verdadeiro inimigo
mil vezes ao falso amigo
Eu, cínica e arrogante
e a este triste dia seguirá outro dia
no qual estarei sozinha comigo
minha melhor companhia
Ó, Azia!
Ó, Azia!
dá-me tua mão companheira e fria,
vamos romper com rimas e simetria
rumo à Verdade
rumo à Beleza
rumo à latrina.

10/07/05

Adivinha quem mandou uma mensagem cretina no meu celular pedindo desculpas? “um cara imbecil,q percebeu q precisava se desculpar c vc,q por orgulho besta fez q vc me detestasse e espera q um dia vc releve a imaturidade dele.” Quem disse fator M, acertou. Coisinha peculiar não? Logo ontem, justo ontem em que eu até esboçava um bom-humor suficiente até pra ir ao supermercado e transitar entre pessoas, chegar em casa e cozinhar, logo ontem o cara resolve que chegou o momento de se desculpar. Claro que não poderia ser algo à minha altura, tinha que ser algo à altura dele: mensagem pelo celular. Ai, meus deuses!, com todos os problemas que eu já tenho me sufocando, ainda tenho que lidar com esse tipo de coisa... Eu joguei pedra, joguei uma que acertou no saco do cabeludo, só pode!
Mas eu disse a ele que o papel de bruxa me caiu bem e que não desculpo porra nenhuma. Até parece que seis meses de escrotidão serão esquecidos e perdoados por conta de uma mensagem estúpida. Foda-se! Que continue se sentindo culpado. Brasília inteira me olhou como uma filha da puta, escrota, destruidora de corações por um tempão. Eu quero mais é que ele chafurde na culpa, que se afogue na culpa. Não sou cristã, não dou a outra face e nem tão pouco perdôo 7x70. Já relevei coisas demais até o ano passado e olha o que sobrou pra mim: o papel de vilã diante dos olhos dos meus próprios amigos, ou melhor, daqueles que eu considerava meus amigos. Se essa merda de estória teve um ponto positivo foi me mostrar que nem todos que eu considerava muito, têm a mesma consideração por mim porque acreditam no chorão, no drama queen do fator M que alardeia aos quatro ventos a sua versão de uma estória que nunca deveria nem ter existido, mas que é mais complexa do que ele diz. Pois esses que acreditaram não são e nem nunca foram meus amigos. Tanto melhor. Seremos apenas “conhecidos”. Não tenho a intenção de tratar ninguém mal, nem mesmo esse infantilóide. Mas eu quero sair tranqüila, sem que ninguém me aborde falando dele, de como ele está triste, de como sofre por minha causa, blá, blá, blá. Foda-se!, não quero nem saber. Eu já tenho muitos problemas e não consigo lidar com o que diz respeito única e exclusivamente a mim, vou dar conta dos problemas de pessoas que fizeram questão me riscar de suas vidas?! Mas seria muito engraçado mesmo! A esse papel eu não me presto. Pelo menos agora ele vai ter motivos mias verdadeiros pra dizer por aí que eu sou uma megera. Quanto à mim, já tenho a fama mesmo, deitarei na cama. Não perdôo, não quero conversa, não quero cumprimentar, não quero nada além de distância dessa criatura que só me deu trabalho.
Por que a gente não pode apagar algumas pessoas da nossa vida? Por que essas memórias imbecis têm que perdurar? Por que a gente não pode simplesmente esquecer que essas pessoas existem e simplesmente desenvolver uma cegueira pra elas? Bem, se os homens interessantes desenvolveram essa cegueira seletiva por mim, por que eu não posso desenvolver esse mecanismo com essas pessoas desagradáveis, infantis e fofoqueiras?
Bem, meus amigos e “conhecidos” que pensem o que bem quiserem a meu respeito, esse daí tá riscado do meu convívio e eu tô pouco me fudendo se sofre, se respira ou se morreu de tédio. Minha vida já exige de mim esforços grandes pra continuar seguindo com esse fluxo triste e patético de um dia depois do outro, não posso eu mesma pôr mais uma dificuldade na minha vida, não posso eu mesma fazer de conta que sou uma pessoa benevolente, “evoluída” e abraçar a quem detesto só pra figurar no rol dos nobres de coração. Foda-se a nobreza! Fodam-se os nobres de coração! Eu sou humana!, sou vil, mesquinha, vingativa e desejo o mal de todos os que me fizeram mal. Não vou, obviamente, empregar minhas parcas e débeis forças tramando planos mirabolantes pra me vingar, nem vou perder minha saliva e meu latim revelando seja lá o que for, vou simplesmente me manter na minha, no meu círculo, vivendo essa vidinha estúpida e sem sentido até me cansar disso tudo, de ter que viver num mundo de brutos, estúpidos, insensíveis, falsos, hipócritas, sem amor. Mas que esses que eu detesto não contem comigo pra nada porque eu não estiro um dedo pra ajudar. Espero que essas pessoas se mantenham sempre assim, distantes. Acho que isso não é pedir muito. Quero distância e isso eu posso impor porque só depende mesmo de mim.

Será que agora o contrato de exclusividade que parecia existir na cabeça esquizofrênica do fator M foi rasgado, ou será que não terei nunca mais sossego nessa merda de cidade pra dispor do meu corpo com quem eu bem entender? acho que só saberei disso com o tempo mesmo. Que merda. Se bem que, existe nessa merda de cidade algum homem que pense? Que realmente pense? Que entenda que as mulheres são seres autônomos, livres, que têm libido, que desejam para além do amor, que podem dispor de seus corpos livremente? Acho que não. Essa mentalidade provinciana e arcaica, machistinha de merda, misógina, ainda está arraigada demais nos homens dessa cidade, desse país, senão dessa porra de mundo. E olha que eu nem sou uma liberal radical, ainda acredito na monogamia, na fidelidade voluntária, nos relacionamentos duradouros. Acho que é realmente uma questão de fé acreditar nessas coisas tão imateriais. Acho que é tão esquisito isso! Eu não acredito em deuses mas acredito no Amor, talvez o mais perverso – porque mais humano – entre todas as coisas imateriais...
Eu deveria focalizar minhas forças, minha vontade, e amar os livros, amar as noites e os dias que estão aqui pra eu ver, pra eu sentir.
Amar a um homem é a coisa mais inútil que uma mulher como eu poderia desejar pois que os homens não são educados pra amar mulheres como eu. Os homens são educados pra amar Barbies, Cinderelas, Belas Adormecidas, Brancas de Neve, Isauras, Julietas, donzelas gentis e submissas, sempre se curvando aos desígnios do Destino, do Mundo e, por fim, de seus príncipes encantados que farão delas esposas, mães, objetos de culto, senhoras de santidade, de candura venerável.
Eu não quero ser esposa nem mãe de ninguém! Eu quero ser Verônica, quero ser livre! Eu quero ser vista e respeitada como um ser humano, uma pessoa, um indivíduo, não como um ventre, como uma progenitora em potencial.
Como querer que um homem se liberte do peso da nossa cultura pra pensar livremente e amar livremente um espírito tempestuoso, heterogêneo, como o meu?
Meus senhores, eu não posso me fazer de ingênua e idiota e pensar que há muitos homens capazes de pensar com suas próprias cabeças, capazes de aceitar verdadeiramente a liberdade individual, capazes de terem tal desprendimento com relação aos pudores e valores com os quais cresceram, ao ponto de largar esses casulos da educação familiar patriarcal e misógina e abraçar um ideal de igualdade entre homens e mulheres. Por mais que eu queira acreditar nessa utopia, meus sentidos, minha estória de vida me impede de me trair a mim mesma e perder mais tempo considerando a hipótese de que todos têm alguém feito só pra si. Isso não existe. É uma mentira romântica que condena as pessoas à frustração eterna, ao inferno em vida de saber que estamos aquém de todas as possibilidades de realização desse amor perfeito, dessa felicidade incomensurável que é o encontro de almas gêmeas. Eu estou condenada a viver com essa falta porque estou nadando contra a corrente do mundo que apregoa a existência de um ser que me completará, que me amará como eu o amarei. Ninguém vai me amar. Também não amarei ninguém. E eu odeio essa idéia escrota de metades que se completam. Eu não quero me sentir mais debilitada do que já sou considerando que sou um ser completo. Eu sou um ser completo e não quero nenhum ser incompleto no meu encalço: quero um homem completinho, com todos os acessórios de fábrica.
Nossa, mas que idéia mais terrivelmente opressora essa de que somos metades... Talvez seja por isso que os casamentos duram tão pouco depois do advento do divórcio... Quando as pessoas se dão conta de que isso é uma grande mentira e que ninguém é metade, e que ninguém tem que empreender essa tarefa hercúlea de preencher os vazios de outra pessoa... Nossa, chega fiquei triste agora. Tenho pena dessas pessoas. Mas tenho pena de mim também. Talvez eu tenha descoberto isso cedo demais... Talvez eu devesse descobrir isso só lá mais na frente porque assim eu teria mais esperanças na vida, mais vontade de permanecer nesse mundo estranho um pouco mais. Por enquanto eu quero permanecer aqui só o tempo suficiente pra não deixar nenhuma pendência de ordem material pra que outras pessoas tenham que pagar pelos meus erros. Mas isso é uma outra estória e vai ficar pra outro dia. Preciso me levantar daqui e fazer alguma outra coisa além de pensar nas minhas misérias. Acho que vou ler um livro.

04/07/05

minha infância e adolescência fizeram com que eu crescesse embrutecida, dura, quase sem esperanças
enquanto fui me tornando adulta, tudo de ruim que me aconteceu, cada episódio ruim, ao invés de me deixar mais forte, teve efeito contrário: enfraqueceu-me, debilitou-me e, agora, diante dos meus vinte e sete anos, creio que estou a um passo do descontrole, da perda do que sempre me foi tão caro: minha sanidade.
agora contemplo em meus vinte e sete anos, parcos, esquálidos, moribundos anos, o declínio final de uma vida de misérias interiores, de privação e rejeição. Tanto melhor. Parto da vida para encontrar Repouso.

03/07/05

três de julho

ah... nome que estala entre meus dentes, reverbera no meu corpo, entontece minha memória...
queria que você me procurasse,
não enquanto estou durmo porque é aí que sempre te acho,
mas enquanto estou bem acordada, braços envolvendo as pernas, queixo apoiado nos meus joelhos
queria ouvir sua voz maliciosa
“quero você”
qualquer dia desses, qualquer dia seria um bom dia pra rever seu sorriso
amanhã seria um dia perfeito se sua voz quisesse ser por mim ouvida
me encolho neste colchão estreito
toco meus lábios
peço silêncio aos meus pensamentos
cale-se tudo
escuto minha respiração sonolenta
escuto meu sangue pulsar
fecho os olhos pra dormir agora, Preto
penso em te encontrar
penso na sua mão na minha
na minha saliva perdida na sua boca
na sua boca...
penso na sua boca, nos seus lábios, no seu sorriso, na sua voz, no seu jeito de falar tão briguento, tão apaixonado
há um fogo em você, menino, que brilha mais que... seu lá, Preto... a chama, as labaredas que dançam nos seus olhos, crepitam na sua língua de fala forte... você irradia essa luz, esse calor e nem se dá conta dos incêndios que provoca, das geleiras que derrete assim, assim meio brincando, meio brigando
Eu era calota polar
Hoje sou oceano
mas sei que, com o tempo, isso passa
é uma pena... eu bem que gostaria de guardar esse sentimento bom comigo, mas sentimentos assim, dessa natureza tão aguda, tão penetrante, fazem mal a pessoas como eu que sonham acordadas
talvez seja por isso que eu durma tanto
lá, noutro mundo, noutro tempo, um homem, sorrindo, me espera
lá, há para mim o Preto que aqui se me faz impossível ter
sim, como não?, Preto... como eu não o quereria possuir, guardar só pra mim? Sou uma mulher possessiva e quero somente para mim aquilo que desejo.
Eu desejo muitas coisas, Preto, mas somente um homem: você.

29/06/05

tem todo esse barulho lá fora me impedindo de dormir
gente gritando e fazendo alarde
ou será só na minha cabeça?
aqui toca “uma batida diferente”
ou será só na minha cabeça?
olho ao meu redor
estou sem óculos e não vejo um palmo à frente do meu nariz
sou míope e astigmática – se é que tal palavra existe –
vai, Verônica, vai ser míope na vida
estou sozinha
estou sozinha no mundo e não enxergo um palmo diante do meu nariz
então invento
eu crio um mundo ao meu redor que eu posso ver nitidamente
só na minha cabeça
acho que minha cabeça é grande
eu gosto de ter cabelo curto
como será que estarei daqui a trinta anos?
pode até ser que eu esteja viva
provavelmente, sobreviverei na memória de algumas pessoas, até mesmo na do Lima que tem péssima memória
talvez eu faça algumas pessoas chorar...
quando eu morrer
será que solidão ainda mata?
tão triste morrer assim, sozinha, numa noite boa de inverno, ouvindo barulho lá de fora
todo mundo morre só, ainda que acompanhado
mas eu não gostaria de morrer numa noite como a de hoje
porque eu me sinto só,
hoje eu sei que estou só,
sei até porque estou só, assim largada ao deus-dará e ele nunca dá nada, mas cobra caro...
espero sobreviver a esta noite
espero sobreviver à vida
será que o que quero é pedir demais?
– pedir a quem, Verônica?
– ao Tempo, ao Destino, à Fortuna, à Vida?!
o que estou pedindo?
quem ouve as preces de uma ateísta?
a quem eu rogo? A quem? A quem?
sim, meus senhores, estamos sós neste mundo, soltos, ao léu nessa vida
e só o Amor justifica toda essa merda
tomara que sim
talvez só na minha cabeçona
não, o Amor é bom, é sim!
amar o mundo é estar vivo
amar as noites, os desertos, até os animais
amar as crianças, os sorrisos, o sorvete
amar abraçar pessoas que amamos
amar as flores
amar
o Amor justifica essa merda de vida?
talvez só na minha cabeça.

...

Imagine a seguinte situação: tem uma banda que você gosta bastante mas não tem grana pra comprar o cd, então você pede pra um amigo piratear pra você. Depois de alguma enrola, ele finalmente te dá o cd e você vibra. Depois de um tempo, uma amiga sua pede o seu cd pirata emprestado e você empresta porque ela é sua amiga, claro. Depois de muitas e muitas semanas, sabe-se lá porque motivo, razão ou circunstância, ela não está mais falando direito com você, tudo bem, afinal as pessoas têm direito de se afastar e/ou se aproximar de quem bem entenderem, é uma questão básica de liberdade individual.
Numa das suas últimas tentativas, depois de mandar várias mensagens que sua amiga simplesmente não respondeu, ela manda uma dizendo que está numas de “dar um tempo de tudo”. Seja lá o que, diabos, isso signifique, podemos ler apenas como “não estou mais interessada na sua amizade, mas também não estou a fim de dar maiores explicações”. Ok, ok, tudo pela liberdade individual.
Depois de mais semanas, o único vínculo sobrevivente dessa amizade parece ser o bendito do cd que você gosta pra caramba e que mal vê a hora de estar nas suas mãos pra poder matar a saudade da sua banda.
Alguns meses depois, faz tanto tempo que você nem lembra se foram dois ou três meses longe do cd, mas, finalmente!, a amiga diz que deixou na loja dos seus amigos como você vinha pedindo há tempos.
Então, numa tarde de quarta-feira, depois de mais um dia trash no trabalho que está cada dia mais trash, depois de reunir todas as suas forças para tentar mais uma vez “o convívio em sociedade” porque, sejamos francos, a maré não está nada boa pra o seu lado, você resolve ir buscar o bendito do seu cd. Chegando lá na loja, você até tenta se distrair com os amigos, dá umas risadas e começa a se sentir “menos pior” por causa dos n motivos que você tem pra se sentir uma droga. Aí você pergunta pra o pessoal cadê o seu cd da sua querida banda que sua amiga, que eles conhecem bastante bem, disse que havia deixado lá. A resposta: “ué, sua amiga não deixou nenhum cd aqui pra você. Quem deixou cd aqui foi aquela outra menina, mas foi pra o fator M.” Aí você pensa no fator M, aquela pessoa que havia dito pra essa sua mesma amiga que não queria que você nem dissesse “oi” pra ele há uns seis meses atrás e que, desde então, você tem evitado sequer lembrar porque foi um cara tão medíocre na sua vida que você simplesmente preferiria deletar terminantemente, porque por mais imbecil e bisonha que seja, é a sua vida (e aí você fica mais puta porque isso acaba revelando que você é carente a ponto de ter se envolvido com uma figura que não tem maturidade nem pra dizer na sua cara que não quer mais falar contigo, seja lá porque, mas parece que isso já está virando um fato recorrente na sua vida: as pessoas simplesmente ficam com essa vontade de não mais falar contigo e ponto final). E aí você pensa nessa pessoa segurando o seu cd, ouvindo o seu cd, que por mais pirateado, barato, lixão que seja, é seu. Você não podendo acreditar no que acaba de ouvir (porque quer acreditar mesmo que se trate de uma piada de péssimo gosto), liga pra sua amiga que diz que a outra menina foi sim deixar um cd pra o fator M e levou o seu junto sim, mas o seu estava num envelope e o dele estava num porta-cd com o nome dele escrito. Agora eu te pergunto: como é que seus amigos iriam adivinhar que o seu cd era pra você se não havia nenhuma identificação que te ligava a ele?! Outra perguntinha básica: qual a real necessidade de mandar o seu cd junto com o cd de uma pessoa que sua amiga sabe que você detesta?!
E depois ainda reclamam porque você é uma mal-humorada escrota que fica dando patada nos outros... Como, me diga, como manter a calma numa hora dessas? Como manter a cordialidade com as pessoas depois dessa?
Agora, o que, diabos, moveu essa sua amiga a vacilar tão enormemente, isso é um mistério e deve continuar a sê-lo porque, se eu fosse você, largaria de mão a porra do cd e a amiga. Já era, cidadão, já era.



primeiro de julho

eu estou aqui no metrô
meu pensamento vai longe
meu desejo está te procurando
minha memória está sento dissecada porque cada registro da sua presença vai preencher uma lacuna no quebra-cabeças do meu corpo esquálido
o céu da tarde
esse céu com esse azul...
hoje é primeiro de julho
queria que fosse o primeiro dia do resto da minha vida
o dia está bonito pra caralho
chega a ser opressor
chega a doer
e o céu nesse tom quente de azul me lembra o seu riso
o calor dessa tarde bonita
me lembra você
“me deixas louca”, a Elis canta pra você
eu suspiro por você
e tudo isso tem o desespero inútil dos amores que nunca se concretizarão
não importam os motivos,
só importa a sua ausência
e a falta se faz mais presente em mim do que...
a vida pode doer tanto num dia tão bonito, Preto...

24/06/05

são 06h30, mais ou menos
tá frio pra caralho
o dia amanheceu
o sol já despontou
a lua continua no céu
acho bonito isso da lua continuar no céu apesar do sol,
serenamente
como quem dá de ombros
toda envolta no delicado azul dessa manhã fria...
na rua, os termômetros marcam 6h37 ▫ 13 Co
eu tô de boa agora, ainda não cheguei no odioso trabalho
não consigo me imaginar fazendo isso por mais vinte anos...
não consigo me imaginar fazendo nada pelos próximos vinte anos

...

e agora, Preto?
minha estória ia andando, andando assim meio cabisbaixa, meio de banda, mas vinha quietinha, sem nem fitar pessoa que fosse.
um dia encontrou de esbarrar com uma outra estória, a sua, Preto, que vinha assim bem de queixo pra cima, mirando o céu, se bronzeando no sol de maio, como bem mesmo tinha que ser e foi assim que se passou porque sua estória é de luta e orgulho, bonita, brilhando feito nem sei o quê de tão linda e preta, como a sua pele mesmo se dá por conhecer pra pessoa qualquer que nem força precisa pra ver que é grande a beleza sua, menino preto.
então chegou que minha estoriazinha tímida tropeçou na sua e caso foi que, Preto, continuando sem nem dar por nada, sua estória passou e nem fez caso de mim que, estoriazinha leve, no chão fiquei.
eu fiquei com esta estória sentada ali onde caímos mesmo, sem entender direito o que aconteceu naquela hora e naquele mesmo momento. nem sabia, nem sabia minha estória, mas você ficou ali também naquela cena perdida em nós, mas caso é que você, José, passou.
e agora minha estória está, coitada, que é só atrapalhação, sem saber que se levante ou que fique ali mesmo prostrada feito fruta recém caída porque não colhida não foi não.
minha estória caiu com a leveza da fruta madura que não se colheu, ninguém, ninguém não colheu não, e o que sucedeu foi de sua estória altiva passar pela minha e, tão frondoso é você, menino preto, preto como jabuticaba madurinha sorrindo no pé, e foi assim tão bonito de ver você passando, preto, que minha estória tombou ao chão.
e agora, Preto, que será da minha estória? você ficou ali com ela, nela mesmo que sente isso pesado dentro lá daquele peito, mas você nem parou não.
acho que isso de ir e ficar é difícil porque a estória continua indo, caminhando, mesmo sem que se dê conta do quanto foi que ficou ali dela mesma paradinha num pedaço de chão numa estrada que está lá pra trás da memória da gente.
e caso é que talvez minha estória nunca veja mais sua estória nas bandas de aqui, onde ela está enganchada numa florzinha dente-de-leão, mas que se há de fazer, meu preto? Que se há de fazer, Preto?

21/06/05

caminho de noite
a noite me envolvendo, me engolindo
sou uma bala de menta na boca da noite
derretendo
vou andando
penso em você
me brota um sorriso no rosto
minha cara pálida
eu sou uma lua presa no chão
eu sou cativa
caminho de noite
sua lembrança me brota no peito
eu queimo toda por dentro
eu tremo
você é negro
como a noite
você flutua na minha cabeça
você não me enxerga
você não me vê
eu derreto na boca da noite
a noite pululante de brilhos
eu caminho
eu derreto
e você não me vê
queria fazer pra você poesia boa
você, sorriso lindo!, merece muita poesia
mas eu não sei escrever
sou analfabeta pra poesia

...

chuva caiu e eu não vi
estive presa
entre paredes
sob concreto armado
e a noite perfumada
eu enjaulada
e a chuva caindo
onde andei pra não ouvir as nuvens?

16/06/05

“pobre menina, não tem ninguém...”
seria tão bom ser querida...
putz, isso é que é carência...
sei lá, acho que estou me acostumando a ficar sozinha. bem sozinha mesmo. Pra mim isso até que é bom porque eu tenho mesmo que me acostumar já que devo ficar cada vez mais só. imagina quando minhas amigas e amigos estiverem tod@s casad@s?! bem, pelo menos já estou começando a me preparar melhor: pretendo ir sozinha, nesse recesso, ao cinema o tanto quanto possível ou necessário. Whatever. Já que não pretendo cometer suicídio (não por hoje), tenho que fazer algo a respeito da vida. Sei que sou dependente demais das minhas amigas e amigos, mas quero e vou mudar. Não pretendo me isolar, de forma alguma, muito pelo contrário, mas preciso me acostumar à idéia de que não poderei contar com o tempo del@s, talvez eu só fale com el@s raramente por e-mail ou ligações esporádicas. Não, não é triste, é a realidade, é a vida. Sei lá porque, mas agora essa coisa de levar uma vida solitária não me pareceu tão triste, tão angustiante quanto ontem, quando achei que fosse desmaiar de tanta tristeza... (acho que nasci no século errado, acho que eu seria uma ótima poeta Romântica da terceira geração, pois não?) mas agora, agora mesmo, agora, agora não. talvez eu morra antes dessa solidão total. Talvez eu nunca me sinta imersa nessa solidão total porque eu sempre terei colegas de trabalho, parentes e – meus favoritos nos momentos de solidão – a música e os livros.
Talvez eu sinta sempre, mesmo que com enorrrrrmes espaços de tempo, essas pontadas de emoção, esse nervosismo, essa coisa desajeitada e boba que é achar que alguém gosta de mim... mesmo que esse sentimento bom de esperança siga-se à certeza de que eu sou ridícula... ah, foda-se. Nem eu posso ser infeliz 100% do tempo... alguma parte fica reservada pra apatia, outra pra o ódio, e umas fraçõezinhas de alegriazinhas minúsculas e efêmeras.

...

Eu sei que ele não gosta de mim. Eu sei disso. Meu intelecto grita isso. Mas eu vou fazer de conta que sou eu e vou pra casa mais leve. Vou olhar a lua. Vou querer lamber as estrelas e levar choques na ponta da língua, beeem de leve. Choques não, é como quando tomamos vitamina C efervescente e sentimos aquelas cócegas na língua. É, é isso: vou lamber as estrelas e sentir cócegas na ponta da língua. Vou beijar a lua, acariciar a noite. Vou acariciar seus cabelos prateados, penteá-los com meus dedos magros. Vou mergulhar meu corpo esquálido na noite macia. Tão macia quanto a idéia de que alguém pensa em mim. Eu vou fazer de conta que alguém pensa em mim no seio da mais profunda noite. Ele pensa em mim porque eu quero. Eu quero. Eu quero. Foda-se o saber, viva o querer!